Capítulo 3

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- Não precisa ficar com vergonha, Kessya.
- Foi a minha primeira vez e foi horrivel, não era pra ter sido assim.

Começo a chorar de novo, meu cabelo gruda no meu rosto molhado.
Sinto cheiro do meu cabelo e ele tá fedendo, oleoso, meu cabelo era enorme, mas cortei a pouco tempo, porém sempre cuidei dele muito bem, nunca deixei chegar nesse ponto. Mais não banheiro que tomei banho, só tinha um sabonete.

Minha mamãe quase chorou quando decidi cortar, eu nasci ruiva, ruiva mesmo e meu cabelo cresceu muito, ela o amava, mais estava na hora de me desapegar um pouco. Então cortei e doei.

Acabo dormindo, com dona Lurdes me fazendo cafuné, me fazendo esquecer de tudo por algum tempo.

- QUE PORRA É ESSA? Vão levantando.
O susto me faz cair do sofá, me estabafo no chão.

Merda!

Olho pra cima e vejo dois pares de tênis da Nike, olho mais adiante e vejo o Patrão de pé na minha frente. Me encolho toda. Ele vai me bater de novo, dessa vez eu não aguento.
A dona Lurdes nem tá mais aqui, o que também não adiantaria de nada.

Ele se joga no sofá e arremessa os tênis longe, me surpreendendo.

- Vai ficar ai no chão maluca?

Nego com a cabeça, levanto e sento no outro lado do sofa.
Ele liga a televisão e põe em algum canal da telecine, está passando um filme que eu amo.
É Fada! Da minha youtuber diva, maravilhosa, a Kéfera, amo ela.
Me concentro no filme, espero que ele não mude de canal.

- Tu já viu esse filme?
- Sim.
- Porra de gay isso ai.
- Hm.

Passa uma parte engraçada e dou uma risada alta. Olho pro Patrão que tá me olhando estranho, agora vou apanhar só porque dei risada?
Continuo assistindo o filme.

Quando o filme acaba, me levanto.
Vou ir deitar, estou muito dolorida ainda.

- Aonde tu vai?
Sinto ele parar atrás de mim.
- Dormir.
- Ata, vai lá. Boa noite...
- Kessya.
- Quê?
- Meu nome é Kessya. Boa noite, Patrão.

Subo correndo, tranco a porta e caiu na cama.
Mentira me deito devagarzinho, além de estar toda dolorida, esse colchão é massacrante, parece pedra.

O que foi aquilo? Ele é tão gato!
Para Kess, não vai dá uma de doida e nutrir sentimentos por um psicopata, alerta pra síndrome de Estocolmo.
Ele não tem sentimentos, nunca vai ter.
Só quer me machucar, esse é o prazer dele.

Meus pais nunca me bateram, nem um tapa sequer, nunca levantaram a mão pra mim, também sempre fui muito obediente.
Jamais imaginaria que um dia ia apanhar assim, por causa de uma dívida idiota.
Meu rosto e meu bumbum estão ardendo demais.

Durmo pensando no Patrão, na sua personalidade bipolar e em como será o seu nome verdadeiro.

Durmo pensando no Patrão, na sua personalidade bipolar e em como será o seu nome verdadeiro

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Levanto toda dolorida, meu corpo dói dos pés a cabeça, tanto por fora, quanto por dentro.
Poxa vida, ele me estraçalhou toda.

No criado mudo ao lado da cama encontro um copo de água e um comprimido, tomo esperando que tenha sido a Dona Lurdes que tem botado um remédio de dor, não que tenha sido o Patrão que colocou um veneno aqui pra me matar, não duvido nada.

Tomo um banho.
Estou usando o banheiro das visitas, pelo menos não é podre igual o quarto, só que não tem um shampoo pra lavar o meu cabelo.
Faço minhas higienes e me visto.

Calço uma havaiana e desço.


Está um silêncio agonizante aqui.
Não gosto de silêncio, não esse tipo de silêncio.
Vou ir ver se tem alguma coisa pra mim tomar café da manhã.
Será que posso?

Hoje é sexta será que a dona Lurdes não vem?

Bebo suco de limao e pão com manteiga, o que achei na geladeira. Comi super rápido, com medo de ser pega pelo Patrão e apanhar de novo.

Ficar sozinha nessa casa imensa é horrível.
Até a companhia do Patrão séria bem vinda agora.
Sinto que ele tentou ser legal comigo ontem.
Não sei porque.

Acabo ligando a televisão e acabo ficando por aqui mesmo, acho que ele não vai brigar, até porque ontem assisti televisão com ele, bom pensando bem, foi diferente.

Tá passando pica-pau, gosto desse desenho. Dou altas gargalhadas, eu gosto de ver desenho, via todo dia antes de ir pra escola.
Pelo menos uma coisa pra me destrair, me tirar desse vazio que é estar aqui, sozinha, dolorida fisicamente e emocionalmente.

Caraca a escola! Hoje teve aula. Mas eu estudo na parte da manhã, tenho que falar com o Patrão sobre isso. Nem sei porque vou tentar, óbvio que ele não vai deixar, eu sou basicamente uma prisioneira.

"Patrão" é estranho ficar chamando ele assim, como será que ele se chama de verdade? Fiquei curiosa agora. E porque que não o chamam pelo nome?

Não estou mais dolorida, fisicamente, porém psicologicamente sim.
Será que um dia vou saber o que é sexo de verdade, prazeroso, será que serei capaz de ter um orgasmo alguma vez? Sei que esse não é o momento pra pensar nessas coisas, mais quando vai ser? Nem sei se vou sair viva daqui. Me sinto mal, em pensar que ele roubou todas essas experiências boas de mim.

Uma pessoa pula no sofá, me fazendo pular de susto. Cassete!

- Te assustei?
- Não imagina.
Reviro os olhos, acho melhor eu não repetir isso.
- Desculpa ai, por ontem, você me chamo de ogro mano. Não aguentei, tá ligado não?

Opaa!

- De boa.
Abaixo a cabeça e uma lágrima cai. Limpo na hora, não vou deixar ele ver que estou triste.

Porque será que ele é assim, tão frio? Mas não posso reclamar ele tá sendo mais ou menos comigo. Acho que ele não é tão mal assim, como dizem.

Volto a assistir o desenho.
Pareço até uma criançinha, rindo das travessuras do pica-pau.

Olho pro Patrão e ele está sorrindo, fico olhando pra ele impressionada.
Quando percebe que estou olhando, fecha a cara novamente. Ele tem o sorriso mais lindo que já vi na vida.
Foco Kessya, foco!

O desenho acaba e desligo a televisão. Ele não fala nada.
Fui eu quem liguei, ninguém não tem que falar nada. Acho que estou querendo brincar com fogo isso sim.

- Que horas são?
Pergunto pra quebrar o silêncio.
- Três e trinta e cinco.
- Você chega cedo assim do trabalho?
- Eu trabalho pra mim mesmo, saiu a hora que eu quiser.
- Hm.
Toma distraída.
Podia ter ficado sem essa.

 Podia ter ficado sem essa

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