Penelope

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Junho de 1815, Londres

Não sei há quantos dias está chovendo. A neblina tomou conta da cidade e não vejo a hora em que o Sol vai sair do meio das nuvens e clarear a pele do povo londrino. Há exatas seis semanas os raios solares não aparecem por aqui. Sinto-me presa dentro de minha própria casa. E dentro de mim também.

Meu pai, Gerald Smith, foi nomeado Duque de Lancaster, em 1810. Ele sempre fora muito respeitado e mostrava-se um homem fiel e digno. Mas, dentro de nossa casa, sua mascara de bom feitor vinha abaixo. Ele já não era mais bondoso e sorridente; tornava-se um homem rígido e autoritário.

Meu irmão, Anthony, era a cópia fiel de nosso pai. Ele sempre fora muito severo comigo em relação aos pretendentes que vinham em nossa residências depois dos bailes que minha mãe gostava de dar.

Entre eles, apareciam homens de todos os tipos: jovens, velhos, cabeludos, carecas, gordos, magros, altos, baixos... mas nenhum me agradava. Eles pareciam chatos e sem graça. Alguns até se sentiam intimidados por mim. E, o que não posso negar, eu amava as flores que eles traziam. Deixava a casa com um aroma de tranquilidade.

Durante os bailes, as mães das jovens solteiras agarravam aos homens jovens solteiros (e ricos!) para dançarem com suas filhas. Eles, claro, ficavam sem graça. Mas outros, eram bastante evasivos.

Eu gostava de beber o vinho que nos serviam. Ás vezes, eu saía pelo jardim da propriedade onde estava acontecendo o baile, e saía para respirar o ar puro da noite londrina. É tão boa a sensação de liberdade que sinto. Mesmo que seja por míseros instantes. Mas eles valem à pena.

– Kate, o conde Colin está na sala de estar. Quer te cortejar. – Dizia Anthony, revirando os olhos.

– Por que se incomodas tanto quando vem algum pretendente?

– Esses homens só querem... Esquece, é melhor você não saber. – Disse, já virando-me as costas.

– Anthony! – O repreendi. Ele virou-se, olhando-me de modo debochado. – Por que não me contas o que tanto te incomoda em mim? Sempre estás irritado comigo.

–Você não me incomoda, minha irmã. Eu... eu só não quero que esses homens lhe façam algum mal. – Abaixou a cabeça.

Aposto que hoje irá fazer sol. Quando Anthony abaixa a cabeça para alguém, é um milagre, já que ele é uma pessoa muito orgulhosa.

– Fique tranquilo, meu irmão. Eles não trazem brilho aos meus olhos. Acho todos fúteis e sem graça.

– Mas você tem que se casar, Kate. Já está com 22 anos. Já, já, dirão que és uma solteirona. – Riu, debochando de mim.

– Ora, Anthony! Sabes muito bem que não dou ouvidos ao que dizem. Só me casarei quando eu sentir que amo alguém. Caso contrário, continuarei sem uma aliança em meu dedo.

– Kate! – Maria, minha mãe, repreendeu-me. – Conde Colin está a sua espera. Ande, não deixe o rapaz a esperar.

– Mãe, eu não quero. Diga que estou indisposta. Estou com dor de cabeça. – Pus minha mão em minha testa, fingindo incomodo.

– Ora, Kate, vamos logo.

Indignada, desci às escadas e fui em direção à sala, junto com minha mãe. Sir Colin estava sendo servido com chá inglês. Assim que nos avistou, levantou-se imediatamente, deixando a xícara sob a mesinha de centro.

– Bom dia, Sra. Smith. – Deu um beijo no dorso da mão de minha mãe. – Bom dia, Sra. Smith. Espero que goste de narcisos. Dizem que são suas flores preferidas. – Lançou uma piscadela para minha mãe, que corou.

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