|05| silence

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Já era de noite e o tempo mudava tenebrosamente. As nuvens densas e cinzentas apoderavam-se do céu azul e a escuridão tomou posse pela cidade inteira. Virei num beco para chegar mais rápido em casa - em precisamente cinco minutos estaria lá - e nesse instante, as luzes da rua acenderam-se, vacilando por segundos. Arrepender-me-ia mais tarde de ter faltado à escola e também pelo facto de ter rejeitado a ajuda do Harry. Neste momento, podia estar em casa, se gostasse que as pessoas tivessem pena de mim.

Quando estava quase a ver-me livre daquele beco escuro e imundo, um grupo de três pessoas apareceu à minha frente, assustando-me ligeiramente. Eram homens e vestiam roupas pretas e tatuagens cobriam os seus corpos gigantescos. Pareciam fortes e o facto de parecerem ter a força de três leões, deixava-me com o coração nas mãos. O meu primeiro erro começou quando eles se meteram comigo.

- Olá linda. - O que me parecia ser mais velho, pronunciou. O cheiro a álcool apoderou-se do beco. - O que faz uma menina como tu a estas horas na rua?

- Não vê que estou a tentar chegar a casa? - Disse ironicamente. - Deixe-me passar.

- É linda e tem resposta. Gostei. - Disse outro homem, o que provavelmente parecia ser o mais sóbrio.

- Deixem-me passar. Estou a avisar. - Disse-lhes e começaram a aproximar-se cada vez mais.

O pânico começou a tomar conta do meu corpo. Senti o ar nos meus pulmões desaparecer e o sangue que circulava pelo meu corpo, gelar. O meu coração batia freneticamente e tive de me abraçar a mim mesma, e fazer-me acreditar que tudo iria correr bem. Um dos homens agarrou-me pela cintura e eu arregalei aos olhos. Paralisei completamente. Controla-te, Blanca. Lembra-te da Rose. Não queiras repetir o passado. Paralisei novamente.

- Vamos brincar um bocadinho primeiro, o que achas? - Perguntou um dos homens, a rir-se para os outros dois.

Tocaram-me na T-Shirt que eu vestia e começaram a levantá-la pouco a pouco. O meu coração explodiu. Os meus pulmões produziram mais ar do que era suposto. Senti o fogo ardente a consumir-me, a aniquilar todo o medo que estava dentro de mim, queimando-o inteiramente. Abri os olhos e senti-os a queimar sob a minha pele.

- Eu disse para me deixarem passar. - Disse pausadamente e eles olharam para os meus olhos.

Os três homens que se riam do facto de eu parecer uma rapariga vulnerável, de repente mudaram de expressão. Um deles caiu no chão de joelhos, com o medo a apoderar-se dele. Os outros, deram passos para trás. Sorri com isso. Não era eu a controlar o meu corpo. Não era.

- Oh merda... - Um deles disse. - Os olhos dela... Os olhos! - Ele gritou a apontar para os meus olhos.

- George, vamos embora. Ela não é normal. - Um dos homens que estava de pé disse e o outro ajoelhado levantou-se lentamente.

Começaram a correr como nunca. Depois disso cai no chão enfraquecida e eles assemelharam-se a um borrão na minha mente. A nitidez tivera desaparecido completamente e parecia que estava a ficar cega. Um gosto metálico dissipou-se pela minha boca e uma grande quantidade de sangue começou a sair dela. Comecei a berrar pelas dores que estava a sentir. O meu corpo parecia ter saído de uma guerra, enquanto eu não lhe fiz nada, não me meti em nada.

Queria que me ajudassem. Precisava - e admito - da ajuda de alguém. Não conseguia ir muito longe a partir daqui e se fosse para casa, ninguém seria capaz de me dar a devida ajuda. Sentia que o passado estava a repetir-se, que ele nunca me iria deixar livre mas sim acorrentada para sempre. Como se eu dependesse dele, como se eu só fosse capaz de sobreviver porque ele existe atrás de mim, sempre a perseguir-me com correntes poderosas.

Afraid of you | H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora