Capítulo 2 - ProvAções

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              O primeiro dia de aula estava quase chegando. Faltavam apenas alguns dias (uns 20 dias), e ansiedade batia em seu peito como se fosse algo que ela mais desejava pra toda sua vida. Estudar. O sonho de Maria Clara era estudar no exterior, e de preferência na sua cidade natal. Portugal sempre foi mais visado por ela que qualquer outro país. É aquela saudade excêntrica de voltar à sua nação. Um saudosismo sem fim.

Claro que a faculdade perto da livraria de seu pai era muito atrativa. As árvores na entrada dava um ar de universidade europeizada. Era algo diferente de se ver no Brasil. Uma faculdade não muito cara, mas perfeitamente linda. Tinha apenas 13 anos.

Mas a prioridade de Maria e de sua amiga, era passar na prova de intercambio e ir morar em Portugal. Mesmo que seus pais não pudessem ir junto, elas teriam uma à outra pra esse novo desafio. As duas tinham família de condições razoavelmente boa, e com isso tinha uma boa renda em suas contas poupança. Se elas quisessem passar uma semana na Espanha elas poderiam ir tranquilamente. A quantia era boa, por sempre guardar dinheiro desde que nasceu (pelo menos Clara).

O nervosismo já estava na cabeça de Maria, e sem duvida, na de Leth também. Ela não sabia como se enturmar, não que ela fizesse questão, só sabia que a única pessoa que podia contar era com sua amiga. Já estava acostumada a tê-la como amiga e o resto ela não se importava. Ela se contentava com sua única amiga que era muito mais que amiga. Era irmã. Ter muitos colegas é bem diferente de ter muitos amigos. Sabe aquela sensação de não poder contar tudo pra outras pessoas, por mais que elas estejam sempre com você? Era isso que Clara sentia. Que não podia contar com todos, por mais que estivessem sempre perto. Diferenciar amigo de colega, era algo que ela sempre fazia.

Faltava pouquíssimo pra ela completar 18 anos e se tornar a tão desejada adulta. O que há de bom nisso, não se sabe. Ter responsabilidade não é pra qualquer um. Se tornar adulta legalmente não quer dizer que a mentalidade se torne também. Existem tantos com corpo de 15 e mente de 58, assim como o contrário. Clara já sabia que não teria nenhum tipo de recepção em sua data. Nem esperava nada.

A manhã chegada com um lindo raiar de sol que transpassava a janela da sala. Maria acabara de acordar e seu pai já não estava mais lá. Levantou e foi se banhar. Pegou seu short jeans e uma camiseta preta e foi ao encontro da água fresca que descia do chuveiro.

- Deixar o café pronto seria uma boa. né pai?. – Pensou Maria a si mesma descendo as escadas de sua casa.

Preparar o café era a coisa mais fácil do mundo, mas Maria sentia que um simples ato como esse, sendo realizado por seu pai, poderia ser visto como uma demonstração de amor. Por mais mínima que fosse.

A presença familiar é mais importante que parece. Mas a impressão que dava, era que ela morava sozinha, e se fosse pra ser assim, era melhor que não estivessem "juntos" num mesmo ambiente, onde só compartilhavam o teto e as breves discussões. Qualquer um se sentiria como Maria. Já perdera a mãe, e agora sofre com a falta da presença de seu pai. A vida parecia injusta com ela.

Sentou-se a mesa e comeu seu pão e tomou seu café, esperando que seu pai ligasse como sempre fazia, quando ela era menor, mas parece que as coisas já haviam mudado há tempo, porém somente agora ela percebera essa mudança. Quando paramos de viver numa rotina, que damos conta que nem tudo está em seu lugar. O mundo está vivendo de forma tão automática que esquece de olhar quem está a sua volta. Com isso, esquece de amar, de sentir, de viver. Estão todos tão envolvidos em seus afazeres que esquecem até mesmo de quem são. Essa independência de Maria fazia com que ela não se sentisse necessitada de amor, mas aquele simples momento fez dela, uma nova pessoa.

Após sua refeição, Clara foi até a sala – para pegar o telefone e liga pra Lethícia -, que por sinal tinha lindos móveis, rústicos, que lembrava sua infância. Aquela casa, por mais simples que fosse fazia ela se sentir mais feliz que já fora antes. Fazia ter uma vaga lembrança de sua antiga sala, lá na sua terra natal. Ela e sua mãe jogavam, e desenhavam grandes coqueiros em frente a casa de seus sonhos. Dava um ar de praia.

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