Capítulo 13

9 0 0
                                        

Medson caminhou rápido pela noite fria de março, descendo a rua lateral com o coração ainda batendo forte após o acontecido com sua mãe. O ar frio queimava seu rosto, e a fazia se sentir bem. Calma. Ela respirou fundo, e se sentiu livre. Ela nunca teria que voltar para aquele apartamento, nunca teria que subir aqueles degraus sujos. Nunca teria que ver esta vizinhança. E nunca teria que voltar para aquela escola. Ela não tinha ideia de onde iria, mas pelo menos estaria longe dali.
Medson chegou até a avenida e observou, procurando por um táxi livre. Depois de pouco mais de um minuto de espera, ela percebeu que não iria conseguir encontrar um. O metrô era a sua única opção.
Caitlin caminhou na direção da estação da rua 135. Ela nunca havia entrado no metrô de Nova York. Ela não tinha certeza de qual linha pegar, ou onde descer, e essa era a pior hora para fazer experiências. Ela temia o que poderia encontrar na estação em uma noite fria de marçoespecialmente nesta vizinhança.
Ela desceu pelos degraus cobertos de pichações e se aproximou da bilheteria. Por sorte, havia alguém lá.
Eu preciso ir para Columbus Circle,Medson disse.
A atendente gorda atrás da janela de acrílico a ignorou.
Com licença, Medson disse, mas eu preciso
Eu disse para descer para a plataforma! retrucou a mulher.
Não, você não disse, Medsons respondeu. Você não disse nada!
A atendente a ignorou novamente.
Quanto é a passagem?
Dois e cinquenta, disse a atendente, irritada.
Caitlin colocou a mão no bolso e retirou três notas amassadas de um dólar. Ela as passou por baixo do acrílico. A atendente, ainda a ignorando, passou um cartão Metrocard para Medson,puxou o cartão e entrou no sistema.
A plataforma estava mal iluminada e quase deserta. Dois sem-teto ocupavam o banco, coberto com cobertores. Um dormia, mas o outro ficou a observando quando ela passou. Ele começou a balbuciar. Medson  caminhou mais rápido.
Ela foi até a beira da plataforma e se inclinou para frente, procurando por um trem. Nada.
Vamos lá. Vamos lá.
Ela olhou para o seu relógio mais uma vez. Já estava cinco minutos atrasada. Ela se perguntou quanto tempo mais levaria. Ela se perguntou se Jonah iria embora. Ela não podia culpá-lo.
Ela notou algo se movendo rapidamente pelo canto do olho. Ela se virou. Nada.
Quando ela olhou mais atentamente, pensou que tinha visto uma sombra se arrastar pelo chão de linóleo branco, depois se esquivar para os trilhos do trem. Ela sentiu como se estivesse sendo vigiada.
Mas ela olhou novamente e não viu nada.
Eu devo estar vendo coisas.
Medson caminhou até o grande mapa do metrô. Ele estava arranhado, rasgado e coberto com pichações, mas ela ainda podia enxergar a linha do metrô. Pelo menos ela estava no lugar certo. Esta linha deveria levá-la diretamente para Columbus Circle. Ela começou a se sentir melhor.
Você está perdida, querida?
Medson se virou e viu um homem negro e grande parado atrás dela. Ele tinha barba e, quando sorriu, ela pôde perceber que ele não tinha alguns dentes. Ele ficou muito próximo dela, e ela pôde sentir o cheiro do seu hálito horrível. Bêbado.
Ela se esquivou dele e caminhou para longe.
Ei, vadia, estou falando com você!
Caitlin continuou a caminhar.
O homem parecia estar drogado, e cambaleava lentamente enquanto a seguia. Mas Medson caminhava muito mais rápido e a plataforma era comprida, por isso, ainda havia espaço entre eles. Ela realmente queria evitar outro confronto. Não aqui. Não agora.
Ele se aproximou. Ela se perguntou quanto tempo levaria para que ela não tivesse mais escolha, a não ser confrontá-lo. Por favor, Deus, me tire daqui.
Naquele momento, um barulho ensurdecedor encheu a estação, e o trem chegou de repente. Graças a Deus.
Ela embarcou, e assistiu com satisfação enquanto as portas se fecharam para o homem. Bêbado, ele xingou e bateu na estrutura metálica.
O trem seguiu e, em poucos momentos, o homem não era mais nada além de um borrão. Ela estava de saída dessa vizinhança. A caminho de uma nova vida.
*
Medson desceu em Columbus Circle e caminhou com um passo acelerado. Ela checou o relógio novamente. Estava 20 minutos atrasada. Ela engoliu em seco.
Por favor, esteja lá. Por favor, não vá embora. Por favor. Enquanto ela andava, a apenas alguns blocos de distância, ela sentiu uma pontada no estômago. Ela parou, tomada pela dor intensa.
Ela se curvou, com as mãos no estômago, sem poder se mover. Ela se perguntou se as pessoas estavam olhando para ela, mas estava com dor demais para se importar. Ela nunca havia sentido nada como aquilo antes. Ela lutava para respirar.
As pessoas passavam rapidamente por ambos os lados, mas ninguém parou para ver se ela estava bem.
Depois de cerca de um minuto, ela finalmente se levantou lentamente. A dor  começou a aliviar.
Ela respirou fundo, imaginando o que poderia ter acontecido.
Ela começou a caminhar novamente, na direção do café. Mas agora ela se sentia totalmente desorientada. E sentia algo mais... fome. Não era uma fome normal, mas uma sede profunda e insaciável. Quando uma mulher passou por ela, levando seu cachorro para passear, Medson percebeu que se virou e observou o animal. Ela se viu esticando o pescoço e observando o animal enquanto passava, e fixando o olhar em seu pescoço.
Para sua surpresa, ela podia ver os detalhes das veias na pele do cachorro, o sangue correndo por elas. Ela viu a pulsação de seu sangue e sentiu uma sensação de insensibilidade e dormência em seus próprios dentes. Ela queria o sangue daquele cachorro.
Como se sentisse que alguém o observava, o cachorro se virou enquanto caminhava e olhou para Medson, sem entender.
continuou a caminhar. Ela não conseguia entender o que estava acontecendo com ela. Ela adorava cachorros. Ela nunca havia desejado machucar uma mosca, muito menos um cachorro. O que estava acontecendo com ela?
As dores de fome desapareceram tão rápido quanto apareceram, e Medson  sentiu que estava voltando ao normal. Quando ela chegou à esquina, o café já podia ser visto. Ela acelerou o passo, respirou fundo e quase se sentiu como ela mesma novamente. Ela olhou para o relógio. Trinta minutos de atraso. Ela rezou para que ele estivesse lá.
Ela abriu as portas. Seu coração estava batendo forte, dessa vez não de dor, mas de medo que Jonah tivesse ido embora.
Medson rapidamente examinou o lugar. Ela entrou rápido, quase sem fôlego e já se sentia exposta. Ela podia sentir todos os olhares nela, e examinou a fileira de clientes à sua esquerda e à sua direita. Mas não havia sinal de Jonah. O coração dela afundou em seu peito. Ele já deve ter ido embora.
Medson?
Ela se virou rapidamente. Lá, sorrindo, estava Jonah. Ela sentiu seu coração se encher de alegria.
Eu sinto muito, ela disse rapidamente. Eu nunca me atraso normalmente. É que eu  é que
Tudo bem, ele disse, pousando gentilmente a mão em seu ombro. Não se preocupe com isso. Eu só estou feliz por você estar bem, ele adicionou.
Ela olhou dentro dos seus olhos verdes, sorridentes, emoldurados por um rosto ainda machucado e inchado, e pela primeira vez naquele dia, ela sentiu paz. Ela sentiu que tudo daria certo, afinal.
O único problema é que nós não temos muito tempo para chegar ao concerto, ele disse. Só temos cerca de cinco minutos. Por isso, acho que teremos que deixar aquela xícara de café para a próxima vez.
Está bem, ela disse. Eu estou tão feliz por não termos perdido o concerto. Me sinto como uma grande De repente, Medson olhou para si mesma e ficou horrorizada ao perceber que ainda estava vestida com suas roupas casuais. Ela ainda estava segurando sua bolsa de academia, onde estavam suas melhores roupas e sapatos. Ela pretendia chegar ao café cedo, entrar no banheiro, colocar suas roupas bonitas e ficar pronta para encontrar Jonah. Agora, ela estava parada ali, olhando para ele, vestida como uma boba, e segurando uma bolsa de academia. As suas bochechas coraram. Ela não sabia o que dizer.
Jonah, sinto muito por estar vestida assim, ela disse. Eu pretendia me trocar antes de vir, mas… Você disse que nós temos cinco minutos?
Ele olhou para o seu relógio, um traço de preocupação cruzando seu rosto.
Sim, mas
Eu já volto, ela disse, e antes que ele pudesse responder, ela correu pelo restaurante, em direção ao banheiro.
Medson entrou correndo no banheiro e trancou a porta. Ela rasgou a bolsa e puxou todas as suas melhores roupas, agora amassadas, de dentro dela. Ela tirou as roupas e tênis que vestia, e rapidamente colocou sua saia de veludo preto e uma blusa de seda branca. Ela também pegou seus brincos de diamantes falsos e os colocou. Eles eram baratos, mas funcionavam. Ela completou o visual com sapatos de salto pretos.
Ela se olhou no espelho. Estava um pouco amassada, mas não tanto quanto tinha imaginado. Sua blusa levemente aberta exibia a pequena cruz de prata que ela ainda usava no pescoço. Ela não tinha tempo para maquiagem, mas ao menos estava vestida. Ela passou rapidamente as mãos pela água e umedeceu os cabelos, colocando alguns fios no lugar. Ela completou o visual com sua bolsa de couro de mão. Ela estava prestes à sair correndo, quando notou a pilha de roupas e tênis velhos. Ela hesitou, discutindo a questão. Ela realmente não queria carregar aquelas roupas pelo resto da noite. Na verdade, ela nem sequer queria usar aquelas roupas novamente.
Ela juntou todas em uma bola e, com grande satisfação, as enfiou em uma lata de lixo no canto do banheiro. Agora, ela estava usando a única roupa que tinha no mundo.
Ela se sentiu bem caminhando em direção da sua nova vida vestida assim.
Jonah esperava por ela do lado de fora do café, batendo o pé, olhando para o seu relógio. Quando ela abriu a porta, ele se virou, e quando ele a viu, toda arrumada, ficou imóvel. Ele olhou para ela, sem palavras.
Medson nunca havia visto um rapaz olhar para ela daquela maneira antes. Ela nunca havia realmente pensado em si mesma como atraente. A maneira que Jonah olhava para ela a fazia se sentir... especial. Ela se sentia, pela primeira vez, como uma mulher.
Você... está linda, ele disse, suavemente.
Obrigado, ela disse. Você também, é o que ela queria dizer, mas se conteve.
Com a sua nova autoconfiança, ela caminhou até ele, colocou a mão em seu braço, e gentilmente conduziu o caminho para o Carnegie Hall. Ele caminhava com ela, acelerando o passo, colocando sua mão livre por cima da dela.
Era ótimo estar nos braços de um garoto. Apesar de tudo o que havia acontecido naquele dia, e no dia anterior, Medson agora sentia como se estivesse caminhando no ar.                                         
                                                                                                                                                                                                       
                                                                                                                                                         
                                                                              

TransformadaOnde histórias criam vida. Descubra agora