Capítulo 8

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Eu nunca acreditei em espíritos. Nunca acreditei em fantasmas.  Até critiquei o espiritismo. E olhem só onde vim parar? Laysla parecia estar tão atordoada quanto eu. Pelo menos Laysla era tão cética quanto eu, e agora nós dois estamos sendo surpreendidos.

— E o que houve? — Olhei para a velha — Lira era o que para mim? O que houve para nossa ligação ser tão forte ao ponto de nos ligar por mais de uma vida? E eu não sou Elias, sou Kenneth. Então eu não morri assim... Eu tive uma vida e uma morte recente! EU QUERO SABER O QUE ACONTECEU!

Uma prateleira se virou ao fundo e o clima ficou mais frio ali.

— Kenneth! — Laysla me tocou, e eu senti uma tranquilidade me invadir. — Fica calmo.

— Eu posso navegar com vocês pelo passado...descobri a história. Mas, sua vida recente, não sei se posso. Ver a vida passada é simples, foi há muito tempo. Mas coisas recentes, com o espírito ainda vagando...

— Não fale assim, por favor — fechei meus olhos

— Nos leve até nossa vida anterior — Laysla pediu — O que houve nesta vida eu me encarrego de descobrir.

— Dêem as mãos — ela pediu

Laysla e eu demos. A velha fechou os olhos e apontou as mãos aberta para nós, como se fosse fazer uma oração. Eu não lembro de ter dormido, mas foi o que pareceu. de repente, estavámos na estrada que Laysla e eu fomos abalados, porém, o tempo era outro. Não parecia ser atual, e muito menos em séculos recentes. Parecia ser antigo, muito antigo.

Um homem surgiu, trajando roupas simples e uma sacola de pano; eu reconheci minha imagem nele, mesmo que seu estilo alterasse certas coisas. ele olhou ao redor, e em seguida, uma mulher apareceu. Meu coração saltou, não assustado, mas apaixonado; eu pude notar que estava sentindo tudo que ele sentia, e pude notar que a mulher era Lira, o passado de Laysla. Ela trajava roupas de camponesa, mas ainda estava linda. Laysla me olhou e eu esperei.

— Eles estão fungindo — disse ela

— Sim. — ouvi a voz da velha falar — Lira está prometida para o duque, mas é apaixonada por Elias. Embora ele seja rico e de boa família, o pai não quer mudar o noivo devido sua palavra que já foi dada.

Neste instante, um velho chega em um cavalo, e os dois parecem assustados.

— Ele prometeu deixar Elias ir — a avó continuou — E Lira confiou...— Lira foi até seu pai, e no instante que se entregou, o pai atirou em Elias. Atirou em mim — Mas o pai não foi fiel.

Eu senti a dor na minha barriga; senti a agonia do tiro.

— Lira ficou desesperada — a avó falava, e eu olhei para a moça que se debatia — ela não pôde suportar.

Lira pegou um punhal e pressionou contra o peito.

— NÃO! — gritei sem notar

Laysla apertou minha mão, eu senti algo se quebrar dentro de mim, e logo a lembrança se desfez, assim que Elias fechou os olhos.

Estavámos de volta à loja. A avó nos fitava, e eu não tinha o que dizer. Lira amou Elias de um jeito impressionante; de um jeito tão forte que nem a morte ela temeu. Olhei para Laysla que me fitava perplexa.

— Vocês são ligados — a avó falou — em tantas vidas pois tal prova de amor é muito forte. Nunca vi alguém se matar sem nem ao menos pensar ou temer. Ela se matou sem nem cogitar.

— Ela amava ele demais. — Laysla falou com uma voz rouca.

— Então nós reencarnamos — olhei para a velha. — como Laysla e Kenneth.

— Sim.

— Mas se estamos ligados, eu não deveria ter ficado com ele — Laysla corou e eu me senti desconfortável. Eu era casado, e tinha uma filha.

— Sim...— a velha assentiu — mas Kenneth morreu antes.

— Eu era casado em vida — disse — Não faz sentido.

— Você é crítico, certo? — a velha me olhou

— Sim. — cruzei os braços

— E tem 27 anos?

— Onde quer chegar? — perguntei

— Não sei quando você morreu, senhor. Mas, eu quero que pense em algo que pode ter feito ou que poderia ter feito que talvez fizesse você e Lasyla se conhecerem — a velha sorriu.

Olhei para Laysla e pensei. O que eu poderia ter feito? como, em algum momento, meu caminho se cruzaria com o dela em vida?

Minha mente me levou a Katarine, uma conversa durante o jantar.

— Você trabalha demais — disse minha esposa

— Eu sei. Mas tenho que organizar muitas coisas antes de fazer o trabalho real —falei, irritado — eu faço tudo.

— Então não faça. — Katarine disse — Contrate uma assistente. Aposto que tem garotas fora da universidade precisando de emprego.

Olhei para Camile, que não nos olhava. Fiquei em silencio, mas tive certeza que naquela noite mais tarde, havia decidido contratar alguém.

— Você queria um emprego — falei para Lasyla

— Como é? — ela piscou

— Você queria um emprego. Tava procurando por algo?

— Hã, sim. — Laysla olhou para avó. — meses atrás eu queria trabalhar de assistente pessoal.

Meu sangue gelou.

— E você estava atrás de uma. — a avó riu — aí está onde tudo iria acontecer.

— Mas ele morreu antes. — Laysla sussurrou

— Meses atrás. — murmurei

— Sim. — Laysla franziu o cenho — quase um ano, eu acho.

— Eu já estou morto há quase um ano? — quase gritei

— Calma, Kenneth. — ela pediu, com os olhos mel brilhando — precisamos falar com sua esposa. Temos que saber como você morreu.

— Por quê? — indaguei

— Algumas almas se libertam depois de saberem que morreram — a avó deu de ombros

— Mas onde minha esposa pode estar? — perguntei frustrado

— Vamos achar. — ela pegou minha mão e eu a puxei, automaticamente.

Laysla se encolheu, e desviou o olhar de mim.

— Vamos procurar na internet — ela sugeriu — temos que saber o que houve e descobrir o que te prende aqui.

— Certo. — me levantei e olhei para a velha — Obrigado.

— Algumas almas foram mortas por raiva e condenadas a vagar entre nós como castigo. Talvez, seja preciso alguém para te deixar ir.

— Quem me mataria? — sussurrei

— Esse é o ponto, não é? — a velha sorriu — Como você morreu? E por que morreu? Quem era você, Kenneth Walker?

Incógnita: Deixe-o irOnde histórias criam vida. Descubra agora