Acordei com um trovão a ressoar pela casa. Tentei levantar-me no meio da tempestade a acabei por acender a luz. Esfreguei os olhos com as minhas mãos para me habituar à claridade repentina e franzi o cenho. Era a minha cama, a minha casa e não a de outra pessoa. Vi que a janela estava aberta - quando não me lembro sequer de ter estado aqui e de ter mexido nela - e acabei por fechá-la.Lembro-me dos acontecimentos anteriores. Estava no beco perto da minha casa e sei que assustei três homens que tinham segundas intenções comigo. Chamei o Seon e a partir desse momento, não me lembro de mais nada. Só sei que estou na minha casa, sem sangue a sair-me da boca e sem dores no corpo, como se alguém me tivesse curado. Franzi o cenho novamente e alcancei o telemóvel para telefonar ao Seon. Eram oito da manhã. O telémovel tocou e tocou. Quando estava sem esperanças, ele atendeu.
- Blanca? - Disse, com a voz ensonada. - Alguma urgência?
- Preciso de falar contigo. Podemos encontrar-nos no parque? - Perguntei-lhe.
- Não vai dar. - Disse-me seriamente. Estranhei. - Tenho assuntos para tratar.
Desligou-me. Isso só comprovou o quanto ele me quer evitar. Havia algo na história que não se equilibrava certamente na minha mente. Um bloqueio espalhava-se por ela, criando uma divisória entre o que me permitiam ter acesso e ao que eu realmente deveria ver. Joguei o telemóvel para o chão, irritadiça. A manhã de sábado não tinha começado da melhor forma. Sentia-me traída, como se estivessem a esconder uma verdade tentadora de mim. Estava a tentar voltar a dormir quando um ruído estridente despertou-me por completo.
Os adolescentes normais costumam acordar de uma forma normal. Despertam-se, dão um grande bom dia aos pais - ou não - visto que podem acordar de mau humor. Mentalizam-se que podem ter um dia bom ou não - depende das cirscunstâncias - e saem de casa animados para um novo dia, para aprenderem novas palavras e construir novas frases - ou - até mesmo - e em alguns casos - ficam tremendamente felizes porque sabem que a pessoa pela qual sentem um amor platónico, está lá fora, em qualquer sítio à espera deles.
A minha vida não é assim. Acordo e sei quando o meu dia vai ser bom ou mau. Consigo ver tudo o que está à minha frente, mentalizar-me que o futuro corre ao meu lado e tudo depende de mim para escrevê-lo da maneira que eu quiser. Normalmente, não acordo com bom dias nem os dou. Acordo com sons estridentes, de garrafas a partirem-se ou com gritos histéricos do meu extravagante pai. Não fico feliz ao ir para a escola nem ao construir frases, porque sei que isso vai acontecer. Não é normal ficar-se feliz ao saber o que se vai suceder a seguir. O imprevisto é tentador. O previsto, aborrecido. Também não fico feliz ao saber que vou ter o meu querido amor lá fora, porque não tenho nenhum. O amor é uma mentira criada pelo ser humano para se mentalizar que há um sentimento neste mundo distorcido que o pode curar. Mas eles não sabem que o amor também mata. É uma doença incurável.
- Blanca! - O meu pai adentrou pelo meu quarto, assustando-me. Fingi estar a dormir. - Sei que estás acordada.
Era disto que estava a falar. A rapariga anormal a acordar de uma forma anormal.
- Está uma amiga tua aqui para te ver. Posso mandá-la subir? - Disse-mo e eu acabei por me sentar na cama.
- É a Cassie? - Perguntei e ele anuiu com a cabeça. - Então podes.
Saiu do meu quarto como um furacão e eu voltei-me a enrolar nas mantas confortáveis. Olhei através da janela e um relâmpago trespassou pela mesma. O barulho estridente do trovão veio a seguir e fechei os olhos, concentrando-me na tranquilidade que aquela cantoria melódica me dava. Achavam-me peculiar por gostar tanto de coisas aterrorizantes. Não achava que gostar disso fosse estranho. Nunca fui ensinada a gostar do sol e do arco-íris como as outras crianças e sei que - se por acaso - tivessem sido ensinadas a gostar de relâmpagos e coisas desse género, também estranhariam quem não fosse da mesma opinião que elas. Se te ensinarem a gostar de dançar na tempestade, jamais terás conforto na tranquilidade do sol. Mas se te ensinarem a gostar de dançar ao sol, jamais irás compreender a tranquilidade de uma tempestade.
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Afraid of you | H.S|
Fanfic'' E o que farias tu, se tivesses de te aliar à pessoa que mais odeias neste mundo para te salvares a ti mesma? "