Prólogo

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Matthew

Estou esgotado, daqui a 30 minutos tenho que voltar ao hospital.

Mesmo que esteja no meu horário de almoço, não gosto de ficar muito tempo longe do hospital ainda mais agora que nestes últimos dias o número de pacientes aumentou tragicamente. Enquanto estou aqui sentado em um restaurante qualquer comendo bife ao molho de não sei o quê, poderia estar lá pronto para qualquer situação de emergência.

Mas pelo pedido da minha mãe estou aqui, na verdade ela me obrigou a sair do hospital.

"-Você tem que respirar novos ares Matthew! Diversificar os seus hábitos alimentares, não está enjoado da comida daqui!?

Sei que foi uma pergunta retórica, mas mesmo assim respondo.

-Não, até que gosto do sabor.

Ela bufa.

-Matthew!! Levante essa bunda daí agora mesmo, não quero ver a sua cara aqui até o horário de almoço acabar, estamos entendidos?

-Mãe, não posso sair daqui desse jeito pode acontecer...

Ela me interrompe.

-Nada vai acontecer, se precisarmos de você aqui, iremos te ligar.

Me rendo sei que ela não vai parar de falar enquanto eu não sair daqui.

Desligo a tela do computador e pego a chave do carro já me levantando, quando estou quase saindo ela entra na minha frente.

-Lembre-se querido, não tente passar a perna na sua mãe indo em um delivery, ok?

Ela começa a ajeitar minha camisa tirando algum amassado imaginário.

-Eu irei saber se foi, então vai em um restaurante mais longe o possível.

-Tem certeza que você gosta de mim?

Ela ri, para os seus cinquentas e poucos anos a senhora Hailey ainda é atraente, o tempo não diminuiu a beleza dos seus dias de juventude.

-Eu te amo, agora saia daqui."

Saio das minhas lembranças, peço a conta ao garçom.

Me levanto da mesa. Estou prestes a alcançar a porta de saída quando uma mulher loira alta esbarra em mim.

- Oh, desculpe.

Ela faz uma encenação toda para demonstrar que está envergonhada, desde que cheguei neste restaurante a vi me olhando, então não tem como esse pequeno esbarro ser acidente.

Volto meu foco na saída.

Escuto ela balbuciar alguma coisa, mas a ignoro e continuo andando.

Já do lado de fora do restaurante, vejo que o tempo fechou.

Meu carro está estacionado do outro lado do quarteirão.

"Preciso andar rápido para não ser pego pela chuva", os céus parecem ter me escutado pois começa a chover rápido e em poucos segundos ela engrossou.

Vejo uma loja que tem uma pequena tenda em frente à sua porta, corro até ela para me abrigar.

"Não posso chegar no hospital todo ensopado e dar para a minha mãe um motivo a mais pra ela achar que devo tomar umas férias por um suposto resfriado"

Agora já salvo da chuva olho para porta da loja onde se encontra uma plaquinha escrita:
"Fechado para o almoço "

Atrás de mim ouço um barulho.

-Buceta!!

Me volto para olhar a dona do vocabulário sujo.

Fico paralisado por alguns minutos, o motivo é a mulher que está parada na minha frente. Ela tem um rosto pequeno e oval seu cabelo preto está todo encharcado, seus olhos são verdes claros fazendo uma incrível combinação com a sua pele negra e seus lábios são volumosos cor de vinho, olho vagarosamente para baixo até me deparar com a sua blusa branca agora totalmente transparente por causa da chuva deixando visível o sutiã e as curvas dos seus seios, noto que seus braços estão parados ao redor do corpo, o que chama mais a minha atenção é o seu quadril aonde uma saia preta justa abraça as suas curvas sedutoras dando a ela uma aparência erótica que faz meu corpo queimar.

-Desculpa.

Finalmente pisco saindo do transe.

-Você está bem?

-Se a pedra não arrancou o meu dedo fora, sim.

Abaixo meus olhos lentamente até os seus pés, não vejo nenhum sinal de sangue em sua sapatilha.

Ela se vira dando as costas para mim, por causa do vento sinto um leve cheiro de perfume feminino, inalo o seu doce e provocante cheiro.

"Tenho que focar minha atenção em outra coisa" o movimento das suas mãos ganha a minha atenção, inclino um pouco a cabeça e vejo que ela segura um livro em uma das mãos e usa a outra para abanar as bordas que estão molhadas tentando inutilmente as secar.

Me endireito.

-Acho que isso não vai dar certo.

-Também acho, mas não custa nada tentar.

Diz virando seu rosto em minha direção sorrindo.

Algo me empurra fortemente e acabo esbarrando nela, me viro para trás procurando a coisa que fez isso, mas me deparo com um senhor de idade que diz rapidamente algumas palavras de desculpa e volta para dentro da loja.

Me viro para a frente.

-Te machuquei?

Fico preocupado ao ver a sua figura agachada toda encolhida no chão.

-Está doendo em algum lugar?

Sem resposta.

De repente ela se levanta, vejo que está segurando o livro todo encharcado.

-Comprarei outro para você, é só me dizer o título e o autor....

Não está me ouvindo.

Toco no livro para tentar ver o seu título, mas o peso dos meus dedos contra a sua página fina e molhada o faz rasgar.

"Droga!!!"

Ela me olha horrorizada.

-Não tive a intenção de fazer isso.

Ignorando as minhas palavras se vira indo em rumo a rua, nessa hora passa um caminhão.

Mas graças a Deus fui rápido o suficiente para a puxar para os meus braços.

"Quase a perdi"

Esse pensamento me soou estranho.

Minha atenção se volta para a mulher que está em meus braços quando sinto uma pontada de dor no pé e a suas mãos me empurrando para trás.

- Me solta!

A libero.

-Você quase foi atropelada.

- Então o quê? deveria te agradecer por me salvar?

Ela vocifera.

"Não entendo a sua raiva."

-Sim, é o mínimo que se faz quando alguém te salva.

"Eu que deveria ficar com raiva, ela quase foi atropelada na minha frente, sou um médico porra! Jurei salvar vidas não assistir elas serem perdidas, para piorar ainda pisa no meu pé e me grita."

-Então aqui está o seu agradecimento.

Quando percebi o significado das suas palavras era tarde demais o livro já estava voando em minha direção.

Me curvo por causa da dor que se espalha pelo meu rosto.

Depois de alguns minutos levanto a cabeça, estou sozinho na chuva junto com o meu agradecimento.

"Era esses novos ares que você queria para mim mãe!?"

Chuva de ilusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora