Prólogo

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Eu estava ali, frente a sua cama olhando o seu corpo imóvel e ouvindo o som estridente e ligeiramente irritante da máquina ao seu lado bombeando ar para seus pulmões debilitados. Sua pele estava tão pálida quanto a parede branca daquele quarto, sua respiração era fraca, seus lábios antes tão rosados agora estavam quase azuis e levemente ressecados.

Me perguntei silenciosamente como chegamos a isto, como pude permitir que ela se encontrasse nessa situação. Me culpava todos os dias por não ter previsto de alguma forma o que lhe aconteceria, me perguntava como os dias seriam se sua recuperação não fosse possível.

Taeyeon, minha doce Taeyeon, estava em coma por um horrível acidente que eu tinha provocado com discussões que agora não significavam nada.

Seus olhos antes tão vívidos e alegres, hoje sem vida alguma enchiam o silencioso quarto de hospital. Já tinha perdido a conta de quantas vezes estive ali chorando por seu corpo imóvel e me perguntando se veria seu sorriso novamente.

Fui interrompida dos meus pensamentos por um som que vinha da porta do quarto, que se abriu e logo em seguida se fechou. Não precisei olhar para saber quem era, seu perfume sempre a entregava, Doutora Kim Hyoyeon. Seus olhos me olhavam sempre com pena, tanta que pude sentir transbordar do seu corpo para o meu. Ela tinha papéis nas mãos o que com certeza eram resultados de exames da Taeyeon, e só pela sua feição eu já podia saber o que viria pela frente. Voltei meu olhar para o corpo frio a minha frente, segurando a sua mão levemente quase implorando em silêncio que mostrasse algum sinal de que ainda estava ali, de que ainda estava ali por mim. Mas como das outras vezes, nada aconteceu, nenhum movimento, nenhum sinal, nenhuma esperança.

Os olhos de Hyoyeon ficavam indo e vindo de mim para Taeyeon, acho que ela tentava encontrar as palavras certas para me dar a mais nova má notícia, foi quando sua boca entre abriu e eu suspirei para ouvir a minha sentença.

—Tiffany... os resultados.. não foram bons. - Sua voz estava baixa e arrastada. Isso me fez suspirar novamente como se eu tomasse forças para responder algo. 

 —Nunca são, não é mesmo? - Sorri fracamente, podia sentir meus olhos doloridos de tantas lágrimas que desciam sem permissão.

—Tiffany, por favor, não fale assim. Sabe que estamos fazendo todo o possível para que Taeyeon acorde mas já se passou tanto tempo... Não é algo que possamos controlar. O corpo dela se curou mas por algum motivo, o seu cérebro ainda não. - Ela tentava me explicar a situação com a doçura de quem explica a uma criança. Apenas dei de ombros ainda fitando o rosto de Taeyeon. Ela continuou.  —Talvez você devesse... - Ela parou por um momento, suas mãos ficaram inquietas e ela tinha um olhar nervoso.

—Talvez eu devesse... desistir ?! É isso o que quer me dizer, Hyoyeon? - Eu a encarava com certa raiva, como ela podia sugerir um absurdo desses, como ela podia achar que eu desistiria de Taeyeon? - Não posso desistir dela, ou eu estaria desistindo de mim mesma. - Falei por fim.

—Tiffany, veja bem, já se passaram 2 anos desde o acidente. Ela já devia ter acordado mas isso não aconteceu, os exames mostram cada vez menos atividade cerebral, ela está respirando com ajuda de aparelhos, e você.. Você está se deixando morrer com ela. - Suas palavras me atingiram como um tiro à queima roupa, ela nunca tinha usado a palavra "morrer" em todos esses anos. Por um segundo ela parecia tão cansada quanto eu.

—Desde que Taeyeon deu entrada nesse hospital a 2 anos atrás, você não come adequadamente, não dorme, não estuda, não sai daqui, você não vive, Tiffany. Eu diria que você já desistiu de si mesma. - Mais um tiro foi dado, faltava pouco para eu explodir com ela.

—E o que você sugere, hum? Que eu saia por aí e seja feliz com minhas amigas como uma pessoa normal enquanto quem eu mais amo está inconsciente presa em uma cama de hospital ? Acha que eu consigo conviver bem com isso? - Quase cuspi as palavras. —Acha que posso viver bem sem ela?

Ela apenas respirou fundo com seus olhos tristes, me olhou por alguns segundos e logo me deu as costas caminhando até a saída, suas mãos na maçaneta já pronta para me deixar novamente sozinha com o silêncio. Foi quando ouvi um sussurro, algo quase inaudível de uma pessoa tão esgotada psicologicamente quanto eu.

—Ela te amava... mais do que tudo. Não ia querer que se destruísse por ela.

Nada respondi, apenas fiquei encarando o quarto vazio.

Der repente uma grande tristeza me atingira, ouvir aquelas palavras me fizeram abrir os olhos para a realidade que estava a minha frente, talvez Hyoyeon estivesse certa, talvez Taeyeon jamais acordasse do seu coma. Mas como eu viveria com a culpa de ter sido eu quem autorizasse a sua morte? Já era difícil o bastante ser também a culpada por ela estar nessa situação. 

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