CAPÍTULO UM

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ANNA JÚLIA

Logo que o show terminou, nós deixamos a Cacau no seu apartamento e seguimos para o nosso. Eu, o Cadu e o Vinícius. O Vini dividia um apartamento com mais dois colegas, mas tê-lo em nosso lar era algo muito comum, ainda mais porque ele costumava virar a noite em campeonatos de videogame com o meu irmão. Às vezes, também, nós assistíamos a algum filme e conversávamos por horas. 

Naquele dia, porém, eu estava exausta.

— Vem cá, nanica. — o Vinícius chamou assim que eu entrei no meu quarto, depois de tomar um banho. Ele estava sentado na minha cama e bateu com a mão no espaço vago. Sorri fraco e me deitei, sentindo quando os seus dedos acarinharam a minha cabeça. Não demorou nada até que eu pegasse no sono. 

Horas depois, acordei assustada.

Eu sabia que era manhã porque o sol já entrava pela minha janela e porque, também, tinha alguém gritando não muito longe dali.

Alguém com uma voz muito familiar.

Pulei da cama num sobressalto.

— Deixa eu falar com Anna Júlia, Carlos Eduardo! Isso é assunto meu e dela! — eu ouvi a voz do Luís, irritada e vários tons acima do normal. 

Isso não era nada bom. 

Que tipo de assunto o meu namorado queria tratar comigo, tão grave ao ponto dele estar fazendo um show às... Chequei o relógio e eram só oito e dezessete da manhã!

— Cara, tu ouviu o Cadu? É melhor você voltar outra hora! — foi o Vinícius quem falou.

Ah, não!

— E você fica na sua, ou eu vou quebrar cada um dos seus dentes e... — meu namorado começou a ameaçar, porém foi interrompido pelo Vini:

— Vem então, oras! 

— Oi! Amor? — resolvi que era o momento de intervir no que quer que estivesse acontecendo. 

O cenário na sala era basicamente esse: o meu irmão estava segurando o Luís, que tinha o rosto vermelho de raiva. Seu dedo estava apontado para o Vinícius, que tinha os braços cruzados como se estivesse cagando baldes para as suas palavras. 

Quando me viu, porém, meu namorado pareceu se acalmar um pouco. Mas só um pouco mesmo.  

— Anna Júlia, escuta, eu acho bom você ter uma explicação ótima para ter estado com esse bosta na noite passada! — o Luís apontou para o Vinícius, deixando bem claro que o "bosta" em questão era ele.

Ainda era bem cedo para um fuzuê daquele, mas àquela altura do campeonato eu tinha certeza de que os vizinhos já estavam acostumados com as discussões calorosas que eu e o meu namorado costumávamos ter. 

— Nós fomos ao show da banda Planalto, pensei que você tivesse entendido essa informação. — eu disse, fingindo-me de tonta. Eu sabia que se o Luís descobrisse a verdade as coisas não acabariam bem, mas nunca imaginei que o fofoqueiro do Renato lhe diria qualquer coisa (porque, claro, só poderia ter sido ele).

— Ah tá! E eu pensei que você tivesse dito que você e o SEU IRMÃO iriam a esse show! 

Sério, as veias no pescoço do Luís estavam muito aparentes. Eu estava começando a ficar preocupada com a possibilidade de alguma delas estourar, embora não soubesse se isso era realmente possível. De todo o modo, pedi ao meu irmão que o soltasse. Talvez assim ele se acalmasse um pouquinho.

— Luís, o meu irmão estava lá!

— É, eu estava. — o Cadu concordou. 

Meu namorado me olhou por um segundo, então cerrou os punhos com força e balançou a cabeça de um lado para o outro.

Dizem Por Aí I Degustação | Completo na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora