Floresta do Sul

Capítulo IX

–Tenho que lhe contar uma coisa! – Gina e eu praticamente gritamos em uníssono, ela se senta no chão de madeira velha do terraço e eu a acompanho. Uma borboleta paira sobre nós e eu sorrio.

– Certo, você conta primeiro. – Ela diz, olhando a borboleta amarela que agora já estava indo embora. Eu sempre amei borboletas, Gina nem tanto.

– Bom, eu nem sei como te contar.

– Vamos, Chloe. – Ela me apressa, mas está diferente, está assim desde que conversou com Miranda hoje mais cedo e estou preocupada se ela descobriu que Gina saiu do orfanato sem permissão ontem.

– Taylor me beijou.

– O que?! – Ela arregala os olhos. – O Taylor que chegou no orfanato semana passada e tem olhos cor-de-árvore?!

– Este mesmo.

– Meu Deus! O que você fez?

– Ora, nada. Ele apenas chegou perto de mim e me beijou, foi coisa leve. Mas eu não fiz nem disse nada, então ele sorriu e saiu.

– Caramba. – Ela arqueia as sobrancelhas. Gina estaria mais animada e tentaria arrancar detalhes de mim a qualquer custo se fosse em outro dia, o que me fez ficar ainda mais preocupada por sua reação tão simples.

– O que aconteceu, Gina?

– Ah, Chloe, não sei como te falar.

– Vamos, Gina! – A apresso do mesmo jeito que fizera. Ela sorri.

– Aquela hora que fui falar com Miranda... eu... consegui uma... – Ela suspira e joga os cabelos para trás. – Eu vou embora, Chloe. Eu consegui uma família.

Fico boquiaberta. As emoções se misturam dentro de mim e vejo que se misturam nela também. Eu estava feliz por ela ter conseguido um lar, mas ao mesmo tempo triste de a ver partir.

– Quando? – É a única coisa que consigo dizer. Ela suspira triste.

– Amanhã.

– Eu... — Me embolo nas palavras. — Caramba, estou muito feliz por você. — Solto por fim.

– Ah, Chloe, eu não quero deixar você... – Ela parece a beira de chorar, então chego mais perto e pego sua mão.

– Não se preocupe, Gina, eu vou ficar bem, e você pode me visitar sempre que quiser. Mas não fique mal por mim, por favor. Já sou adulta, em breve vou sair daqui também, começar minha própria vida.

– Queria que você fosse comigo, mas Miranda...

– Miranda?

– A família que vai me adotar queria levar você também – Ela suspira mais uma vez. – Mas Miranda não deixou e não disse o motivo.

Suspiro, teria de procurar Miranda mais tarde, apesar de não ser uma grande novidade que ela não me deixe ir com alguém.
– De toda forma, você tem que agarrar essa chance, Gina. É uma oportunidade única e você deve ficar feliz, entendeu? Eu vou ficar bem e você, como minha irmã mais nova, tem que cumprir minhas ordens de ficar feliz e ir tranquila.

Ela sorri.
– Eu vou sentir tanta sua falta, Chloe.

– Eu também, Gina, mas agora vamos, levanta, vamos fazer alguma comemoração entre nós e uma despedida.

Sorrio, encostada no tronco de uma árvore enquanto lembro do passado de anos atrás. Eu estava tão abalada por Gina ir embora, mas ainda assim fiz de tudo para esconder, para que ela pudesse ir mais tranquila, sem culpa.