Liris

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21 de setembro de 2066 - 8h

— Sinto muito lhe dizer isto, mas se tem um culpado aqui, este alguém é você!

As palavras de Avel ainda se repetiam na minha cabeça.

— Mas por que? — eu perguntei, de alguma forma já sabendo a resposta.

— Você desenvolveu a tecnologia que utilizaram para a transformar num tipo de máquina e essa tecnologia e a sua aparência foram a razão de eu ter aceitado esse trabalho...

Quando a verdade me atingiu eu tive um desejo insano, por assim dizer, de deixar de existir.

Assim, quando eu lhe entreguei a arma elétrica e pedi para que Avel concluísse o serviço, estava preparada para assumir as consequências deste meu erro monstruoso, pois era inimaginável criar algo que retirasse a vida de uma pessoa.

Na minha cabeça isto era um tipo de assassinato e eu não queria viver com esse conhecimento.

— Faça logo o que tem que fazer! — implorei para ela sentando no chão — Faça de uma vez, por favor...

Fechei os olhos e fiquei esperando o impacto elétrico que atingiria a minha cabeça a qualquer momento, mas ele não veio.

Em vez disso, senti as duas mãos dela tocando meu rosto e o levantando na sua direção, para eu constatar que ela chorava.

— Não vou fazer isso, não desse jeito — Avel me disse e apesar das lágrimas tentou sorrir — Eu acredito que você mereça ter de volta suas lembranças antes de partir, tudo aquilo que faz parte do seu lado humano...

— Eu não mereço isso, eu sou uma coisa agora, não mereço viver!

— Se você fosse uma máquina qualquer Liris, eu já estaria morta, pois máquinas só respondem a comandos e não se deixam levar por sentimentos.

— Em matéria de humanidade doutora, você parece ser mais humana que eu...

Tive que rir do que ela disse.

— Isso é verdade! Você está tentando me matar há horas, que tipo de humano faria isso?

Rimos juntas e chegamos a nos abraçar, até que a situação se tornou embaraçosa.

Como é possível deixar de odiar alguém tão rapidamente? — me questionei novamente já tendo uma explicação lógica: O que eu senti não era ódio, era somente o meu instinto programado de sobrevivência falando mais alto.

Quando pensei nisto, percebi que Avel estava certa, eu precisava saber mais sobre mim, ver o que tinha me levado a criar aquela tecnologia, mas um receio se apoderou de minha mente.

— E se eu descobrir que sou um monstro sem coração e que fiz tudo por dinheiro ou poder? — disse me levantando.

— Todos cometemos erros e isso só a tornaria mais humana ainda...

Definitivamente ela tinha razão.

— E o que vamos fazer, você não tem um prazo?

— Já pensei em tudo, mas você vai ter que confiar em mim doutora, pois pode não dar certo...

— Qual é o seu novo plano?

Avel me encarou séria.

— Eu ainda tenho um plano, tudo vai depender de todo conhecimento que você carrega em seu chip cerebral. Está disposta a arriscar Liris?

Não precisei responder, ela leu em meu rosto, nosso rosto, que eu estava preparada para qualquer coisa.

— Só me prometa que se eu for um monstro você me deixará desligada...

Quase AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora