Capítulo X

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Vozes baixas, sussurradas ao fundo, ganham minha atenção. A escuridão faz com que me lembre que ainda estou de olhos fechados, mas não os consigo abrir na primeira vez que tento. Nem me mexer. Meu corpo parece estar se acostumando com tudo de novo.

Continuo quieta e paciente, tentando me concentrar nas vozes, enquanto espero meu corpo despertar e reagir.

– Por que não acaba com isso logo?

– Não. – A voz era familiar, mas meu cérebro ainda não processou de quem era. Só sabia que era uma voz masculina e outra feminina.

– Por quê? — A indignação era presente em cada sílaba.

– Não. — Repete a voz masculina, simplesmente.

– Ela é um peso, você sabe que ela não deveria estar aqui, sabe que está desviando dos planos.

– Mas ela vai ficar.

– O que ela tem de tão especial? — Indagou depois de alguns segundos de silêncio.

– Ela tem coragem. — A mulher riu com escárnio.

– Isso todos nós temos, fomos treinados.

– Exatamente. Ela não cresceu como nós, ela merece um crédito por isso. – Não deviam estar falando de mim, penso ainda meio atordoada. Certamente não sobre mim, pois o que mais me faltava ali era coragem.

– Vai ficar nessa situação por quanto tempo?

– O tempo que eu quiser, o tempo que ela precisar. — Responde ele, firme.

O silêncio paira e então ela suspira.
– Ainda vou mudar isso.

— Cuidado, Dressa. — Ele grunhiu. Eu quase podia ver a indignação na expressão dela quando ela falou:

— Está me ameaçando por causa dela?

— Sabe que jamais agiria contra um dos meus. — Sua voz possui uma calma terrível, e se despertando rapidamente com aquela conversa, meu cérebro então volta a processar o suficiente para saber que é Rhys quem está ali com ela. — Mas as ordens foram dadas: ninguém toca nela.

Ouço um grunhido vindo dela e então passamos se distanciando, e, por fim, um suspiro cansado.

Tento me mexer novamente, mas mudo de ideia no último segundo. Era melhor ele pensar que eu não estava ouvindo nada.

Mas não ouço seus passos indo embora. Só ouço um barulho semelhante a um peso sendo jogado contra algo. Talvez ele deva ter se sentado. Espero mais três minutos no completo silêncio e finalmente abro os olhos. O lugar era escuro, e parecia uma cabana velha de madeira. Viro a cabeça devagar.

Rhys estava com a cabeça entre os braços, o corpo inclinado com os cotovelos apoiados sobre o joelho. Não estava me vendo. Aproveito para analisar o local e pensar numa rota de fuga caso precisasse.

Eu estava em uma cama macia. Havia também mais duas camas ao meu lado, mas estavam ambas vazias. Algumas coisas estavam sobre uma bancada no fundo do cômodo e um galão que parecia ser de água. Também havia remédios em uma prateleira e cobertores em outra.

Do meu outro lado só havia a parede velha de madeira.

Tento me sentar sem fazer barulho, mas a cama geme com o peso do meu corpo e Rhys levanta a cabeça imediatamente. Fico parada e constrangida. Ele não era a primeira pessoa que eu queria ver, mas não tinha como mudar isso agora.
Estou apoiada sobre um cotovelo e deixo meu corpo cair de volta na cama, encarando o teto.

Ele se levanta devagar e se senta na cadeira ao meu lado, tão delicada e lentamente, como se não quisesse me assustar.

– Há quantas horas estou aqui? – Pergunto.

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