Adeus?

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"Aquela foi de longe a melhor noite e com toda certeza o melhor aniversário também, quando chegamos todos na casa do Rafa de novo havia um carro estranho parado na frente da casa, assim que saímos dos carros a porta desse carro foi aberta e de lá desceu quem eu tanto temia ver, meu pai."

...

- Eu sabia que te encontraria aqui, deu pra aproveitar mais um pouco essa sua palhaçada? Podemos ir pra casa agora? - o homem disse se aproximando de nós 4.

- Pai... não tem nenhuma palhaçada aqui, eu não vou voltar pra casa, eu não posso, minha casa é aqui, sempre foi, eu tenho meu irmão, tenho amigas e tenho um emprego pai, o emprego dos meus sonhos, eu não vou deixar tudo isso pra trás.

- Acabou o discurso? De jeito nenhum eu vou te deixar no meio de pessoas que não valem nem o chão onde pisão, não foi pra isso que eu te criei todos esses anos Naomi - ele tentava demonstrar uma calma que ele realmente não tinha.

- E você me criou pra que? Pra ser alguém como você? Não obrigada, eu passo - pude sentir a mão do Rafa entrelaçar na minha e vi o olhar do meu pai cair até as mesmas.

- Com quem você acha que está falando, eu sou seu pai e você me deve respeito. Nunca se dirigiu a mim assim, como eu disse você está rodeada de más influências e isso já está te afetando - pude ver o Rafa se movimentar para retrucar mas eu apenas apertei sua mão em sinal de que não valia a pena.

- Eu sou mulher o suficiente pra ser quem eu sou e não precisar de ninguém pra moldar minha personalidade, essa é quem eu sou, quer você queira ou não. Agora se o senhor me dá licença, estamos no meio da rua e estamos atrapalhando os vizinhos, você já pode ir - ele negou com a cabeça e seu olhar era puro ódio. Ele chegou mais perto e puxou meu braço com tanta força que minha mão e a do Rafa se soltaram com brutalidade.

- Você ainda é minha filha e eu ainda mando em você. Mas eu vou te dar uma escolha, você tem até amanhã pra decidir o que quer da sua vida, eu vou estar te esperando no aeroporto, se você não aparecer pode se considerar órfã de pai - a dor do aperto em meu braço não era nada perto da dor de ouvir suas últimas palavras, as lágrimas finalmente desceram naquele momento. Eu apenas me soltei dos seus braços e entrei o mais rápido que pude na casa, eu estava tão perdida que nem sentia minhas pernas correrem escada acima, eu apenas entrei em meu quarto e me tranquei no banheiro colocando toda aquela angústia pra fora. A cada jato de vômito eu me sentia mais e mais enjoada. Agora eu já não tinha mais controle das minhas lágrimas, elas desciam sem parar.

- Naomi, você está bem? - era o Rafael - Ei, abre a porta deixa eu cuidar de você.

- Eu quero ficar sozinha, só me deixa sozinha por favor - eu dizia tudo entre soluços.

- Eu não vou te deixar sozinha agora, eu prometi cuidar de você lembra? Me deixa fazer isso.

- Agora não, eu não quero olhar pra ninguém, eu não quero falar com ninguém, só preciso desse tempo sozinha. Amanhã a gente conversa - encostei na parede de frente para o vaso e abracei minhas pernas.

- Tudo bem, mas por favor, não faça besteiras aí dentro - e eu sabia do que ele estava falando. Há um tempo atrás Amanda percebeu uns cortes em diferentes partes do meu corpo, sim eu me cortava eu não vou negar, e ela resolveu contar para o Rafael, ele quase pegou o primeiro avião para ir atrás de mim no mesmo dia, mas eu prometi que não faria mais e eu realmente cumpro minhas promessas.

- Assim como você prometeu eu também prometi lembra? Não se preocupe eu só preciso colocar minha cabeça em ordem - ele apenas concordou e saiu do quarto.

Eu fiquei belos 20 minutos ali sozinha, apenas eu e a bagunça da minha cabeça naquele banheiro, mas logo eu ouvi uma batida de leve na porta, achei que estava ficando louca então nem dei bola, mas uma voz se pôs a falar logo em seguida.

- Sei que queres ficar sozinha e não vou te tirar isso, só quero que saiba que eu estarei aqui, de frente pra essa porta e de braços abertos quando quiser sair - e mais uma vez ali estava Gabie pronta para cuidar de mim.

- Você não pode ficar aí a noite toda, você tem que ir pra sua casa dormir.

- Dormir é o menos importante agora, Thali está cuidando do Rafa e eu quero cuidar de você - ela fez uma pausa mas logo continuou - eu vou ficar aqui o tempo que for preciso - eu não a deixaria ali à noite toda e tudo que me acalmaria agora seria seu abraço.

Levantei daquele chão, arrumei meus cabelos, escovei meus dentes por conta do vômito de antes e abri a porta. Ela se levantou do chão e me analisava como se quisesse ter certeza de que eu estava bem, antes que ela terminasse sua análise eu apenas me joguei em seus braços e a abracei com força. Eu não disse nada, ela não disse nada, apenas ficamos bons 10 minutos abraçadas ali.

- Vem, não vamos ficar em pé à noite toda - tirei meus tênis e fiz um sinal para que ela o fizesse também, segurei sua mão e a levei até a cama, me deitei e ela se deitou de frente pra mim, me aproximei mais e voltei a abraçar seu corpo contra o meu, coloquei meu rosto em seu pescoço e apenas fiquei ali sentindo seu cheiro tão bom.

- Me desculpa por toda aquela cena que você teve que ver - eu falei tão baixo que achei que ela nem tinha ouvido.

- A culpa não foi sua, não se preocupe com isso - ela fazia um cafuné maravilhoso em minha cabeça e eu já estava quase dormindo quando ela falou novamente - Você me disse no outro dia que eu te achava uma pirralha mas você está enganada. E hoje mais do que nunca eu tenho a certeza de que você é uma MULHER incrível - levantei minha cabeça e olhei no fundo dos teus olhos, ela parecia tão verdadeira e aquilo fez eu realmente me sentir orgulhosa de mim.

- Obrigada eu... - parei sem saber o que dizer e em seguida eu fui pega completamente de surpresa pelos lábios dela contra o meu, ela me beijou dessa vez, não pude evitar sorrir contra eles e aprofundar aquele beijo mais uma vez.

Pude sentir meu corpo se animar conforme íamos nos beijando, dei uma pausa no beijo ainda de olhos fechados e com nossos lábios próximos uns dos outros, acariciei sua nuca e depois de recuperar o fôlego perdido consegui dizer.

- Isso não está dando certo - eu disse rindo fraco e ela ficou sem entender - Se eu continuar te beijando eu não vou ser capaz de responder pelos meus atos.

- Que seriam? - o tom dela era desafiador, ela adorava me provocar, essa não era a primeira vez, essa mulher ia me deixar louca qualquer dia.

- Acabaríamos nuas nessa cama no final da noite - disse dando de ombros, como se nada fosse nada e ela riu.

- Vá em frente - ela ainda me olhava com aquele mesmo olhar desafiador, como se não acreditasse que eu seria capaz.

- Você já pegou alguma outra garota na vida? - perguntei enquanto a deitava de costas na cama e sentava em cima das suas pernas. Ela negou enquanto observava tudo que eu fazia - E você quer que eu seja a primeira?

- Você quer ser a primeira? - sorri de canto com sua pergunta.

- Mais do que tudo nessa vida - falei tão animada que aquilo a fez rir e sua risada me fez sorrir mais uma vez.

Inclinei meu corpo sobre o dela e selei nossas lábios iniciando mais um beijo lento e cheio de carinho. Eu iria deixar tudo acontecer naturalmente e tudo no tempo dela, se não fosse pra ser naquela noite eu não me importaria de esperar, só o fato de ela confiar em mim já era o suficiente pra mim. Bom, realmente não foi naquela noite que aconteceu, trocamos apenas um amasso ou outro e nada mais. Mas foi naquela noite que eu tive a certeza de que eu poderia viver e ser muito feliz mesmo que meu pai me odiasse pra sempre.

Just A Little BitOnde histórias criam vida. Descubra agora