A manhã tinha corrido demasiadamente bem: até não parecia real, para ser sincera. Pela primeira vez na vida - até agora - consegui passar pelo grupo das raparigas populares, com indumentárias mais rosas que a cor e ridiculamente embelezadas pelos seus cabelos loiros. E pela primeira vez, elas não gozaram comigo ou me desprezaram. Repensava nisso quando me dirigia para a cantina.Também descobri três coisas esta manhã: 1) o meu professor de filosofia não tem três dentes, 2) sísifo foi o conceito mais estranho que aprendi hoje e 3) o Harry é da minha turma. O rapaz peculiar que me tirou do sério hoje de manhã. Lembro-me que o seu mau humor ao entrar na aula de filosofia parecia estar no seu auge, mas recordo-me que, quando nós cruzamos os olhares, ele piorou de uma maneira tenebrosa.
Quando a cantina apareceu pela primeira vez na minha visão, quase que me surpreendi. Tudo parecia estar dividido em vários grupos, como aqueles que me assustavam e estavam espalhados pelo mundo. As bonecas de porcelana estavam na fila e eu infelizmente tive de me meter ao lado delas. Até o cheiro delas era doce, o que parecia já doentio - senti-me uma má feminista agora.
A comida também não era a melhor, mas não me podia queixar porque afinal, tinha comida no prato. Quando finalmente tinha tudo do que precisava, sentei-me numa das mesas do fundo, onde não havia ninguém e onde ninguém me podia ver. Respirei fundo e olhei ao redor. Algumas raparigas inseridas no grupo da astrologia e com um visual totalmente peculiar, passaram por mim, mas pararam ao mesmo tempo que eu as observava.
- É melhor saíres já dessa mesa enquanto ainda tens tempo. - Uma das raparigas que parecia a alfa do grupo, dirigiu-se a mim.
- Porquê? Alguém reservou esta mesa? - Disse ironicamente, porém nenhuma riu.
- Essa mesa pertence ao Harry e ao seu grupo. E acredita, tu não queres lidar com eles. - Outra rapariga de cabelos pretos retorquiu.
- E ele de certeza que não quer lidar comigo. Então vai ter que mudar de mesa, porque eu não vou sair daqui. - Disse-lhes e elas pareceram surpresas.
- Tu é que sabes. Se quiseres sentar-te connosco, estamos ali ao fundo. - Proferiu a mesma rapariga.
Assenti com a cabeça e observei-as a irem-se embora rapidamente. Para ser sincera, pareciam estar com mais medo que eu. Mas na verdade, eu estava totalmente descontraída como nunca estive antes. Parecia que eu já sabia o que estava prestes a acontecer e o que eu estava prestes a fazer. Enquanto pensava nisso, comecei a comer lentamente. À espera do pior. E o pior já estava bem atrás de mim.
- Posso saber o que estás a fazer aqui? - Disse aquela voz rouca e assustadora.
- Neste momento estou sentada. Não era o suposto? - Sorri-lhe e o seu olhar escureceu.
- Vais ficar sentada por pouco tempo se não saíres já desse sítio. - O seu olhar penetrou-me.
- E tu vais ficar de pé muito tempo, porque eu não vou sair daqui. Arranja outra mesa. - Disse e virei-me de costas.
- Não vou voltar a repetir o que disse. - Retorquiu e eu encolhi os ombros.
Sabia que não estava a vê-lo, mas sentia a raiva dele a corroer-me por dentro. Quando estava a beber a água, senti uma força descomunal arrastar a minha cadeira e não sei mais o que aconteceu a seguir. Simplesmente senti as minhas costas colidirem com o chão duro e o copo de água encharcar toda a minha roupa para em seguida partir-se em mil pedaços. Fiquei paralisada durante vários segundos.
- Como é a sensação de estar no chão? - Ele proferiu seriamente.
Sabia que toda a gente olhava para mim. Acho que era inevitável. Observava agora o Harry sentar-se no meu antigo lugar como nada tivesse acontecido e como se ele não tivesse feito absolutamente nada. A minha fúria ultrapassou os limites e a última coisa que me lembro de ter feito foi derramar a água que o Harry tinha no copo em cima dele. Sorri satisfeita.
- Como é a sensação de ser ridículo? - Inquiri, agora levantada e com os braços cruzados.
Não vi nada mais que um Harry furioso levantar-se da cadeira e agarrar no meu pulso com toda a força. Estava a magoar, tinha uma noção pormenorizada disso, mas nunca lhe ia dizer tal coisa. Os seus olhos verdejantes pareciam duas armas prontas para me matarem. Foi quando ele se aproximou mais do que era suposto, que eu senti certo medo.
- No momento em que me desafiaste, acabaste com toda a tua vida, Blanca. - Disse com a intenção de me meter medo. E conseguiu.
Mas eu não vacilei.
- Não me tentes meter medo, se não sabes se eu sou ou não mais perigosa que tu. - Retorquiu, e quase o vi rir. Quase.
- Mas eu sei que não és. . - Retorquiu, enquanto sussurrava ao meu ouvido. - Eu sei tudo sobre ti, amor. Espero que tenhas noção do que acabaste de fazer.
- Não fiz nada. Tu és um idiota! - Gritei bastante alto.
- No momento em que eu te disse para não me apareceres mais à frente, infringiste uma das minhas regras. - Disse com um sorriso malicioso. - E tu sabias muito bem qual era a consequência disso.
Na verdade, eu sabia. E eu sei, neste momento: morte. Engoli em seco e mesmo com as minhas pernas a vacilarem, consegui ganhar uma postura corajosa, sem receios ou medos. Porque eu sabia que tudo isto não passavam de meras palavras sem significado. As palavras são vazias no momento em que não as sabemos utilizar. E mesmo assim, fiz-me de burra e disse algo que não deveria ter dito.
- Qual era a consequência? - Perguntei inocentemente.
- A morte. E ninguém pode fugir dela. - Disse, enquanto me soltava. - Tens oito horas. - E sentou-se, enquanto eu não estava a entender nada.
- Oito horas para quê? - Perguntei enquanto um nó enorme se apoderava da minha garganta.
- Para aproveitares os teus últimos momentos de vida. - Olhou-me e sorriu.
Nunca tinha passado pela etapa da vida onde pela primeira vez o meu corpo paralisou e a única coisa que eu conseguia ver eram os seus caracóis acastanhados. Nem o seu semblante conseguia destacar. Tudo parecia ter desaparecido da minha vista no momento em que ele disse oito horas. O número oito, aquele número indeterminável. O número que me ia atormentar para sempre. Ainda não sabia disso, mas o meu futuro já tinha tudo reservado para mim.
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Hello Babys! Tudo bem
Com vocês?Estou a adorar escrever esta história, seriously, este Harry é tão seeeeexy ahahah...
Espero que estejam a gostar também e muitos beijinhos!
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Afraid of you | H.S|
Fanfiction'' E o que farias tu, se tivesses de te aliar à pessoa que mais odeias neste mundo para te salvares a ti mesma? "