21 de setembro de 2066 - 02h
O prédio estava escuro e imaginei que isso era bom. Não queria assustar o alvo, mas antes mesmo que eu pudesse planejar algo, sinto minha cabeça sendo empurrada com força na direção da parede.
Não senti dor, mas creio que meu cérebro desligou por um tempo, pois quando abri os olhos, estava caída no chão.
Consultei o dispositivo em meu braço e descobri que apagara por cerca de cinco minutos. Dava tempo de reencontrar a doutora Liris e lhe agradecer mutuamente pela agressão.
Com cautela me coloquei em pé e senti um vento passando próximo da minha cabeça.
- Acenda! - berrei e um clarão cegante envolveu o cômodo.
Quando meus olhos se acostumaram com a claridade, pude ver o restante das pernas do alvo sendo içadas para um andar acima. Ela engenhosamente arrastou umas mesas e se utilizou de uma cadeira para entrar num tipo de alçapão de um lado só. Eu sabia destes dispositivos de segurança implantados nas residências modernas.
Não seria possível seguir Liris por aquele lugar, ela poderia esperar para me chutar a cabeça, como com toda certeza tentou antes, mas a minha vantagem é que a doutora não poderia retornar pelo alçapão.
- Central, na escuta?
- Prossiga Avel!
- Providenciem o bloqueio das portas eletrônicas para a doutora Liris.
Alguns segundos depois recebi a confirmação.
- Procedimento realizado com sucesso.
Fui para o próximo cômodo, abrindo e fechando as portas, buscando uma escada que me levasse para o segundo andar, o que só encontrei na outra ponta do prédio, junto à porta que dava acesso à cidade.
Para não correr riscos, travei a janela por dentro e passei um laço imantado no lugar que seria para o cadeado.
Por ali ela não sairia mais! - pensei satisfeita.
Subi as escadas.
Eu sabia exatamente em que cômodo ela se encontrava e estaria presa lá, a não ser que tivesse subido mais um andar, assim, fiz o mais lógico.
Fui pelas escadas até o terceiro andar, que era o último, e passei por todos os cômodos até o meu destino.
Ele se encontrava vazio, mas o alçapão havia sido utilizado, pois a fugitiva deitou uma cadeira e colocou sua perna na abertura do mesmo, para que ele não se fechasse automaticamente, como era o seu padrão de funcionamento.
Para o meu azar as portas do outro lado estavam abertas e me lembrei da janela que existia em cada um dos lados do prédio, por onde o alvo poderia fugir.
Corri nesta direção, meti o pé na cadeira que segurava o alçapão e fechei a primeira porta ao passar, encontrando o cômodo vazio.
Vi mais duas portas abertas e continuei correndo.
Ao tentar fechar esta segunda porta, ela ficou presa em algo e ao me virar, me deparei com Liris me aguardando com um soco preparado seguindo na direção da minha cabeça.
Me esquivei como pude e por puro reflexo, assim que ela soltou a porta, consegui com o pé fechá-la, mas levei uma rasteira que me mandou de cara no chão.
Levantei rápido e fui atrás dela, que tentava fechar a última porta. Por sobre seu ombro vi a janela e trombei com a porta usando toda a minha força, derrubando o alvo e sentindo um prazer imenso nisso.
Passei pela porta e a fechei rapidamente. Depois tentei atingir a doutora que, inteligente, gritou para que as luzes se apagassem bem na hora do meu golpe e conseguiu assim evitar meu ataque.
Com apenas a luz da janela servindo de claridade que vinha da noite lá fora, consegui vislumbrar seu vulto correndo em minha direção e me preparei para defender meu rosto e atacar de volta.
Só que ela era rápida demais e no último momento se abaixou e me deu outra rasteira.
Levantei como pude e levei outra, onde desta vez a batida da minha cabeça foi mais forte no chão e quase apaguei de novo.
Creio que a doutora percebeu sua vantagem e correu para a janela, mas eu não ia deixar ela escapar tão fácil.
Levantei meio zonza e andei até sua direção, percebendo que Liris analisava a distância da janela até o chão e como faria para pular dali.
Sem a mínima pena, bati na sua nuca com o meu cotovelo, sentindo um choque amortecer meu braço, devido a força com que a agredi.
Ela foi para o lado assustada, mas logo segurou com força a minha cabeça e quando percebi que a sua intenção era socá-la de novo na parede, girei rapidamente os braços e lhe acertei outra cotovelada.
Desta vez a doutora pareceu sentir o meu golpe e eu aproveitei para jogá-la contra a parede.
Após o impacto ela caiu no chão. Pulei sobre Liris com as mãos no seu pescoço, ao mesmo tempo que gritei para as luzes se acenderem.
- Veja, sua desgraçada! Veja bem o rosto de quem lhe matou...
Os olhos delas quase saltaram para fora das órbitas, não sei se de medo ou compreensão.
A única coisa que eu tinha certeza era que estava me divertindo muito ao vê-la morrer pelas minhas próprias mãos...
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Quase Amor
Mystery / ThrillerDizem que sempre existe alguém muito parecido com a gente vivendo por esse mundo afora, mesmo não havendo nenhum laço familiar. Tão parecido que as pessoas chegam a confundir um com o outro... Tão parecido que um poderia ser o outro! Liris e Avel po...