Capítulo 17

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Os três falaram ao mesmo tempo, dizendo que isso era impossível, que não tinha lógica no que tinham acabado de presenciar. Kenneth franziu o cenho e ficou balançando um pêndulo que decorava a mesa de centro. Katarine olhava o objeto completamente assustada e eu estava gostando da cara que ela fazia para isso.

— Chega! — gritei e os três se calaram — Ninguém vai preso! Kenneth só precisa ouvir uma confissão para que sua alma possa descansar em paz.

— Eu não o matei! — o irmão de Katarine disse de uma vez — diria se fosse. Eu que não iria querer Kenneth na minha cola. Se vivo ele já era assustador, morto que eu não quero provar.

— Morto sou até melhor — Kenneth disse

— Você está tirando sarro? — olhei para ele — um deles pode ser seu assassino.

— Eu aposto em Tommy — Kenneth deu de ombros — e vou me divertir puxando o pé dele por um tempo antes de ir.

— Você é tão idiota — bufei

— Está falando com Kenneth? — Katarine tremeu

— Ah! — me encolhi — desculpem. É que já estou acostumada então acho natural, eu esqueci que vocês...

— Como só você pode vê-lo? — Tommy indagou

— Kenneth e eu temos uma ligação de vidas passadas — senti meu coração acelerar — nós nos conhecemos como Lira e Elias — olhei para Katarine que cobriu a boca com as mãos — Exato. Kenneth não estava te traindo. Era só um sonho de uma parte antiga de uma vida passada. Ele e eu, Elias e Lira, iam fugir juntos porque se amavam, mas ambos morreram. Elias foi morto pelo pai de Lira, e Lira se matou por Elias.

— Uau. — Tommy se sentou — você quer dizer que você se matou...

— Era uma outra vida — defendi

— Então vocês estão ligados — Katarine entendeu — isso quer dizer que nesta vida você ainda é o amor dele? Ou teria sido caso ele não estivesse morto?

— Ela entendeu bem demais — Kenneth sussurrou

— É — sussurrei para os dois.

— Que impressionante — o cunhando de Kenneth riu

— Eu não o matei — Katarine sorriu — Gostava de Kenneth. Talvez não tanto quanto você o amaria, não é mesmo? Mas eu gostava dele. Mesmo com tudo que passamos.

— Kenneth sente muito — disse para ela, e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Diz para ela — Kenneth pediu, e eu o olhei — diz exatamente o que eu vou dizer.

— Kenneth quer eu fale por ele — eu olhei para Katerine.

— Estou ouvindo — ela engoliu o choro.

— Katarine...— repeti — Eu fui um bobo. Fiz coisas horríveis para você, para Camile, e para sua família. Preso nesta forma eu não lembro de muito, mas eu lembrei de coisas que me fizeram sentir o quão ruim eu era. Lembra da noite que te pedi em casamento? Você usava um vestido turquesa e disse que não gostava dele, mas o usou por que era minha cor favorita.

Katarine chorou forte.

— Eu rasguei aquele vestido naquela noite e prometemos nunca falar nisso para ninguém. — continuei narrando, sentindo a dor de Kenneth — Você não queria que alguém soubesse que você fez isso para me agradar. Mas agradou. Me desculpe por ter sido tão ruim para você. Me desculpe.

— Eu desculpo — Katarine chorou, olhando para Kenneth. Eu sabia que ela não o via, mas estava olhando para o mesmo lugar para onde eu olhava.— Perdoo você, Kenneth.

— Obrigado. — disse ao mesmo tempo que Kenneth.

— Bom. — falei por mim mesma agora — fico feliz com isso. Mas ainda preciso da confissão.

— Não fui eu! — Tommy declarou e todos olhamos para ele.

— Você é o maior suspeito — contei

— Tommy? — Katarine pediu.

— Não fui eu, Kat. — Tommy afirmou, mas parecia assustado.

— Ele tá tremendo. — Kenneth observou.

— Foi você — acusei.

A porta da frente se abriu e uma agarota magra de 16 anos entrou. Tinha cabelos loiros e pele branca. Ela usava um uniforme escolar, e parou de sorrir assim que nos viu na sala.

— Camile...— Kenneth suspirou

— Filha...— Katarine sorriu — Suba para seu quarto.

— Que está havendo? — ela perguntou.

— Nada. — disse para ela. — eu já estava de saída.

— Como é? — Kenneth quase gritou.

— Não vou fazer isso com ela aqui. — rosnei para Kenneth.

— Ela tá certa — Katarine olhou para o lugar onde Kenneth estava — amanhã.

— Que é isso? — Camile parecia confusa.

— Até amanhã. — saí e Kenneth veio comigo.

Do lado de fora, ele parecia pronto para virar o Hulk.

— E se Tommy ir embora? — ele perguntou.

— Katarine não vai deixar.

— Ah! Claro. — ele bufou.

— Deixe de ser idiota. — revirei os olhos. — amanhã voltamos.

Na loja, minha avó estava lá, esperando. Seu sorriso se foi quando viu Kenneth ainda ali.

— Amanhã! — Kenneth passou direto.

— Que houve? — minha avó perguntou e eu contei tudo. — Está certa. É melhor que a garota não presencie isso.

— É. Vou subir. — beijei sua face e subi para meu quarto.

Abri meu notebook rapidamente e vi uma notificação do meu facebook. Camile havia aceitado minha solicitação. Ia fechar meu notebook e ir para o banho, mas decidi ver a vida da garota. Será que ela havia reagido bem à morte do pai? Será que faria bem ela passar por isso? Não sabia onde Kenneth estava, mas era melhor stalkear a garota sem ele por perto. Quem sabe ela havia dito algo estranho que entregasse Tommy de uma vez.

Passei publicações, e notei que ela havia sumido das redes sociais por um tempo, logo após a morte do pai. Depois voltou, compartilhando coisas simples e algumas tristes. Ela publicou algo sobre uma dor no peito.

— Que triste. — sussurrei — ela sofreu.

Entrei nas fotos dela, e sorri ao ver uma foto dela com Kenneth. Ele estava com um livro na mão e ela ao seu lado, usando uma blusa azul com a estampa de uma frase em inglês: My baby dear.

O quarto ficou gelado. Quase caí da cadeira. Minha avó havia visto a mesma frase em um fundo azul; azul como a camisa de Camile.

— Laysla? — Kenneth chamou da soleira da porta. Eu o olhei, completamente assustada e penosa — Que houve?

— Camile. — disse com lágrimas nos olhos— ela matou você.

Incógnita: Deixe-o irOnde histórias criam vida. Descubra agora