JOSHUA

s e v e n

27 de novembro de 2017, San Diego.

Acordo devagar a criança que ainda dorme, murmurando que está na hora e que ela tem de ir para a escola. Minha avó apressou-se logo depois, a vir vesti-la, enquanto caminhei para a cozinha, onde Elaine acabara de tomar o pequeno almoço.

— A Cat vai demorar muito tempo? Daqui a pouco já está na hora. — Vejo perfeitamente no seu rosto a fúria a crescer.

— A avó está a vesti-la. Tem calma. — Acabo por enfurece-la, fazendo com que ela pegue na mochila e saia de casa. Ela anda cada vez pior. E desde que aconteceu aqueles problemas cá em casa, ela está três vezes pior. Minha avó apressa-se a vir para a cozinha, onde acaba por dar de comer a Cat.

— Cat quer leite. — Olhamos para a criança que já pedia leite há alguns dias, porém a nossa mas continua em coma.

— Cat já te explicamos que só a tua mãe tem o teu leitinho, tens de esperar que ela melhore, sim? — A menina abaixa a cabeça, tristonha. Pego na minha mochila e saio de casa, dando um beijo na minha avó.

O caminho até à escola foi feito em silêncio, enquanto repensava em tudo o que tinha acontecido esta semana. O facto do meu pai ter espancado a minha mãe, violado a Elaine, ter feito Catherine se sujar no seu próprio vomitado, me ter feito o que fez, e o facto da minha mãe ainda estar em coma. Tudo isso me fazia repensar imenso e cada vez mais, estava farto da vida que tinha. A vontade de ir à escola não era muita também. Sabia que os colegas de turma iriam se afastar de mim, afinal ninguém quer estar ao lado de um rapaz cujo pai maltrata a mãe e os filhos. Em todas as escolas, acabava sempre por deixar de aparecer devido ao falatório. Nesta escola, está previsível o mesmo.

Respirei fundo antes de entrar pelos enormes portões verdes, enquanto já me doía a barriga com os nervos. Enquanto passava pela multidão de alunos de variadas idades, via os olhares, ouvia alguns murmúrios e principalmente via Elaine sentada sozinha num banco perto do refeitório. Ir até ela não era a opção mais fácil. Estávamos zangados desde aquele dia e sinceramente, não estava interessado em ouvir o seu discurso de novo. Ela tinha-me feito porque quis, não a obriguei a nada.

Entrei dentro do edifício, lidando novamente com os olhares intimidados de uns, e arrogantes de outros. Pude ouvir que era o tal cuja irmã tinha sido violada pelo próprio pai é apenas ignorei, seguindo em direção à sala onde teria a primeira aula da semana. Entrei, vendo uma rapariga morena sentada no fundo da sala, ocupando o meu lugar. Já começava bem. Segui para a última fila, fazendo a mesma olhar-me e vi que não era da turma. Sentei-me ao lado dela, na mesa onde sempre ficava. Retirou a sua mochila desajeitadamente de cima da mesa, colocando-a atrás das suas costas.

Coloquei a minha mochila na mesa e deitei a cabeça sobre a mesma, ignorando a presença feminina ao meu lado. Pouco depois o toque de entrada soou e os colegas de turma começaram a entrar todos ao mesmo tempo, fazendo uma enorme barulheira. A professora loira sentou-se e começou a preparar umas folhas. Entretanto, todos na sala haviam sossegado e coloquei-me direito na cadeira, vendo que a rapariga ao meu lado estava a olhar-me. Teria estado a observar-me até agora?! Ignorei, mais uma vez.

— Bom dia! — Em uníssono, todos lhe saudaram. Um sorriso no rosto da professora apareceu e distribuiu, em seguida as folhas em cada mesa. — Hoje faremos trabalho de grupo. Façam grupos de 2, e resolvam a ficha, sobre a matéria dada na última aula. — As cadeiras voltaram a soar, e todos circulavam na sala, se colocando ao lado de outras pessoas, para assim fazerem a ficha. Não me mexi, esperando a ficha. — Ah, esqueci-me de vos falar! — Todos se calaram, observando a loira que estava perto da minha mesa. — Esta é a nova aluna. Sê bem vinda. Podes dizer-nos algo sobre ti se quiseres. — Sorriu para a rapariga ao meu lado.