|8| magic

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O Harry pousou-me a descansar no seu quarto quando desinfetou a ferida na minha cabeça e tratou dela; ainda me sentia ligeiramente mal, mas com este rapaz ao meu lado, conseguia ficar um pouco melhor; deitara-se ao meu lado e acendera a televisão. Ainda estava impressionada ao saber que ele morava numa mansão tão grande como esta; era revestida pela cor preta que dominava as paredes e alguns recantos das divisões. O candeeiro presente na sala era astronómico e fazia um grande contraste com o preto, visto que era branco; a escadaria para dar acesso ao segundo andar era circular e isso dava-me a sensação de estar num palácio; haviam vários quartos e casas de banho num corredor sem fim. Ainda havia um terceiro andar ao qual ainda não tive acesso mas adoraria saber o que lá está.

- A tua consideração por mim já subiu? - Perguntou-me, olhando-me nos olhos profundamente.

- Nem consideração tenho por ti e já estás a perguntar se ela subiu? És engraçado Harry. - Disse-lho e ele resmungou qualquer coisa.

- Deixa de ser assim, de tentares a todo o momento proteger-te do mundo exterior. Não estás em perigo. - Retorquiu.

Ele soubera-o melhor do que ninguém e nem sabia como; escondia-me no meu pequeno mundo e não queria revelar o meu lado querido e sentimental, porque as pessoas sempre se aproveitaram dele; esta sociedade retrógada era um perigo se fôssemos expôr-lhe os nossos verdadeiros sentimentos, aquilo que somos mesmo sem dúvida alguma. É por isso que eu sentia a vontade de agradecer-lhe pelo que fez hoje, dizer-lhe o quanto foi amável e o quanto eu gostava de ver este Harry e não o outro resmungão e sarcástico. Mas não podia, não queria dizer-lhe porque tinha medo. Medo de me expôr. Mesmo que ele pareça de confiança, quando confiamos em alguém estamos a pagar um preço demasiado grande ao coração.

- Não me estou a tentar proteger. - Disse-lho revirando os olhos.

- E essa atitude agora foi o quê? - Retorquiu, aproximando-se. - Vês? Fizeste-o novamente.

Agarrou a minha mão e apertou-a, fazendo com que eu mirasse as suas janelas verdejantes; fitavam-me de uma forma profunda e ao mesmo tempo de uma maneira incógnita; era impossível decifrar o que ele estava a sentir naquele momento oportuno. E eu não me fartava de observá-lo; queria decifrar o que havia além da superficialidade que ele apenas mostrava habitualmente. Soubera que havia muito mais para descobrir.

- Acho que és igual a mim. Também te proteges sempre. - Retorqui, sendo eu a apertar as suas mãos desta vez. - E não negues.

- Como podes dizer que me protego sempre, se nunca me perguntaste nada sobre mim? - Disse, com o seu sorriso obviamente malicioso.

- E como podes indiretamente afirmar que não te proteges, se nunca me disseste nada sobre ti sem eu ter de perguntar? - Retorqui, ficando eu com o sorriso malicioso; roubei-o.

- Bem jogado, linda, muito bem jogado. - Retorquiu, derrotado.

Olhei-o pela última vez e fechei os olhos, completamente estafada; enquanto desfrutava do momento satisfatório do silêncio a inundar esta mansão, a campainha resoou como um som estridente. Abri os olhos rapidamente e no fundo do meu ser, sabia quem estaria por detrás daquela porta. O Harry não deveria abri-la, nem tampouco se levantar para tal coisa. A minha mente assimilava um mau pressentimento e algo tenebroso a aproximar-se: era a própria escuridão. Ela avisou-me que ia inundar o silêncio desta casa apenas se a deixássemos entrar. Não. Agarrei no braço do Harry com força.

- Não abras a porta, por favor. - Disse-lho, tentando ler as palavras que saíam pelos seus olhos verdejantes.

Ele olhou para o fundo dos meus olhos e retirou uma arma do bolso das suas calças; e aquele olhar marcou-me para sempre. Era aquele tipo de olhar que declarava algo, como se ele soubesse o que eu era realmente, a imperfeição que existia em mim. O verdejante era misterioso: não conseguia decifrá-lo, porque ele também escondia um grande segredo ao qual não tinha acesso e foi quando me apercebi da imensidão de armas que se descaíam pelo armário que ele acabara de abrir, é que fui capaz de assimilar o que estava a acontecer.

Afraid of you | H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora