21 de setembro de 2066 - 9h30
— Central, estou entrando na cidade, preciso de apoio, roupas e uma condução para chegar ao evento a tempo.
A comunicação ficou muda por algum tempo, para o estágio de verificação de segurança, que eu sabia que ocorreria.
— Neste mundo cibernético todo o cuidado era pouco — havia me explicado Alex antes do início do trabalho.
— E se tivermos alguma dúvida, você pode ter certeza Avel que vamos preferir destruir você do que correr um risco desnecessário...
Era neste "risco desnecessário" que eu me concentrava agora, mas não havia nada que pudesse fazer, a não ser aguardar.
Depois de algum tempo a comunicação foi feita dentro de sua mente e suspirei aliviada.
— Siga até o ponto combinado. Haverá uma nave de suporte aguardando você.
Reiniciei a corrida passando por algumas ruas desertas e em pouco tempo, estou no que restou da cidade que ainda era povoada.
Não olho para ninguém, tenho outras coisas em mente, mas preciso diminuir o ritmo quando me aproximo de um local mais movimentado, tanto pelas calçadas como a Avenida principal que corta a cidade de ponta a ponta, onde veículos eletrônicos de transporte coletivo circulavam lentamente.
Os transportes individuais já haviam sido abolidos há anos, mas nessa hora eu queria ter um, de duas rodas, igual aquele que eu vi nos livros de história contemporânea. Desta forma eu poderia chegar mais rápido ao meu destino.
Mesmo tendo cuidado, era inevitável esbarrar nas pessoas que agora enchiam os passeios públicos e que encaravam como se eu fosse uma alienígena.
Todos seguiam num ritmo melancólico, sem pressa, somente eu destoava daquela aparente tranquilidade.
Olhei para um relógio digital de uma torre iluminada e ele mostrava 9h40. O tempo voava e eu ainda tinha muita coisa para fazer.
Suando eu cheguei no local combinado e entrei numa nave de segurança, que subiu para faixa de trânsito aérea restrita para autoridades e policiamento.
Corri para um banho seco, arrumei meu cabelo o melhor que pude e depois de colocar um belo traje branco que evidenciava minhas curvas perfeitas, passei uma maquiagem simples.
Fiz tudo dentro de um cronograma de tempo perfeito e na hora que me dirigi para o saguão da nave, ela aterrissou no topo do edifício mais alto da cidade, onde eu era esperada para uma importante apresentação.
Assim que deixei a plataforma, Alex se posicionou andando rápido ao meu lado e reduzindo o meu ritmo ao me segurar pelo cotovelo.
— Calma Avel, já pode ir com mais calma...
— Desculpe! — disse exibindo um sorriso forçado — Foi uma aventura muito intensa, é difícil desacelerar.
Ele vestia um traje de noite impecável e coloquei meu braço por dentro do seu cotovelo, imaginando que formaríamos um belo casal, se as circunstâncias fossem outras.
— E Alex, é melhor começar a me chamar de Liris.
Ele deu um sorriso com dentes brancos que refletiam o Sol da manhã.
— É verdade doutora. Se eu cometer alguns equívoco, me dê um sinal.
— E falando nela — continuou ele — Foi muito difícil completar a missão?
Tive que sorrir novamente enquanto acenava para os seguranças da entrada do salão principal.
— É melhor não falarmos sobre isso aqui — disse eu em voz baixa e ele concordou.
Cumprimentamos diversas autoridades e empresários de vários setores tecnológicos, depois me desvencilhei dele e fui até uma mesa, para acertar os detalhes da minha apresentação.
Quando tudo estava preparado, o mestre de cerimônias deu as boas-vindas para todos e citou as pessoas mais importantes que se encontravam no recinto. Por último anunciou a minha presença.
— E agora chamamos para apresentar seu mais recente estudo de chips cerebrais, a doutora Liris.
Sob um caloroso aplauso eu subi ao palco e levei exatos 45 minutos para explicar todo o processo da pesquisa que foi realizada em 5 anos, após a proposta ser aceita na universidade de nanotecnologia do distrito.
— Esse é um campo que deixou de ser experimental, agora se tornou uma realidade que já pode ser comercializada e esse é o grande objetivo de hoje, mostrar para os potenciais investidores a gama imensa de utilizações desta nova tecnologia.
— Para ilustrar de forma científica os nossos progressos, lhes apresento o nosso protótipo, Sr. Karapony, que vai falar um pouco com vocês.
Saí do palco e fui me sentar na primeira fila, ao lado de Alex, enquanto os presentes aguardavam cheios de expectativa a continuidade da apresentação.
No telão onde foram exibidos os relatórios da pesquisa, uma câmera começou a focar num dos garçons que servia bebida para os convidados.
Ele abandonou sua bandeja sobre uma mesa, retirou a parte de cima do uniforme e o pendurou numa cadeira, para depois, com uma agilidade impressionante, pular por cerca de 20 metros, parando de forma suave no centro do palco.
Dirigiu-se até o microfone exibindo um sorriso.
— Como vão todos? Eu sou Karapony III e último, eu espero...
Várias risadas ecoaram no salão.
— Estou aqui para demonstrar a capacidade de armazenamento de informações, tempo resposta, da criatividade e inteligência do nosso mais recente produto desenvolvido.
O telão começou a exibir um vídeo acelerado da construção de Karapony III, enquanto ele explicava os detalhes sem olhar para a exibição.
Por último ficou congelada a imagem de um chip que cabia na palma de uma mão, ao mesmo tempo em que ele exibia um idêntico para os presentes.
Eu retornei ao palco, peguei com ele o chip enquanto Karapony abria sua camisa, mostrando que a pele que cobria o seu corpo era transparente, por onde podia se observar toda a sua construção interna, como músculos, coração e demais componentes anatomicamente iguais ao dos seres humanos.
Após essa exibição, Karapony se tornou o centro das atenções e começou a literalmente ser testado pela junta de profissionais das diversas empresas participantes.
Enquanto isso eu retornei para o meu lugar onde Alex me presenteou com um abraço e um beijo no rosto, enquanto eu trocava sem que ele notasse o chip recebido do humanoide por outro idêntico que carregava comigo.
— Excelente trabalho doutora Liris.
Você não sabe o quanto! — pensei sorrindo.
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Quase Amor
Mystery / ThrillerDizem que sempre existe alguém muito parecido com a gente vivendo por esse mundo afora, mesmo não havendo nenhum laço familiar. Tão parecido que as pessoas chegam a confundir um com o outro... Tão parecido que um poderia ser o outro! Liris e Avel po...