deux

5K 567 529
                                    

O som inconfundível de um carro se aproximando corta a silenciosa manhã. Harry ergue os olhos de sua câmera, distraidamente olhando para o conversível vintage que para a alguns metros atrás da mini van de Eve, seus olhos se alargando e seu ritmo cardíaco aumentando quando ele reconhece Louis por trás do volante, sorrindo e definitivamente não um pesadelo febril de Harry.

A manhã seguinte ao jantar chegou para Harry em uma dor de cabeça e mal-estar por todo o vinho, além da consciência da noite em si que o fizeram desejar ter bebido o suficiente para esquecê-la. Em todas as vezes em que Eve falava sobre o seu sobrinho, ela era vaga ao mesmo tempo que o elevava em seus elogios, e apesar de Harry por vezes ter pensado e no mesmo momento ter descartado a ideia, ele não esperava que Louis, o seu Louis e toda a bagagem emocional não resolvida ou superada, estaria ali.

Foi um choque mais que claro, que fez de seus sentimentos um caos total ante o peso emocional de lembranças e sentimentos adormecidos. Sob a luz da manhã seguinte e sozinho, parecia vergonhoso a seu ver o modo como ele agiu, contradizendo os últimos anos em que acreditou ter amadurecido e que, na imagem perfeita em que ele encontrasse Louis novamente, ele não seria o homem irritado e afetado pela sua presença como na noite anterior.

Nos dias seguintes Harry saiu menos do chalé e tentou escreveu mais, o som do carro na estrada em frente ao chalé em direção a Château le Corbet e as luzes na mesma acesas a noite uma indicação clara de que Louis estava no vilarejo. Ele não o estava evitando, apenas procurando a garantia de que no próximo encontro, ele poderia exterminar a imagem do anterior e parecer mais em controle de si mesmo. Mas enquanto Louis caminha pela calçada em sua direção, parecendo melhor do que alguém deveria em uma alvorada, ele quase pode sentir seu plano escorrendo entre seus dedos.

- Louis! – Eve diz assim que o vê, beijos ternos em suas duas bochechas e os olhos de Louis assumem uma suavidade enquanto olha para ela. - Bonjour, mon amour! Je suis tellement content que vous puissiez venir. (Bom dia, meu amor! Estou tão feliz que você pôde vir.)

- Bonjour, Eve, et bien sûr j'étais venu! Comment me manquer? (Bom dia Eve, e é claro que eu iria vir! Como poderia perder isso?) – Harry permanece onde está, suas mãos segurando mais firmemente a câmera quando Louis se volta para ele, sua voz e lábios envolvendo as palavras quando diz: - Je vois que cette année, nous aurons plus d'entreprise. Bonjour, Harry. (Vejo que esse ano teremos mais companhia. Bom dia, Harry.)

- Você vai? – Harry diz em inglês, um segundo depois acrescentando: - Bonjour, Louis.

- Sim, eu vou. – Louis responde, um sorriso condescendente em seus lábios. - Alguma objeção quanto a isso?

Segundos de silencio se seguem em que eles se encaram, nenhum dos dois parecendo dispostos a desistirem primeiro enquanto os níveis de tensão sobem. Nesse momento, parece impossível para Harry não sentir os primeiros resquícios de raiva em paralelo ao restante de bom senso.

- Não. – Harry finalmente diz, um sorriso de lado se abrindo e a certeza de que as próximas horas serão no mínimo interessantes.

Quando Eve o chamou para a ir a Grasse, os campos floridos e toda a novidade de ir a uma cidade histórica foram demais para Harry sequer considerar a ideia de recusar. Com a certeza de que a câmera está com bateria e memória suficientes, Harry a coloca junto as outras coisas em sua mochila e nem mesmo - muito obviamente e Eve com certeza orgulhosa de si mesmo e seus arranjos - ter que ir com Louis em seu carro foi o suficiente para ele desanimar.

A primeira meia hora a caminho da cidade passa com o dia começando ao redor deles, a capota do carro abaixada e o vento no rosto, a música alta e olhares fugazes.

Clair de Lune • l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora