Bispo Pairando Sobre Peão - Parte I

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A casa estava silenciosa, quando abri a porta devagar, o mais silenciosamente possível.

Como se me denunciando ela rangeu, me fazendo apertar os olhos, enquanto ouvia atenta.

Silêncio.

Tudo em silêncio.

Olhei para Mila por cima do ombro, quando ela me sorriu. Era como se voltássemos a ter 16 anos, e passado da hora de voltar.

Acenei para Mila, tirando os sapatos junto comigo, e na ponta dos pés o mais silencioso possível nos atravessamos juntas a casa.

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A luz se acendeu, e com ela revelou a figura grande e forte do senhor de olhos claros e grisalho, com o copo de uísque na mão.

- Ainda acordado, vovô?

Mesmo com meu melhor sorriso, eu sabia pelo olhar de Anthony Campos que ele não seria tão facilmente enganado. Ele levou o copo aos lábios, deitando o olhar para o relógio de parede antigo que marcava 3:35 da manhã.

Estávamos muito ferradas.

- Eu não sei vocês, mas está muito tarde para estar acordada... – Mila disse fingindo se espreguiçar, já fugindo – Boa...

- Sentadas – Nada bom – As duas.

Não foi preciso dizer duas vezes, para que eu e Mila caminhássemos até o sofá a sua frente nos sentando.

Anthony Campos ou Almirante Campos, possuía a patente mais alta da Marinha Brasileira. Não tinha chego aos setenta ainda, e o tempo que passava no mar, parecia apenas lhe devolver sua vitalidade. Os cabelos grisalhos, combinados aos olhos claros e os braços e tronco musculosos, de quem não se importava em colocar a mão na massa, mesmo com a patente exercida, era uma combinação charmosa ao extremo e tão injusta a população feminina de qualquer idade.

E não podemos esquecer a soma de tudo isso, ao homem sério e duro, que não tido vergonha de demonstrar seu lado suave para uma garotinha de 8 anos, que tinha acabado de perder os pais. Foi assim, que o Almirante Anthony Campos, tinha conseguido conquistar meu coração loucamente.

Mas não era por isso que estávamos menos encrencadas.

Virou o rosto de expressão forte, os olhos repousando intensos agora sobre Mila, ao meu lado.

Mila olhou pra mim, para trás e então de volta para vovô.

- Diga-me querida, está confortável nessas roupas?

Vovô nos conhecia bem demais, para saber que mesmo gostando de usar roupas curtas, justas aquele não era o estilo de Mila. O vestido justo de paetê, curto além da conta, que tinha insistido em comprar, era justo demais, curto demais...

O brilho do paete do vestido apagava aquele que Mila exalava por onde passava.

Mila puxou a bainha do vestido para baixo, na tentativa inútil de cobrir as coxas grossas. A verdade, era que o vestido era algo que nem Mila ou eu, nos sentiríamos confortável usando...
Mila fazia o estilo mais simples... Mais romântico em seus vestidos curtos rodados, de flores e alcinhas.

Tão diferente da Mila de agora.

- Sim, vovô.

Ela não o olhou. Não quando ele podia ler uma mentira nossa de longe.

- Venha à cá, doçura.

Um pequeno sorriso triste brincou nos lábios de Mila, ouvindo o apelido que seu pai usava com ela. Ela caminhou incerta até vovô, que tomou uma de suas mãos levando aos lábios.

Segredos do Rei: "A honra de um povo, selada pelo coração de uma mulher..."Onde histórias criam vida. Descubra agora