{3} O QUE VIVE NA ESCURIDÃO

1.9K 272 127
                                    

    Assim que entrou, Barton ascendeu a tocha que trouxe para iluminar o caminho. Ainda estavam na entrada e a escuridão já era cerrada, o sol lá fora não era muito forte e a inclinação das paredes atrapalhava ainda mais a iluminação do dia. Porém, não se detiveram, passo após passo, eles iam mais fundo naquele mundo de negrura.

    — É bem maior do que eu imaginei – falou Barton, sua voz ecoava pelas paredes de pedra. – E muito fria também.

    Johá estava calado, olhando para todos os lados, esperando ver alguma criatura disforme rastejar de algum canto.

   — Eu devia ter trazido uma tocha também.

    Barton se aproximou com cuidado de uma das paredes, sempre olhando para o chão certificando-se de que não cairia em algum buraco que o levaria para as profundezas da terra. Tocou a superfície áspera da rocha e sentiu que estava úmida. Ele sorriu.
Apesar do medo que aquele lugar exalava, estar ali era quase lúdico para Barton. Como Johá havia dito, aquele sempre fora o maior mistério que eles tinham quando crianças. A Vila Orm e as redondezas dela eram o mundo que eles e as outras crianças tinham e ali, dentro daquela escuridão assustadora, era onde todos os segredos se escondiam, mas seriam eles bons ou ruins? E por que Barton tinha tido um sonho tão estranho com aquele lugar?

    — Barton, traz a tocha aqui! – falou Johá um pouco mais à frente.

    — O que foi? – Ele ergueu a chama alaranjada sobre um ponto onde o amigo apontava.

    — Olha que coisa esquisita.

    Aos pés de Johá havia uma pequena pilha de pedras redondas. Não haviam sido jogadas de qualquer maneira, estavam precisamente organizadas uma sobre a outra, formando uma torre com mais de trinta centímetros.

    — Isso não é natural, pode ter certeza – falou Johá, desconfiado.

    Barton agachou-se para olhar mais de perto a escultura, mas não se atreveu se quer a tocar nas pedrinhas.

    — Meu palpite é que não somos os primeiros a desobedecer a proibição de Morá. – Ele sem levantou e limpou as mãos molhadas na calça. – Aposto com você que isso está aqui desde de quando meu avô era criança. Talvez ele mesmo tenha feito isso.

    Johá não estava nem um pouco convencido. A história mais arrepiante daquela caverna era a do garoto que tinha sumido ali dentro quando tinha resolvido se esconder dos amigos. Tinha se escondido tão bem quem nunca mais fora encontrado, desde então Morá havia proibido que qualquer morador se aproximasse dali.

    — Muito bem, entramos e vimos como é, agora podemos voltar – falou Johá, virando as costas para a saída.

    — Não vim aqui para dar dois passos na entrada e voltar por que encontramos uma pilha de pedras. – Barton continuou no caminho oposto. – Eu vou mais fundo.

    — Eu não sei quem é o mais imprudente – reclamou Johá, erguendo os ombros -, você por nunca me ouvir, ou eu por continuar te seguindo.

    Mas ele seguiu o amigo até a luz opaca da entrada ficar para trás e eles ficarem complemente mergulhados na escuridão. Quanto mais entravam, maior era o frio.

    Barton, de alguma forma, sentia que conseguia reconhecer aquela escuridão do seu sonho. Talvez fosse apenas algo da sua cabeça, mas havia algo de familiar ali.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑪𝒂𝒎𝒊𝒏𝒉𝒐 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑺𝒉𝒊𝒏𝒆̂ (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora