Andava de um lado ao outro da minha casa, a pensar só numa coisa: oito horas. Desde o enorme momento tenebroso, já tinham passado sete horas. Enquanto escrevia alguns rascunhos no meu computador para o meu diário - que para ser sincera só uso quando me convém - alguém bateu à porta. Provavelmente era o meu pai. Só vivia com ele.- O que fizeste às garrafas de álcool? - perguntou calmamente quando entrou no meu cubículo.
Muito calmamente, para ser sincera. Mas pela sua fisionomia vi que ele não estava sóbrio: o cheiro a fumo e a álcool tresandava pelo meu quarto e a sua indumentária estava toda suja. Os seus olhos azulados como eram noutra altura, neste momento estavam avermelhados e tenebrosos. Olhavam-me com repugnância.
- Não sei do que estás a falar - Menti. - Devem estar no mesmo sítio de sempre.
Mentiras já se tinham tornado em um ciclo vicioso. No dia anterior a este, fiz uma vistoria às garrafas de álcool que haviam na despensa. Eram demasiadas. Talvez tantas que se uma pessoa as bebesse todas de uma vez, morreria. Por saber que o meu pai era capaz disso e já ter entrado em vários comas alcoólicos, retirei algumas das garrafas de lá. Não sabia é que ele ia reparar nisso, nos pequenos detalhes.
- Não me mintas! - Deu um soco com toda a força na parede e foi-se aproximando de mim. Tremi. - Não encontrei a garrafa de whisky que era suposto estar na despensa.
Aproximava-se cada vez mais como um animal feroz. Quando agarrou o meu pulso com a maior força do mundo, é que entendi que ele não estava mesmo para brincadeiras. Tinha de inventar outra mentira para ele acreditar na primeira. Não fazia sentido, tinha noção. Mas se ficasse parada, acabaria por sofrer nas mãos deste homem.
- Acho que vi uma garrafa na cave. Não sei se era tua, mas acho que sim. - Menti, a olhá-lo nos olhos.
Mesmo assim, o aperto no meu pulso não diminuiu; aumentou de intensidade. A sua outra mão pegou nos meus cabelos e puxou-os com toda a força. Um pequeno grito saiu dos meus lábios. Para ser sincera, já estava habituada. Foi quando a sua mão atingiu a minha face com toda a força e eu cai no meio do chão, que tive receio do que poderia acontecer a seguir, mas não chorei. Nunca mais iria chorar à frente deste homem nem de ninguém.
- Se for mentira, vais sofrer as consequências. - Disse e fechou a porta do meu quarto com toda a força.
Tinha de me ir embora rapidamente. Entretanto levantei-me apressadamente, agarrei nas chaves de casa e no telemóvel, metendo ambas as coisas nos bolsos das minhas calças. Sai do meu quarto e desci a escadaria devagarinho, com o objetivo do meu pai não perceber que eu estava a fugir desta casa, dele. Quando abri a porta de entrada e comecei a andar rápido, é que me apercebi que consegui escapar sem fazer esforço algum.
Por norma, nunca fujo dos meus problemas: sempre gostei de os enfrentar, de ir mais longe. Mas hoje não estava com paciência para isso, nem para nada. Sempre acharam que eu era maluca, sempre fui apelidada dessa forma, porque eu gostava de desafiar o perigoso, de passar pelo impossível. O mistério atraía-me, o desejo pelo perigo fascinava-me. Lembrava-me de Cassie. Ela também era assim.
Suspirei fundo ao passar pela passadeira; já era de noite e eu não sabia para onde estava a ir. Nem queria saber. Tudo era melhor do que estar em casa. Agarrei no telemóvel para ver as horas e foi nesse momento que me apercebi que havia lá uma mensagem enviada à três minutos.
Número anónimo
Tens menos de uma hora.Arregalei os olhos com aquilo: e a primeira coisa de que me lembrei foi do Harry. Aquilo coincidia muito bem com as supostas oito horas.
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Afraid of you | H.S|
Fiksi Penggemar'' E o que farias tu, se tivesses de te aliar à pessoa que mais odeias neste mundo para te salvares a ti mesma? "