Liris

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21 de setembro de 2066 - 03h

— Sua desgraçada!

Escuto o espelho dizer, mas não é o espelho, sou eu!

Não! Na verdade não sou eu!

É alguém que parece comigo e que tenta pressionar meu pescoço com as duas mãos para me sufocar...

E olha, está fazendo um ótimo trabalho, pois consigo sentir uma sonolência tomando conta de mim, mesmo sob a ausência de qualquer tipo de razão... É até um sentimento gostoso!

Só existe um detalhe a ser acrescentado: parece que se eu não tomar uma atitude urgente, vou morrer...

Esse pensamento me assusta e com ele vem aquela energia que nem sabemos de onde vem, que nem sabemos que temos.

Consigo arrancar as mãos da assassina do meu pescoço num tranco, e ao mesmo tempo acerto uma bela cotovelada na lateral de sua cabeça, a retirando de cima de mim.

Me levanto rápido demais, ainda meio zonza, e procuro algo, qualquer objeto para dar fim naquela maluca. Não tem nada ali, o salão está vazio, sem nem ao menos uma cadeira.

Então me contento em dar algumas bicudas em sua cabeça, umas quatro já está bom. Espera! Mais duas só para ter certeza.

Olho para seu rosto...

Meu rosto!

Está brotando sangue de todos os lados, mas sei que ela está viva, sinto.

Então nada mais me resta se não fugir...

Me detenho parada, olhando para o nada.

Fugir do que e por que?

Estou confusa, nem sei o que estou fazendo ali, dou uma balançada na cabeça para ver se meu cérebro pega no tranco, mas não dá certo, o branco persiste.

Corro até a janela e observo que estou num apartamento, terceiro andar eu acho. Dá pra ver boa parte da cidade dali, muito iluminada, com outros prédios redondos, num formato que eu nunca vi na vida...

Pelo menos eu acho, todo gato é pardo a noite...

A janela é grande o suficiente? — Me pergunto e já sei a resposta.

Arrasto o meu xerox mal feito até ela e com um esforço, a arremesso pela janela, mas ela (não a janela, a assassina, que fique bem claro) tem sorte: cai em cima de um tipo de lixeira.

O lixo amortece a queda do lixo! — Penso e sorrio feito louca.

Onde estou mesmo? Ah, eu ia fugir, sem saber o porquê, mas sabendo que deveria haver um porquê, afinal, o meu pescoço latejando significava que alguém queria me matar e se esse não fosse um bom motivo para fugir, então qual seria?

Tento abrir a porta, mas ela não tem maçaneta, vê se pode...

As duas que existem são da mesma forma, como se abrissem pela parte de fora ou tivessem um outro mecanismo para acioná-las.

Busco nas paredes qualquer tipo de interruptor ou algo parecido e vejo uma pequena ranhura horizontal, como se houvesse uma caixinha camuflada atrás dela.

Tento abrir com minhas unhas, mas não dá certo e começo a ficar preocupada. Algo me diz que tenho que ser rápida...

Com o meu sétimo sentido ligado dou uma corrida até a janela e descubro o motivo da minha ansiedade: a maluca não está mais sobre a lixeira!

Pode a qualquer minuto reaparecer vindo de uma das portas e saltar sobre mim.

Corro de volta para o mecanismo camuflado na parede e dou um soco nele.

Funciona!

Ele libera uma alça móvel. Levanto e não existe um botão, somente um ponto redondo desenhado, com uma luzinha vermelha saindo do centro.

Como se fosse a coisa mais natural do mundo a ser feita, me abaixo e deixo a luz penetrar no meu olho direito.

Escuto uma voz robotizada vindo do teto: doutora Liris, acesso negado.

Doutora é? — consigo rir sem nada entender.

Uma luz vermelha começa a brilhar, com o toque irritante de um tipo de alarme.

Essa era a deixa que eu aguardava. Volto para a janela e sem pensar muito dou um salto. Se amorteceu aquele saco de lixo de antes, a lixeira fará o mesmo comigo.

O impacto é mais duro do que pensei, dá a impressão que a lixeira é toda feita de cimento, mas mesmo assim não sinto dor alguma com a batida e nem acredito que não quebrei nada.

Meu corpo parece inteiro anestesiado!

Levanto, olho em volta, o local está mal iluminado, não existem veículos andando nas ruas, deve ser alta madrugada.

Corra!

Um pensamento me atinge em cheio e começo a correr, a princípio sem uma direção definida, mas depois sei exatamente para onde devo ir: para bem longe da louca que quer me matar.

Mas por que? — me pergunto já sabendo a resposta, que me chega do fundo da minha mente: ela quer tomar o meu lugar!

Isso só gera outro porquê que precede outros tantos, mas chego a uma conclusão, outra, também lógica e necessária.

Para saber dos porquês é preciso estar viva!

É uma excelente justificativa e assim continuo correndo sem olhar para trás, mesmo sentindo que alguém, provavelmente a dona do meu reflexo no espelho, segue meus movimentos, os monitora, como se fosse a minha própria sombra e, vejam só, de certa forma ela era mesmo...

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Capítulo dedicado ao amigo escritor calbranz que lhes dá o seguinte conselho, após ler o conto:

"Eu vim  do futuro, ou melhor, do último capítulo, para lhes sugerir que leiam esta novela numa sentada só. A narrativa será bem ágil, garanto. Certos textos, quanto menos vc interromper a leitura, mais rápido pra assimilar. Boa leitura a todos."

Capítulo também posteriormente dedicado ao amigo kamikaze_NA, pela sua interação:

"Vim do futuro pra dizer que é isso mesmo. A maioria não vai conseguir parar de ler, mas os que pensarem nisso: pensem duas vezes. A história foi feita pra ser como um soco, uma porrada no estômago dada de uma vez só!"

Quase AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora