CAPÍTULO DEZ

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VINÍCIUS

Quando eu e a Anna Júlia chegamos na minha casa, a mãe estava no vigésimo sono, de boca aberta no sofá e com o abajur ligado. Já passava das nove da manhã e com certeza ela havia dormido enquanto esperava por nós, e eu digo isso baseando-me na sua predisposição em dormir no trailer dos filmes.

Levei a Anna Júlia até o banheiro e peguei a mãe no colo, carregando-a para o seu quarto. Dona Socorro acordou toda assustada assim que eu a pus na cama, o que me fez rir.

— Se eu fosse um ladrão, hein, dona Help?

— Crendeuspai, menino! — a mãe me virou um tapa, mas em seguida me chamou para um abraço. — Foi tudo bem na viagem? Você nunca atende esse celular!

— Foi tudo bem, pode ser que ele tenha ficado sem sinal na estrada. Aliás, a senhora virou sócia da companhia elétrica pra dormir de abajurzinho ligado, né? Ah, mas se fosse eu...

— Eu estava esperando por vocês quando peguei no sono. — ela se justificou e ajeitou os cabelos enquanto se sentava. — Sua namorada veio?

— A Anna Júlia tá aí. — joguei a cabeça para trás e ri sozinho.

— Que bom, né, Vinícius? Pensei que nunca fosse chegar o dia em que o meu único filho iria trazer uma nora aqui em casa.

— Que drama, mãe! — desdenhei, já imaginando a cara da Anna quando a mãe viesse com esse discurso pra cima dela. — Falando assim, até parece que eu nunca trouxe mulher nenhuma aqui.

— Ah, é! Você trouxe sim! Duas, três! Olha aqui, Vinícius: tu não me invente de se tornar um sem vergonha que nem seu pai, porque-

— Tô indo tomar café, mãe. — lhe interrompi, porque se eu desse corda ela falaria mal do pai até quando Deus permitisse. Não que ela não tivesse os seus muitos motivos, mas mesmo assim. — A senhora por um acaso fez um café decente para o seu filho incrível? Não, né? Olha, dona Help, tu tá ficando impossível!

Passei pela porta do seu quarto no exato instante em que a Anna Júlia saía do banheiro. Ela sorriu e, como a mãe vinha me seguindo, as duas acabaram se encontrando.

— Mãe, Anna. Anna, Dona Help. — gesticulei com as mãos e a mãe estalou a língua.

— É Socorro, filha. Seja bem vinda, viu? É um prazer finalmente te conhecer! — ela falou toda bonitinha, enquanto as duas se abraçavam.

— Ah, é um prazer também. O Vinícius fala muito da senhora.

— Espero que seja bem, porque eu não quero começar isso aqui já com uma imagem de sogra chata.

Vi quando a Anna Júlia congelou no lugar e não consegui ficar sem rir.

— Desculpa. — ela falou, sem jeito. — É que... Aff, Vinícius! — a Anna Júlia me olhou toda irritadinha. — Ai, dona Socorro, nós não somos namorados.

— Não?

— Não, mãe. A Anna disse que não me quer.

— Eu não falei nada disso! — ela se defendeu, sendo que as bochechas estavam coradas de vergonha. — Nós somos amigos, o Vini é o melhor amigo do meu irmão!

— Ela me jogou para a famosa "friendzone". — tornei a dizer enquanto a mãe nos encarava sem entender muita coisa.

— Para de falar mentira! — a Anna Júlia falou com um ar de bronca e a mãe franziu o cenho.

— Então não tem namorada?

— Depende da Anna Júlia. — dei de ombros meio assim, como quem não quer nada, e a Anna cruzou os braços.

Dizem Por Aí I Degustação | Completo na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora