Capítulo XXXIV

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E você não sabe o que você tem até que acabe,
E você não sabe quem amar até estar perdido,
E você não sabe o que sentir
até o momento ter passado
Eu queria que você vivesse
como se fosse feito de vidro

E você não sabe o que você tem até que acabe,E você não sabe quem amar até estar perdido,E você não sabe o que sentir até o momento ter passadoEu queria que você vivesse como se fosse feito de vidro

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Alfonso não podia controlar aquele choro. Ele vinha de dentro com a potência de um tornado. E quando ele parava pra refletir, a última vez que ele tinha chorado tanto realmente tinha sido na infância. Talvez por querer manter uma postura masculina, uma imagem de invencível perante os olhares de recriminação dos outros. Seu pai jamais o deixaria demonstrar fraqueza.

"Você é um homem, meu filho. Mais do que isso, você é um Herrera.", Armando Herrera costumava dizer. Mas uma criança, pensava Alfonso, não deveria se ocupar sua mente com esse tipo de coisa... sobre os ombros de uma criança não se devia depositar o peso de ser um homem. Aquele choro, percebeu, não era apenas por Anahí, mas por ele mesmo... e pelo menino que ele viu morrer dentro de si e tudo para agradar seu pai. Um pai que sequer se importava em saber como ele estava, se era feliz, se estava com algum problema. As poucas palavras que ele trocava com o pai eram sempre sobre negócios: "Em que cidade podemos construir o próximo hotel?", "Deveríamos abrir um Resort no Caribe ou nas Ilhas Fiji?", "Como estão as pesquisas de qualidade? E o merchandising?".

Era sufocante e Alfonso não sabia como dizer ao seu pai que não acreditava em nada daquilo, que embora fosse um empresário bem sucedido e constantemente aclamado pelas maiores revistas do país, seu coração não estava no mundo dos negócios. Era verdade que ele se dedicara a seguir os passos do pai e assumir os hotéis desde muito cedo, mas nada daquilo fazia seu coração bater mais forte, nada daquilo podia ser, nem de longe, chamado de vocação. Pelo contrário. Enquanto seu pai falava em explorar áreas cada vez maiores, incluindo reservas ambientais, para expandir o seu império hoteleiro, tudo o que Alfonso queria era preservar aquelas mesmas reservas. Ele se importava com o meio ambiente e sempre quis trabalhar em algo que lidasse com ele, se uma forma ou de outra. Com a experiência que teve no ramo hoteleiro, ele descobriu-se buscando alternativas para desmatar menos e aproveitar os recursos naturais dos locais onde os hotéis e resorts de sua família eram construídos, sem exaurir os recursos naturais. Foi assim que o filho de Armando Herrera, contra todas as possibilidades se descobriu querendo ser um paisagista. Não daqueles que destroem a natureza, mas sim dos que projetam espaços abertos e amplos, onde a natureza vive em harmonia com as pessoas.

Depois da conversa com Christopher, ele sabia que se queria ter o controle de sua vida de volta, ele precisava se posicionar e tomar uma atitude. Ninguém faria aquilo por ele. Ele teria de lidar com tudo sozinho e o primeiro passo seria enfrentar seu pai. Sem fugas, sem deixar pra amanhã. Ele entraria na casa onde costumava viver e falaria tudo o que vinha guardando por anos e que agora não podia mais reprimir.

Pegando as chaves do carro e a carteira, Alfonso saiu apressado de casa, com o coração acelerado e as mãos suando. Havia uma certa adrenalina em saber que iria contra a vontade do pai pela primeira vez em toda a sua vida. Agora, ele finalmente criava coragem para ser quem realmente era, como tinha dito para Anahí uma vez há muito tempo atrás na praia em Carmel. Alfonso não viu quando cruzou o semáforo. Quando percebeu o que acontecia, não havia mais nada para ser feito, um carro de médio porte atingia em cheio seu Audi pela esquerda.

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