Esta é a história de Maria Clara e lhes aconselho, que caso não estejam preparados pra uma história um pouco fora do comum, essa é a hora de parar antes que estejam tão mergulhados nessa história como estou. Clara não é como a maioria das pessoas. Ela escreve em diário, e eu sei que muitos não fazem isso. Não contam para um papel como foi seu dia, quem são seus novos amigos, e muito menos como está se sentindo. A maioria conversa com alguém, mas Maria Clara não é como a maioria. Ela não tem com quem conversar... E agora vamos saber o porquê.
Quando tinha 3 anos, Maria morava em Portugal com seus pais, onde vivia uma vida perfeitamente normal. Brincava em parques, fazia natação e balé... Essas coisas que se costumam fazer quando é criança. Iam todos à igreja todos os domingos de manhã e de noite. Eu diria que ela teve uma vida boa, pelo menos até os 5 anos.
Sim, pelo visto tudo havia mudado quando ela tinha apenas 5 anos. Com certeza muitos não se esqueceram dessa idade. Esta é a idade que começamos a escrever mais que uma frase. Aprendemos a somar, a dividir, a multiplicar e descobrimos o significado de muitas coisas. Nesta idade, Maria já estava bem avançada... Escrevia tudo que pensava, e eu diria que ela daria uma boa escritora aos 5 anos de idade. Sim, 5 anos de idade.
Mas ao contrário do que muitos dizem a vida não é bela. Pode ter certeza que no decorrer desta história vocês vão ver que não é bela mesmo. Foi neste momento que Maria perdeu sua mãe Janete. Eu não sei descrever bem o que ela deve ter sentido, mas creio que foi algo como quando sua mãe te leva na casa de uma amiga, e a noite você quer voltar pra casa, mas ela não pode te buscar porque está tarde, e você não quer acordar os pais de sua amiga por pena deles. Claro que isso não tem muito a ver, mas quando somos crianças, não sabemos muito bem o que sentimos. Ainda estamos em fase de descobertas, e foi ali que Maria soube o que era a dor de perder alguém que ama.
Mas a forma que seu pai lhe contou, tornou as coisas mais difíceis. Ela mal sabia que sua mãe havia se acidentado, até que seu pai resolver contar tudo. Eu não sei se iria querer saber. Ela era apenas uma criança, mas como falei, ela era bem desenvolvida então não hesitou em perguntar como tudo acontecera.
Foi numa tarde de domingo, após ir à igreja. Sua mãe havia ido sozinha desta vez, pois não queria acordar Maria. Elas haviam tido um sábado agitado e com isso, Maria estava muito cansada. Então esta foi a única vez que Clara não foi à igreja com sua mãe. Seu pai trabalhava bastante, e com isso ele já não ia à igreja sempre, só quando tinha tempo. Não dá pra saber se daria pra ter evitado tudo aquilo, porque quando algo tem que acontecer, acontece a gente querendo ou não.
Disseram que o rosto dela ficou em estado crítico. Quase não dava pra reconhecê-la, mas isso seu pai só falou alguns anos mais tarde. Acho que nenhum pai iria falar isso pra sua filha de 5 anos. Esse dia foi o mais triste da vida da pequena Clarinha.
Depois daquele dia, os dias de Maria nunca mais foram os mesmos. Apesar de ser uma criança, ela já sabia que tudo ficaria mais difícil, e talvez teria que amadurecer mais rápido que imaginava, que teria que ajudar muito mais seu pai do que como costumava ajudar. Seria uma carga muito pesada pra uma criança, mas a vida não é justa. Ela só tem a nos ensinar que não estamos preparados pra tudo. Então depois de um tempo se passar, Maria e seu pai Mario, foram morar no Brasil, depois de receberem uma proposta de emprego.
Não vou dizer que a vida deles estava pura tristeza, mas eles tinham lá seus momentos enlutados. Tente imaginar só por uns segundos. Se você já viveu isso, meus pêsames. Eu sinto muito por você e por Maria Clara. Se não, você vai entender depois que souber de tudo.
Assim que chegaram no Brasil, Clara logo se familiarizou com sua vizinha, que era um amor por sinal. Lethícia era uma menina dócil e amável. Era dessa amizade que ela estava precisando. Com o decorrer dos anos, e com o amadurecimento de Clara, ela foi entendendo o que havia acontecido e assim ela revivia a dor da perda. Já não era mais uma menininha. A fase antes da adolescência chegara e nós já sabemos como ela é. Nessa fase que Maria tomara conhecimento de alguns pensamentos que não rondavam sua mente quando criança. Não estava fácil, como não estaria pra mim também, mas é claro que sua amiga Lethícia não passou despercebida nessa fase. A ajudou em tudo que pôde e tenho certeza que você faria o mesmo se visse sua amiga na pior.
A amizade delas eram muito importante... Após aquela breve fase, seus momentos de tristezas foram substituídos por alegrias que surgiram ao passar do tempo. Mas não fique muito alegre, porque se fosse só isso, eu parava aqui mesmo. No "felizes e para sempre". Mas aquilo já estava preste a acabar.
Agora quem já não era o mesmo, era seu pai. E é ai que começamos a história.
Seu pai , Mario, agora tinha uma livraria no centro da cidade, a qual todos conheciam. Ele não saía de lá por nada. Até que ponto isso pode chegar?
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Em Memória
General FictionComunicação não era lá uma das preferências de Maria Clara. Estabelecer amizades talvez também não. Era na suposta solidão que encontrava alguém de suma importância em sua vida, e com essa pessoa ela vivia e revivia cada lembrança de um passado dist...