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Não sei, só acho..

Um dia eu tive a impressão de que o amor tinha
chegado. Meio súbito, meio sem jeito, meio calado. E
aquele sentimento veio tomando conta feito nuvem
preta no céu em dia de temporal. 

Começou um vento
forte dentro de mim, uma sensação de inquietude. 

E
minhas noites não foram mais iguais. 

Ficava
esperando um sinal, uma marca, uma tatuagem.
Alguma coisa que me dissesse que, sim, seria bom e
duradouro.


Eu queria gritar, pedir socorro, mas a voz não
chegava até a boca, não conseguia emitir nenhum
som.

 Eu queria viver, sentir, saber, conhecer mais de
perto aquilo que não tinha um nome certo, mas que eu
queria que fosse amor. 

A gente quer que seja amor
sempre. 

Acho que isso acontece porque a gente quer
viver uma coisa bonita, uma coisa que todo mundo
nessa vida diz que vive ou já viveu.


Quer saber um segredo? As pessoas mentem. 

Nem todo
mundo viveu um amor. 

E não é todo mundo, desculpa
a franqueza, que vai ter a chance, a sorte, a ousadia
de viver um sentimento tão puro como esse.

 Eu queria
de uma forma meio desesperada que fosse amor.

 E
dizia que era. 

Até sentia que era. 

Sentia porque eu
queria, muito, sentir.

 Mas, olha, não era.

 Não era,
não foi.

 A gente não foi tudo aquilo, não. 

Aquilo era
uma paixão forte, uma coisa que me tocou, me mexeu,
me revirou, chegou sem fazer barulho, pé por pé e
depois fez um estardalhaço grande aqui no meu
peito, na minha vida, nos meus dias, nas minhas
noites. 

Aquilo quase me destruiu por dentro e por
fora.

 Acho que você não entende direito o que quero
dizer, mas quem já viveu uma paixão violenta e
arrebatadora sabe do que estou falando. 

Dói, ai,
como dói.

 E arrebenta por dentro. Arrebenta feito
balão de festa. Estoura, entende? Estoura e não
sobra nada, não sobra um pedacinho pra contar
história.

 Aquilo é feito um vaso bonito e caro, que se
parte em vários pedaços e muito, muito tempo depois
de ter varrido a sala você encontra um caquinho
naquele canto do sofá.

 Não, ninguém viu. Você varreu
o melhor que podia, mas deixou aquele caquinho
passar. E aquele caquinho traz de novo todas aquelas
recordações que você pensou ter esquecido. 

Aquele
caquinho traz aquele pedacinho que não tinha sobrado
nem pra contar história.

 Então, as histórias
aparecem... Uma de cada vez, uma
em cada lugar da longa fila. 

Uma que vem depois da
outra. Uma que chega, te dá um pontapé e chama a
outra.


No fundo era medo. Era um medo tremendo de deixar
alguém chegar até onde ninguém tinha ido. 

Era um
medo de ir até onde nunca fui.

 Era um medo
profundo de perder a identidade, perder a hora, a
cabeça, as verdades. 

Que besteira. Meu Deus, que
besteira enorme!

 O amor chegou sorrindo.

 Sem gritar,
sem calar, sem ponto de interrogação.

 O amor trouxe
reticências. Algumas vírgulas. E muitos parágrafos. O
amor trouxe novas folhas brancas.

 E pele, aconchego,
abraço. O amor é um abraço apertado. Um beijo na
testa. E uma mão firme que te ampara a todo
instante.

 O amor é compreensão, é olho no olho, é
promessa que cumpre, é voz que não gagueja, é
quietude, segurança. É impossível esquecer um amor.
E, sabe, sou daqueles que acha que amor mesmo,
amor de verdade a gente só vive uma vez.

textos crueis (Leia-me Se For Capaz)Onde histórias criam vida. Descubra agora