Quatro

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QUATRO

Acordo subitamente com uma dor na parte frontal de minha cabeça. Tento colocar a mão no machucado para ver o estrago, mas não consigo mexer os braços. Está tudo escuro e percebo que não consigo usar minhas mãos, pois algo está amarrando meus pulsos juntos e também não consigo me levantar, porque os meus calcanhares também estão amarrados. Quem fizera aquilo comigo? Está tudo em silêncio e acredito que não tenha mais ninguém aqui perto de mim. Começo a ficar agitada. Os Oficiais do Governo podem estar por trás disso. Eu tenho certeza. Eles devem ter nos alcançado de alguma maneira.

A floresta era um local extremamente proibido para qualquer pessoa e nem eles estavam isentos disto, já que ela guardava seres estranhos, famintos e cruéis. Quando ia para o lago com Daros e olhava para a entrada da floresta eu sempre ficava arrepiada e imaginava vários olhos me fitando por entre aquelas folhas enormes. Sei que como eles estavam perseguindo fugitivos tinham motivos para entrar nesta área proibida de Diaurum. Se eu realmente estivesse em suas posses acho que estaria agora sendo levada para interrogatório, em algum carro ou pelo menos estaria vendo a luz do sol. Isso aqui mais se parecia com o buraco em que caíramos. Penso em meu avô aparecendo do nada. E depois em como fui inútil para conseguir salvá-lo, pois estava pendurada no ombro de Raed quando tudo ocorrera. O último vislumbre que tive de meu avô foi quando um Oficial finalmente voltara a se mexer e o esfaqueara no peito. Penso nos Oficiais parados, inclusive o homem de dois destinos. Do que foi que ele havia me chamado? "Interferência"? Por quê?

Sinto as lágrimas quentes varrerem meu rosto e percebo que não há mais esperança para mim. Desde o dia em que minha mãe tivera a sua Cerimônia da Segregação, tanto o seu quanto o meu destino estava selado. Fui estúpida em tentar mudar alguma coisa. Só queria dormir e quando acordar ver que tudo isso não passou de um pesadelo. Por mais que eu queira acreditar, eu sei que não é um sonho e começo a procurar a saída. Arrasto-me por sobre a terra cegamente e tateio com minhas mãos unidas procurando uma saída. Quando toco algo que parece ser o braço de alguém eu paro. Não caíra sozinha no buraco. Será que todos nós estávamos aqui, mas eu fui a única que acordara? Balanço aquela pessoa a fim de que recobrasse a consciência. Sorrio quando escuto sons de recusa saindo da boca do desconhecido.

- Para com isso! – Era a voz de Raed. Ele parecia irritado, e terminei parando de chacoalha-lo no susto. Nunca era legal ir contra algo que Raed dizia. Depois de um tempo de confusão ele notara que suas mãos e seus pés estavam atados. – Que danado é isso? Onde a gente está? E quem é você? – Rolei meus olhos, mas compreendi que estava tudo escuro e ele realmente precisava de respostas.

- Primeiramente eu sou Kalina. Pode se acalmar que não vou te fazer mal – nem se eu quisesse conseguiria fazer algo do tipo. – Não sei quem nos amarrou e nem o porquê e acho que estamos no buraco que caímos enquanto estávamos correndo na floresta. Acredito que os outros também estão aqui.

Ele grunhiu algo incompreensível e depois começou a gritar:

- Agatha! Agatha! Se vocês fizeram alguma coisa com ela eu arranco a cabeça de vocês um por um! Por que se escondem? Por que nos amarraram, hein? Estão com medo que eu esfole todos vocês? – Ele praguejou por mais um tempo e desejei que outra pessoa tivesse acordado ao invés dele. Mas ao mesmo tempo estava contente, pois se alguém viesse nos machucar eu tinha certeza que Raed poderia fazer tudo isso que insinuara e eu poderia continuar viva. Mesmo estando ele amarrado, a determinação mortal de Raed era algo que não se deveria duvidar, ou menosprezar.

Os gritos de Raed terminam por acordar mais alguém que acredito que fosse sua irmã. Agatha começa a resmungar baixinho e quando percebe a escuridão em que se encontra começa a gritar. Sinto que ela tenta retirar as suas amarras de forma escandalosa e faz um enorme barulho.

Interferência - A Casa das Máquinas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora