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30 de novembro de 2017, San Diego.

Estávamos ansiosos pela volta da minha mãe, principalmente Cat, que já pedia o seu leite a chorar. Tentamos lhe dar do leite de vaca, porém nunca quis beber. Com a bebé no colo, caminhava nos corredores enormes, indo até ao quarto onde minha mãe terá alta. Minha avó estava do meu lado esquerdo e Elaine do meu lado direito. Estar suspenso da escola até foi bom para eu poder vir buscar minha mãe e estar mais um pouco com minha avó Julia e com Catherine que necessita sempre muito de mim. Elaine continuou a virar-me a cara e continua indo à escola.

Batucámos na porta, sendo a mesma aberta pouco depois pela mulher que ansiávamos. Catherine debruçou-se nos meus braços pedindo colo à nossa mãe, que calorosamente cedeu-lhe sem hesitar, depositando vários beijos na criança, fazendo a mesma gargalhar.

— Mamã, Cat quer leitinho! — Todos nós rimos, menos Elaine que continuava com uma expressão indecifrável. Pegamos nas coisas da mulher já fora de perigo e deslocamos-nos para o exterior do edifício onde o táxi nos esperava. Chegamos em casa mais cedo do que o esperado, e ao entrar vimos tudo desarrumado - diferentemente do que vimos antes de sair para o hospital. Minha avó rapidamente entrou, pedindo para que minha mãe esperasse dentro do táxi mais a bebé. Eu e Elaine acompanhamos minha avó, vendo que estava tudo destruído. Alguém tinha entrado aqui. Alguém que conhecemos muito bem. Alguém que nos deu a vida... Meu pai. Na cozinha, quase tudo estava como havíamos deixado, tudo menos a carta em cima da mesa.

Um dia irão arrepender-se.

Entreolhamos-nos sem nenhuma explicação possível porém sabíamos, com toda a certeza do mundo, quem tinha escrito aquele bilhete e quem tinha feito estragos cá em casa.

— Quando é que ele vai parar?! — Minha avó quase gritou, sentando-se na cadeira.

Provavelmente só quando estiver morto. — Elaine olhou-me enquanto proferia. Eu sabia que ela se dirigia a mim mas eu não queria ser o monstro que ela é. Caminhamos de volta ao táxi onde Cat e a mulher assustada estavam.

— Precisamos ir para outro lugar. — Minha avó falou. — Um sítio onde ele nunca pense que vocês estão lá. — Minha mãe tentava lembrar-se de algum, porém a meio desistiu, dizendo que não se lembrava. — O armazém que ele tinha? — De repente lembrou-se de algo.

— Ele continua a trabalhar lá. — Um silêncio predominou por uns minutos até um sobressalto nos assustar. — O antigo armazém! O armazém do vosso avô! — De repente, senti-me feliz por relembrar cada lembrança boa que me passava na mente. As gargalhadas que dávamos, as noites ao pé da fogueira, as histórias sobre os nossos antepassados que só nosso avô sabia contar. Minha avó Julia, por sua vez estava reticente, porque afinal, era um armazém com quartos e com cozinha, porém já não era aberto há imenso tempo.

— Ir para o armazém do pai do Marcus não vai ser fácil de ele se lembrar? De vos encontrar? O armazém que tenho não é tão grande, porém está em melhores condições. E vocês os dois nunca foram até lá. — Minha mãe concordou.

Meus avós paternos haviam morrido, acidentalmente e o meu avô paterno tinha morrido debaixo de uma máquina de cortar milho. Era trágico demais. Mas a nossa família era assim, consequentemente. Sabia da existência do armazém de meu avô paterno, mas que minha avó também tinha um, não fazia ideia.

Voltamos para casa, arrumamos e empacotamos o que precisávamos, enquanto isso minha mãe amamentava Catherine que havia berrado imenso ao sair do táxi. Enquanto passava fita adesiva nas caixas que já tinha prontas, Elaine entrou no meu quarto, fechando a porta.

— O que queres?! — Questiono, sem muita paciência.

— Ficaste 2 dias suspenso por defender aquela pirralha. Namoras com ela? — Começo a rir-me, virando-me para ela. — Achas piada, seu filho da mãe?! És um vagabundo! — Começa a socar-me o peito e eu paro-a. — Eu odeio-te! — Começa a chorar.

— A sério que estás a ter esse comportamento de pita?! Tu é que pareces uma pirralha e não Camilla! Deixa de ser estúpida! — Empurro-a contra a porta, ouvindo em seguida o estrondo. — Sai daqui, sua maluca! — Só ouvi a porta bater com força. Estava realmente farto dos seus ciúmes estúpidos e sem sentido. Camilla não merecia ser chamada de pirralha, muito menos por ela.

Acabamos de arrumar tudo já havia anoitecido e estávamos já todos com fome. Minha avó mandou entregar pizza no armazém para onde nos dirigíamos de camião. Tínhamos conseguido através de um amigo do meu avô. Catherine dormia pacificamente nos meus braços e Elaine olhava-nos zangada. Diria que era mais inveja que outra coisa, afinal Catherine estava nos meus braços e ela não.

Não demorou muito até que chegássemos ao armazém pretendido. O mesmo estava fechado com correntes e cadeado. Ao entrar, sentimos um cheiro a óleo e graxa. À nossa esquerda estava a oficina de meu avô, mal entramos, do lado esquerdo uns quartos - quartos esses que minha avó nos explicou que estavam ainda em construção. Ao fundo tinha 2 quartos. Um enorme e outro menor. Minha mãe ficou com o quarto maior, e minhas irmãs iriam dormir com ela. O menor ficou para mim. A ideia não agradou muito a minha irmã mais velha que estava ainda mais indignada. O quarto era até espaçoso para mim. As paredes ainda continham o cinza do cimento pois não tinham sido pintadas, a cama de ferro preto era de casal e estava desarrumada e na parede onde a cama encostava, estava uma palavra em forma de led na parede. Together. Foi-nos explicado que a cozinha era do lado esquerdo, ao fundo, não era grande mas era suficiente. A cave não deveria ser aberta visto que estava em muito mau estado. A única casa de banho é no meu quarto.

Quando acabamos de ver o armazém, as pizzas chegaram e rapidamente acabaram. Começamos a desempacotar tudo. Depois de minhas irmãs tomarem banho, pude finalmente tomar o meu banho descansado. Fechei a porta do quarto, pelo sim pelo não. Não queria que Elaine entrasse para me espiar. Ouvia o choro birrento de Catherine do outro lado pois, como sempre, não queria dormir.

Deitei-me após tomar banho e me vestir, e desejei que amanhã a caminhada não fosse tão longe para a escola, pois os dias de suspensão tinham terminado. Pela primeira vez, queria ir para a escola. Queria ver alguém.

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