Capítulo 24

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-Acorda, acorda, vamos acorde- escuto alguém gritar- ela não está acordando, o que eu faço?

-Se vira, ela tem que acordar- escuto o outro responder, e sinto um tapa na minha bochecha fazendo ela arder, e meus olhos se abrirem.

-Só assim para você acordar não é princesinha? Dormiu bem? Ou devo dizer conseguiu dormir? - o homem baixo pergunta e não respondo.

-Ainda não aprendeu que se deve responder e ter respeito a nós. Sua mãe não te ensinou isso não? A é verdade, sua mãe está morta- ele diz rindo, e mantenho uma expressão neutra, mesmo que por dentro o abismo que começou a se formar esteja cada vez maior.

-Eu apreendi sim, a ter respeito com aqueles que merecem, e acho que sequestrar alguém não é um ato digno de respeito.

-Arriscar a própria vida em vão também não é algo de respeito.

-Arriscar a vida em prol de algo que valha a pena é um ato de altruísmo e não de falta de respeito ou impulsividade. - O respondo

- Sua opinião é tola e não tem valor para nós. Então princesinha, vou te oferecer outra chance, vai querer comer a sopa ou não? - ele me pergunta e analiso as mudanças na casa e no tempo lá fora, está chuviscando e percebo duas espadas sumiram da estante.

-A minha resposta continua a mesma- respondo e ele me dá mais um tapa.

-Você sabe que vai ter um preço se não aceitar, e esse preço pode machucar aqueles que você insiste em continuar amando, quer continuar com sua resposta? - ele me pergunta, e penso que tudo aquilo pode ser um tipo de ilusão que talvez ninguém esteja realmente machucado, mas o que eu tenho a perder, pela insistência deles, a sopa está envenenada, devo aceitar esse preço.

-Sim, minha resposta continua a mesma.

-Tola jovem, vai mesmo colocar a vida daqueles que tanto ama em risco? Então não deve ama-los tanto, mas como já sabíamos qual seria sua resposta, preparamos um desafio.

-Que tipo de desafio? - pergunto desconfiada.

-Sabemos que sabe atirar muito bem com arco e flecha, sabemos que aprendeu a usar uma espada, então lutarei contra você, se eu vencer, meu amigo que já achou seus queridos amiguinhos os mata, se você vencer deixaremos que tenha roupas melhores, e a própria faça sua comida, então levante-se vamos lutar.

-Não sei se percebeu, mas estou amarrada nessa cadeira, como vamos lutar assim? - pergunto vendo as cordas que me prendiam.

-O desafio começa aí, se solte enquanto eu pego as espadas, se não se soltar até lá, perdeu- Ele diz e analiso como posso me soltar, olho ao redor não tem nada que possa cortar as cordas, mas a cadeira é fraca suficiente para poder quebrar, balanço ela de um lado para o outro até ela cair e se quebrar no chão, fazendo com que eu conseguisse me desamarrar das cordas e pegar uma espada.

-Que bom que conseguiu se desprender, vou adorar te vencer princesinha, mas a luta não será aqui, e sim lá fora.

-Está chovendo- digo a ele.

-Melhor ainda- me responde saindo daquele lugar, tenho dificuldade para me mover, e a espada parece pesar o dobro de antes, analiso o lugar em minha volta, a casa imunda, em baixo dela alguns pedaços de madeira, ao redor neblina, mas sei que a arvores ali, o ceú está cinza e a grama escorregadia por conta da chuva.

-No três, começamos- ele me diz e posiciono a espada como Cate me ensinou.

-Um- ele diz lembro da primeira vez que lutei, da primeira vez que toquei em uma espada, como aprendi a me defender.

-Dois- ele conta, lembro de quando consegui vencer de Miguel, de como ele me ajudou a ser uma boa esgrimista e como suas dicas eram ricas de técnicas novas.

-Três- ele termina, lembro de Cléo dizendo como canalizava a falta de seu filho perdido, de como se sente frustrada com um casamento sem amor, e como queria ter dezessete anos outra vez. E é isso que eu faço, canalizo a saudade de todos, a perda de Katherine, a falta de informações, a falta de sono, o frio, a fome, a fraqueza, o medo. E defendo o ataque do homem a qual eu ainda não sabia o nome, ele tenta meu braço ferido mas desvio, tento atacas suas costelas, mas ele se defende, ele tenta me atacar diversas vezes utilizando mais a força do que a inteligência, e eu aos pouco recuo defendendo e tentando sair daqui viva, ele consegue acertar a espada de raspão na minha barriga, fazendo um corte relativamente profundo, mas tento derrota-lo, miro a espada na altura do seu pescoço, logicamente ele se abaixa desviando, e abaixando sua guarda por um instante, eu aproveito e coloco meu pé no seu ombro o derrubando, jogando a espada para longe e apontando a minha para seu pescoço, fazendo um corte onde eu sei que não mata, mas a pessoas desmaia tempo suficiente para eu fugir. Porém quando estou prestes a começara correr escuto um galho sendo quebrado, me viro para trás já imaginando quem é, e para minha não surpresa o homem mais alto aparece, me atacando por cima usando a mesma tática que usei em seu amigo, pelo menos sei que meus amigos devem estar bem, tenho que me abaixar, me desequilíbrio e caio para trás, acabando por estar deitada na grama molhada, ele não tenta me fazer desmaiar, é lento e isso me dá segundos suficientes para conseguir puxar uma madeira de debaixo da casa e impedir que minha cabeça fosse cortada ao meio. Mantenho a madeira em protegendo do seu ataque, mas sabendo de que estou fraca, sem comer a dias, rolo para o lado, jogando a madeira para longe sentindo a espada fincar na grama próxima ao meu corpo, levanto puxando a espada, enquanto ele a retira da grama, como tinha dito anteriormente ele não era tão rápido quanto eu, aproveito que ele está tentando pegar a espada e o golpeio na barriga, fazendo um enorme corte, ele caí no chão pressionado a barriga, enquanto eu corro para dentro da casa, pegando meu colar de lua, e uma adaga da estante. Corro para fora, olho o homem e ele está começando a se erguer, sinto os pingos de chuva caírem ao meu redor, e saio em disparada a floresta, sem ver para que lado eu vou, muito menos tento olhar para trás, corro, tentando ser o mais rápida possível, corro por tempo suficiente para o dia já escurecer, conseguindo chegar a um lago, me sento próxima a ele, descansando e tentando focar minha visão para não desmaiar, tomo muita água do lago, e me deito sobre a grama molhada sentindo os pingos de chuva caírem sobre mim, acabando por dormir.

Acordo assustada, pegando a minha adaga e indo em direção ao barulho que vinha do outro lado do lago. Não consegui identificar quem era, me escondo atrás de uma arvore, tentando ouvir o que falavam.

-Não podemos ir, não vasculhamos nem metade dessa floresta- escuto uma voz feminina dizer.

-Vão vir nos procurar se não, voltarmos hoje, não queremos isso- uma voz masculina responde.

-Não quero falhar nisso- a outra o responde.

-Também não quero, não quero ir, mas se não formos, tudo ficará mais confuso do que já está.

-Se não acharmos hoje, significará que está morta, e será o fim de toda a nossa esperança- Ele diz, e ela se cala por alguns instantes.

-Escutou isso? - ela pergunta.

-Não, o que é? - essa voz conhecida responde.

-Tem alguém entre nós- ela diz de costas para mim, já sabendo de suas palavras me agilizo e coloco o braço envolta de seu pescoço.

-Lou...- ela resmunga tentando dizer alguma coisa, sem olhar para ela, espero o garoto se virar, para começar a lutar contra os dois. Ele se vira e tenho uma surpresa.

-Louis- digo soltando a garota que quando caí no chão vejo que é Lissa segurando seu pescoço olhando assustada para mim.

-Lissa, Louis, nem acredito que encontrei vocês- digo me abaixando ao encontro de Lissa para me desculpar pela ameaça de morte.

-Não foi nada, Emma, posso te chamar assim?

-Pode, é claro, até onde sei, não sou mais considerada princesa, quem é que está no poder? - pergunto a eles.

-Então você sabe é melhor irmos até nosso esconderijo. O jogo só está começando, ainda mais com você de volta ao jogo.

Infelizmente sou princesa!Onde histórias criam vida. Descubra agora