Epílogo

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Na Terra, olhar para o céu noturno era o mesmo que olhar para o passado.

Fitz sabia que, quanto mais distante o objeto, mais tempo leva para sua luz chegar até nós. Algumas das estrelas mais longínquas que ele já tivera a oportunidade de observar com auxílio de telescópios, nem existiam mais...

Porém, agora, ele estava em um alojamento de uma estação espacial que possuía uma janela com vista para as estrelas. E, ao contrário da Terra, estas estrelas estavam bem próximas, vivas, fulgurantes. Não era o passado que ele espiava. Não eram lampejos de uma história antiga com que o espaço brindava os seres terrestres durante a noite.

Era o presente.

A vastidão do espaço o fazendo lembrar do quão pequenino e efêmero é o ser humano. Mesmo com seu complexo de grandeza, sua ambição, sua mania de acreditar que o universo inteiro gira ao seu redor, o ser humano não passa de um dos menores e mais insignificantes seres existentes no espaço.

Ele contemplou os corpos celestes, pensando a respeito dos universos possíveis, das inúmeras realidades paralelas, das linhas temporais distintas. Tudo parecia provável ao encarar aquela vista.

A culpa que ele sentia até mesmo soava diminuta frente à imensidão do espaço. Talvez ser capturado, em companhia de seus colegas de SHIELD, por aqueles seres misteriosos não houvesse sido uma coisa tão ruim quanto ele pensou a princípio. Aquilo havia lhe dado novas perspectivas, um novo modo de encarar o universo...

Absorto em pensamentos, avaliando suas ações no outro mundo, ele sequer atentou para o fato de que ela se aproximava.

- Hey! – Jemma se aproximou com passos vagarosos, chamando-o timidamente.

Ele lançou-lhe um sorriso contido e indicou o espaço vazio ao seu lado, um convite silencioso para que ela se sentasse.

- Mack e Daisy voltaram a se falar. Achei que gostaria de saber disso.

O engenheiro arqueou uma sobrancelha em expectativa.

- Ele finalmente aceitou o fato de que a escolha não poderia depender dele. Ele não podia ficar em um mundo que seria destruído mais cedo ou mais tarde. Seria matá-lo...

- Fico feliz por isso – disse simplesmente, soando levemente apático.

Eles encaravam a vastidão do espaço, sem se atrever a olhar um para o outro.

- Acho que está na hora de você se perdoar... – disse ela, sem mais delongas.

Fitz deu um suspiro fatigado.

Ele não se sentia apenas culpado pelas atrocidades que havia cometido do outro lado. Mas por se considerar, de certa forma, o responsável pelo efeito catalisador que deu origem ao Framework. Ele permitiu que Radcliffe continuasse com seu projeto mais ambicioso, a androide Aida. Prosseguiu com as pesquisas com aquela criatura robótica mesmo quando Jemma o alertou para interrompê-la. Construiu a estrutura que serviu de modelo para que Radcliffe desse origem ao Framework.

E, quando retornou ao mundo real, foi ele quem despertou a fúria de Aida. Então provida de um corpo humano, construído por ela mesma com o auxílio do que ela havia absorvido do Darkhold, ficou ensandecida após Fitz rejeitá-la; ao ouvi-lo dizer que só havia espaço em seu coração para uma pessoa: Jemma. Ainda, afinal, o havia escolhido e, com sua lógica distorcida, ainda sem compreender inteiramente a humanidade, acreditava que Fitz deveria fazer o mesmo.

Olhando em retrospecto para suas ações dentro e fora do Framework, o engenheiro passou a crer que havia mais semelhanças entre ele e Ward do que distinções. Lembrou-se dos atos bárbaros e cruéis que cometera contra inumanos do outro lado, de como manipulara May, torturara Daisy, matara Agnes a sangue frio e de como orquestrou o ataque que vitimou o diretor Mace...

Mesmo que a culpa que carregava parecesse diminuta diante do universo que se estendia a sua frente, ainda assim, era inevitável que ela tomasse conta de seu ser.

Enfim, ganhando coragem, tornou o rosto na direção de Jemma. Ela não tardou a corresponder seu olhar.

- Eu estou tentando – sussurrou, como se não quisesse ou mesmo temesse quebrar definitivamente o silêncio ao seu redor.

Jemma adiantou-se para tomar a mão dele na sua, em um aperto firme que denunciava seu afeto e cumplicidade.

- Nós vamos passar por mais essa, Fitz. Lembra-se do que me disse no Framework? O nosso lugar é ao lado um do outro. Por isso estou aqui.

Ele a fitou de maneira penetrante por um momento com seus olhos repletos de melancolia, então voltou a encarar o espaço.

- Uma vez você me revelou o desejo de que esperava que o espaço nos proporcionasse algo magnífico um dia, lembra?

Jemma assentiu timidamente.

- E, agora, tendo a oportunidade de observar sua grandeza, eu continuo pensando da mesma forma.

A bioquímica, que havia desviado o olhar para o espaço diante de si, tornou a olhar na direção de Fitz.

- Nada aqui é mais magnífico do que você – disse com seriedade, olhando fixamente para ela.

Ainda que certa melancolia permanecesse em seu semblante, ela não foi capaz de evitar o sorriso que se desenhou em seus lábios, experimentando uma sensação bem-vinda de alívio ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Jemma não mais se conteve, aproximando-se para capturar os lábios dele nos seus em um beijo melífluo e afável.

- Eu te amo – ela sussurrou em meio ao beijo.

- Eu também te amo. Pela eternidade...

- Para além do universo – ela completou.

E tendo como plano de fundo as estrelas e toda a imensidão do espaço, o beijo prosseguiu como se o tempo não existisse; e ambos foram capazes de sentir a eternidade dentro de si: em seus corpos, seus ossos, suas almas...

Duas vidas que se tornaram uma só.

F I M

Amor nos Tempos da HYDRAOnde histórias criam vida. Descubra agora