Desterro

EPÍLOGO

Florença, 1801

O mesmo mau que surgira em Desterro, afligira os nobres e burgueses, da colônia e da metrópole, que possuíam membros mecânicos com pedras filosofais defasadas. Por sorte, ou azar, quem aderira àquela moda já tinha idade avançada, ou era o povo que comprava as invenções de segunda mão, apenas para exibi-las nos bailes e caminhadas.

Como tal maldição não se espalhava como a peste negra, logo foi controlada, ao custo de milhares de membros e cabeças que foram ceifadas. Foi assim que morreu o rei de Portugal, Dom José I, e muitos outros europeus. E da mesma forma que irromperam das chamas do inferno, os desmortos foram por força obrigados a retornar às suas covas.

"Haverá uma paz perpétua e constante, assim por mar como terra, em qualquer parte do mundo, entre as duas nações portuguesa e espanhola, com esquecimento total do passado[...]" Artigo I Do Tratado de San Ildefonso, assinado em 1º de Outubro de 1777.

No dia 30 de julho do ano de nosso Senhor de 1778, a Espanha, no poder de D. Carlos III, devolveu oficialmente a Ilha de Santa Catarina à rainha portuguesa, Dona Maria I, após uma guerra sem batalhas. Ou ao menos foi isto o que registraram nos livros de história.

Não houvera guerra, de fato, pois para existir uma, era preciso dois lados humanos disputando um ideal. O que ocorrera na Vila de Desterro fora uma carnificina, um massacre do povo de bem pelas crias de Satanás. E aquela praga era uma mancha tão sangrenta na história da colônia brasileira, que foi banida dos registros, apagada dos relatos e censurada pelo governo das metrópoles, que, após o extermínio dos desmortos, trataram de extinguir o uso dos fragmentos de pedras filosofais.

A Santa Inquisição Espanhola deixou de lado a perseguição aos padres jesuítas e começou a caçar os Alquimistas do Império, destruindo as pedras profanas e incinerando qualquer um que soubesse como fazê-las. Foi um período obscuro de nossa história, e não tiro a razão de quem resolveu podar o mal pela raiz, o homem deveria aprender a não tentar imitar o Altíssimo.

Para quem vivenciou o apocalipse, em Desterro e além, não é possível queimar da memória a imagem dos rostos putrefatos.

O retumbar dos passos vacilantes e sons agonizantes ainda ecoa em meus pensamentos, quando apenas o silêncio da madrugada e o piar das corujas são os meus companheiros.

Duvido que um dia ei de esquecer os desmortos, pois mesmo em avançada idade, eles ainda povoam meus pesadelos.

 ✎ 417 Palavras  

✲"Coleção dos tratados, convenções, contratos e atos públicos celebrados entre a coroa de Portugal e as mais potencias desde 1640 até ao presente, compilados, coordenados e anotados por José Ferreira Borges de Castro, 1880." Disponível em: https://archive.org/details/collecodostr03portuoft

✎Total de Palavras no Conto: 6934 (contados no Word)

✲ Notas da Autora: Espero que tenha desfrutado deste singelo conto de fantasia histórica com toques de horror❣ Ele foi escrito para o desafio 'Zumbis no Brasil Colônia' do perfil oficial do Wattpad FantasiaLP.

Trabalhar com ficção histórica sempre demanda muita pesquisa, ainda mais quando é sobre períodos com pouca informação aqui no meu estado (SC), por isso grande parte do foi em cima de livros antigos, mapas, relatos, enfim, além da trigésima página do Google. Isto tudo enquanto me inspirava com os filmes 'A Noite dos Mortos Vivos' (1968), Wild Wild West (1999), 'O Auto da Compadecida' (2000),'A Liga Extraordinária'(2003), 'Shaun of the Dead'(2004), 'Van Helsing' (2004),  'Zombieland'(2009), 'Legião' (2010), 'Deadheads'(2011), 'Train to Busan'(2016), 'Orgulho, Preconceito e Zumbis' (o livro é melhor que o filme) e etc. Menções especiais para o videoclipe 'Thriller' do Michael Jackson e as músicas 'Mistérios da Meia Noite' do Zé Ramalho e 'O Vira' de Nei Matogrosso❣

Tentei entrelaçar da melhor forma possível os acontecimentos da época com a desventura macabra do padre Santianno, deixando pedacinhos de mapas que encontrei em minhas pesquisas para situá-los durante a leitura. ☻

  Se você gostou, deixe seus votos nas partes do conto em reconhecimento ao trabalho da autora, agradeço imensamente quem comentar, também, adoro responder❣