A biblioteca estava impregnada com o odor das rosas, a brisa suave entrando pelas janelas e balançando as cortinas em um som suave, espalhando o rico perfume pelo cômodo. O som das abelhas e a relva soava ao fundo, como as notas harmônicas e melancólicas de um órgão distante.
Sob um dos sofás, Harry se apoia contra as almofadas, em suas mãos um livro. Ele corre os dedos sobre a capa, a lombada e as folhas amareladas, o constante uso e anos claros e sentidos nas pontas dos dedos. Livros antigos sempre lhe foram objeto de fascínio, palavras que ultrapassam décadas sobre a mesma folha e incontáveis mãos aos quais o mesmo livro um dia lhe foram seu centro.
Ele não sabe exatamente que horas são, mas o tempo não passou a importar tanto assim que ele passou pelas portas da biblioteca de Louis e as prateleiras de livros altas e convidativas foram tudo o que ele gostaria de se importar por enquanto.
Harry deixa o livro de lado, junto a pilha cada vez maior que ele irá levar emprestado. Ele volta seus olhos para Louis, na outra extremidade do sofá com um livro em mãos, o som silencioso das páginas sendo viradas enquanto Harry apenas olha, inconscientemente mordendo o lábio inferior.
- Você quer me perguntar algo? – Louis não levanta os olhos do livro, mas Harry pode ver um pequeno sorriso em seus lábios.
- Qual livro você está lendo?
- Apenas comecei O Retrato de Dorian Gray.
- Hm... – Harry murmura. – "Nada pode curar a alma a não ser os sentidos, assim como nada pode curar os sentidos a não ser a alma."
- É a sua citação favorita deste?
- Uma delas. – Harry concorda. – Qual é a sua?
Louis sorri, olhando para Harry rapidamente antes de se voltar para o livro, lendo: - "Mas o homem mais corajoso entre nós tem medo de si mesmo. A mutilação do selvagem sobrevive de modo trágico na abnegação que arruína nossas vidas. Somos punidos pelas nossas recusas. Todo impulso que nos esforçamos para estrangular fica remoendo na mente e nos envenena.
- "O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, pois a ação é uma forma de purificação. Nada permanece, a não ser a lembrança de um prazer, ou o fluxo de um arrependimento". – Louis continua, sua voz melodiosa e baixa: – "A única maneira de livrar-se de uma tentação é ceder a ela."
Como se capazes, as palavras refletem nos batimentos altos nos ouvidos de Harry. Louis volta-se para ele, e querendo acreditar ou enganando-se, seus olhos carregam mais do que uma simples citação de um livro poderia ser capaz.
Harry sorri, seus olhos acompanhando o movimento quando Louis lambe os lábios, nem mesmo tentando disfarçar quando seus olhos continuam sobre os lábios rosados. Foi fácil demais deixar a negação de lado e admitir que a essa altura, ele quer Louis, beijá-lo como ele quer agora, com as palavras de Oscar Wilde ecoando em seus pensamentos.
- Acho que se fossemos citar tudo neste livro... – Harry começa, seus olhos desviando e encontrando os azuis esperando por ele. – Passaríamos o dia com isso e provavelmente terminando nos pescoços um do outro.
- Você acha?
- Sim. – Harry sorri, levantando-se, sabendo que os olhos de Louis o acompanham enquanto ele para em frente a lareira. – Ele tem muita opinião, por assim dizer, mas isso não quer dizer que concordamos com tudo o que lemos, apesar de gostarmos. Estou certo?
- Sim. – Louis responde. Harry apoia suas mãos sobre a cornija da lareira, seus olhos em uma fotografia de família, rapidamente reconhecendo Louis em meio a tantos rostos femininos. – Mas eu gosto.
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Clair de Lune • l.s.
FanfictionUm vilarejo particularmente isolado em Provence, no sul da França, pode não ser a primeira opção de viagem de modo geral, mas para Harry o local parece perfeito em sua busca por superar o declínio criativo dos últimos anos. Mas a bela região traz...