Capítulo 4

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Daisy a encarava, atônita, sacudindo a cabeça de um lado para o outro.

- Eu sei que parece loucura, mas...

- Jemma, primeiro: você arriscou a sua vida fazendo isso. Perdeu a noção do perigo?

- Daisy...

- Segundo: ele se lembrou de você? – perguntou em um sussurro conspiratório.

Jemma deu um suspiro fatigado.

- Não.

A outra sacudiu novamente a cabeça, em represália.

- É um tanto confuso de explicar, mas é como aconteceu com Coulson e May. Assim como eles, Fitz sentiu que algo estava errado nesse mundo que o fez questionar à sua lealdade ao sistema vigente.

- Ele disse isso?

- Sim! Ele disse. Ele está arrependido.

- Uma das cabeças da Hydra disse estar arrependido dos seus atos cruéis e questionando a ideologia nazista que costuma pregar? – havia uma nota clara de incredulidade em sua voz.

- Você realmente não acredita que o subconsciente dele possa ter despertado? – a bioquímica tornou, magoada diante da descrença de sua amiga.

- Ok! Vamos supor que sim. Onde ele está agora? Por que não está com você? Por que não está aqui, conosco, como Coulson e May? – o tom inquisitivo da inumana perturbou Jemma.

- Ele não poderia vir para cá? Como ele seria recebido?

- E ele está, neste momento, com a inválida Madame Hydra em sua mansão, certo? – ela cruzou os braços – aonde isso nos leva?

Simmons respirou fundo, ponderando se deveria dar continuidade àquela conversa.

- Eu vou voltar lá, amanhã. Para falar com ele.

De repente, foi como se um alarme soasse na cabeça de Daisy.

- Não percebe? Isso tudo soa como uma armadilha. Ele pode estar te atraindo para um ardil.

- Se ele quisesse me fazer mal, ele teria feito hoje. Ele teve oportunidades – a bioquímica rebateu, já encolerizada.

- Como você pode saber que isso não faz parte do plano maquiavélico dele para te capturar? Pode ser apenas um dos joguinhos do Doctor.

Procurando se controlar, Jemma contou até cinco mentalmente. Não queria se exaltar com Daisy. Ela estava apenas preocupada e receosa. Era compreensível, uma vez que havia sido vítima de tortura, dias atrás, a mando do próprio Fitz.

- Ele não é de joguinhos. Ele é objetivo. Vai direto ao ponto.

- Sim, mata sem rodeios.

- Daisy, eu não posso acreditar que está contra mim nessa história!

- Não estou contra você! – objetou, dando mais ênfase do que o necessário às suas palavras – é só que... Esse não é o Fitz que conhecemos.

- E você não quer salvá-lo? Quer que o deixemos para trás? – ainda que não intencionalmente, a pergunta saiu impregnada de cinismo.

- Jemma não é isso! É só que... Este Fitz curte tortura com requintes de crueldade... – tentou justificar, ciente de que não era o bastante para dissuadir Jemma daquela ideia insana. Ela estava obstinada – Olha, agora é um péssimo momento, estamos correndo contra o tempo. Coulson vai invadir uma transmissão de TV para dar um alerta a todos sobre a real face da Hydra e convocar todos a se unirem à resistência. E Trip está me ajudando a descobrir se as coordenadas que Radcliffe me passou levam, de fato, à saída definitiva deste mundo ou se tratam de uma nova artimanha... Não tem como confiar plenamente deste lado...

- Nem do outro – tornou Jemma em um súbito instante de lucidez.

Daisy tocou o braço de sua amiga em sinal de solidariedade e complacência.

- Olha, tudo o que eu posso te pedir é: cuide-se! Você já se arriscou o suficiente e eu não posso perder você – aconselhou, os olhos intensos e penetrantes de quem parecia selar um pacto.

Jemma cobriu a mão da amiga com a sua.

- Eu vou me cuidar – prometeu com um sorriso retraído a curvar seus lábios.

Daisy já estava prestes a sair da sala quando se virou para lhe dar uma última recomendação.

- Ah, e se for até lá, porque eu te conheço... Não vá sem reforços!

*

Ela desapontaria Daisy, mas estava disposta a reencontrar Fitz. Tudo que ela poderia levar era um revólver e uma das ICERS roubadas por Lance Hunter. Nenhuma outra arma mais sofisticada. Até mesmo porque todo o aparato tecnológico sofisticado de que a SHIELD dispunha no mundo real... Fora desenvolvido por Fitz.

Jemma poderia, somente, confiar em seus instintos.

*

Ela permaneceu distraída durante toda a viagem de táxi e até mesmo ao chegar ao condomínio residencial. Não atentando para o escasso tráfego nas ruas ou para quem entrava e saía do prédio. Estava refletindo acerca das palavras de Daisy, o fato de tudo aquilo se tratar de apenas uma armadilha. Estaria Fitz utilizando da informação que a inumana e Radcliffe lhe passaram – sobre ela ser apaixonada por ele no mundo real – de modo a conquistar sua confiança e atraí-la para uma emboscada?

Agradeceu aos céus por estar sozinha no elevador, subindo até o 19º andar. Com passos vacilantes e um inevitável ar de suspeição, dirigiu-se ao apartamento de Fitz, esgueirando-se, vez ou outra, pelas paredes, avançando furtivamente. Agora estava mais atenta ao movimento no longo corredor, ao barulho de portas se abrindo e fechando, a qualquer sinal de que alguém se aproximava ou se afastava. Manteve-se vigilante.

Naqueles poucos segundos que antecederam sua chegada, tudo pareceu aumentar de proporção. O barulho dos sapatos de alguém descendo as escadas apressadamente, o sensor de presença acionado enquanto rumava para o apartamento, o brilho intenso emitido pela lâmpada que se acendeu automaticamente. Jemma encarou a porta, sentindo o coração disparar. Tirou a arma do coldre coberto pelo casaco que trajava, preparando-se para entrar. Notou que a porta estava entreaberta, o que fez seus batimentos cardíacos acelerarem e uma onda de pânico atravessar todo o seu corpo. Tentou organizar seus pensamentos rapidamente, dizer a si mesma que estava se preocupando por antecipação, mas não conseguiu se convencer.

Mandando às favas qualquer prudência, empurrou a porta com o pé e penetrou o apartamento empunhando a arma firmemente.

Fitz ergueu as mãos para cima ao se deparar com o revólver apontado em sua direção.

Amor nos Tempos da HYDRAOnde histórias criam vida. Descubra agora