esqueletos e memórias

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Você se finge de desentendido, e anula tudo que eu era na sua vida antes. Eu te ama. Eu te defendia e me tornava a garota que você precisasse que eu fosse, em um minuto. Eu engoli tanta coisa por você. E você preferiu me dar às costas quando eu implorei que você ficasse. Você sabe que eu fiquei triste, mas aguentei cada minuto infernal da minha existência sem você. Não foi fácil, foi tropeço seguido de tropeço. Eu não vivia. Eu caí, e fiquei no chão, sabendo que ninguém iria me levantar. Então, eu respirei fundo e me levantei sozinha, e continuei em frente, sobrevivendo. Amenizei sua ausência com tudo que eu ainda tinha (fotos e frases prontas); eu chegava em casa mais cedo, dormia um pouco mais, tudo para evitar pensar. Eu não podia ter tempo livre. Mentia para minhas amigas, dizendo estar bem. "Estou superando". Mentira. Uma revolta incansável, ser feliz já não parecia mais uma opção, uma vida inteira sumia a cada minuto em uma imensa solidão.

Eu me tornei um campo escaço e vazio de sentimentos. Que existência fútil, inutilizada por alguém que estava sendo feliz sem mim, que modo desastroso de estar vivo. E agora, depois de um tempo, você vem, com essa cara de cínico, e me diz que precisa de mim. Fica batendo na minha porta, insistindo. Olha, eu não tenho medo de me entregar, não! Eu te amei por mil anos e poderia te amar por mais mil. Sim, eu poderia me arriscar, outra vez. Poderia seu "quer-bem", sua companhia e seu "amor".

Eu poderia…

Mas eu não quero, e não sinto muito por isso.

Sei que há beleza em você, apesar de tudo. Mas cada momento que passei sofrendo pela sua partida, de todas as vezes que te amei antes de mim, de todas as vezes que me ajoelhei encostada à porta, em prantos; de todas as vezes que vi o sol nascer por imaginar mil e uma coisas ao seu lado. Tudo que você me fez passar, me levou a ser quem você vê. Nunca fui a melhor pessoa do mundo, meus erros não eram tão justificáveis, mas meu amor era sem explicação. Hoje eu vivo com a certeza de que, não importa quão perfeito o momento pareça, nada é exatamente tão belo assim. Eu aceitei suas rosas, cegada pelos espinhos... Eu estava focada nas raízes que você plantou em mim e nas memórias que você me deu.

O tempo todo eu acreditei que te encontraria assim, sozinho, precisando de mim. O mundo girou. O tempo trouxe o seu coração de volta. Eu te amei por mil longos anos, e poderia te amar por mais mil.

Mas por amor a mim, ao meu caráter,
e em consideração a todas
as feridas que cicatrizaram,
e por aquelas que ainda doem,
eu não vou me prestar a isso.

Você não vai ressuscitar as borboletas
que ainda vivem em mim. Deixe os esqueletos delas
aqui dentro, pra eu me lembrar a nunca
mais ser a otária que eu fui.

[sabe, eu te amo...
Só não gosto mais de você].

textos crueis (Leia-me Se For Capaz)Onde histórias criam vida. Descubra agora