Capítulo 4

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Mordo seu pescoço e no princípio é estranho, contudo sinto algo em minha boca e percebo que meus caninos cresceram. Assim fica mais fácil perfurar a sua pele tão frágil e é o que eu faço. Sinto o gosto doce e saboroso do seu sangue, e quando percebo ele está no chão, sem vida.

O que eu fiz?!




— Querida, sabia que encontraram o assassino das jovens morto na rua pela madrugada? Haviam cachorros envolta comendo a sua carne...— ouço a voz do meu pai mais alta que o normal. Minha mãe está ao seu lado na mesa do café.

— Bom dia — cumprimento saindo de meu quarto.

— Bom dia, querida, nós sabemos... — comenta a minha mãe.

— Eu...

— Calma, você ajudou a muitas jovens que poderiam ter sido mortas — explica meu pai me tranquilizando.

Isso ainda não mudava muita coisa, eu tirei uma vida, e eu não tenho esse direito. Quem eu sou para decidir quem vive ou quem morre?

— Como se sente? — pergunta minha mãe.

— Com nojo do cheiro dessa comida. — respondo de supetão.

— Isso é normal, minha filha, você ainda está em transição. — comenta minha mãe alegre.

Eu nunca a vi tão alegre ou calma, talvez fosse esse segredo que a deixasse temerosa comigo. Talvez daqui por diante eu me dê melhor com minha família.

Lembro de Elliot.

Ontem não tivemos uma conversa muito boa, pois eu simplesmente joguei em suas costas que "não queria ter filhos com ele". Mesmo que fosse o único jeito de ficarmos juntos, eu não poderia fazer isso com uma criança. Peço licença e vou ao banheiro. Eu sei que não preciso usar o mesmo, contudo sentia uma necessidade, e quando olho para o vaso sanitária vejo um pouco de sangue.

O que seria isso?

— Sarah, preciso de sua ajuda — minha irmã abre a porta do banheiro com presa. Ela me vê e também vê o sangue.

— Eu posso explicar...

— Você está abortando! Preciso te tirar rápido daqui — ela diz me ajudando a levantar e saindo de casa dando uma desculpa para nossos pais que iríamos fazer compras no mercado.

— O que está acontecendo? — pergunto quando ela entra em uma carruagem junto comigo.

— Em algumas famílias existem feiticeiras, elas não são vampiras, na verdade só manipulam poções, elas são chamadas de "não desejadas" pelo fato de não desejarem sangue. — explica rapidamente. O colcheiro para em um grande castelo, um que eu só tinha ouvido falar em histórias.

Era grande e tinha um jardim imenso, com certeza o namorado de minha irmã tinha muitas riquezas. O colcheiro a ajuda a me carregar até a porta gigante da entrada. Após entrar sinto mais uma pontada em minha barriga.

O que estava acontecendo?

Que dor era essa?

Minha irmã tinha falado de aborto, não poderia ser... eu havia engravidado? E pior, estava perdendo o meu bebê. Passo a mão na barriga sentindo a minha vida se esvaindo junto com a da criança.
Minhas pernas fraquejam e os dois me seguram com mais força, até que um homem com aparência jovial aparece em nossa frente.

— O que aconteceu?

— Ela precisa de sua ajuda. Está tendo um aborto espontâneo — comenta minha irmã suplicante.

O homem confirma e olhando o salão ao nosso redor vejo muitos corredores. Ele nos guia por um a esquerda e saímos em uma porta, ele a abre e mostra um aposento estranho, com uma pequena cama e alguns objetos que eu desconheço.

— Esse é o meu laboratório, vou te ajudar — ele diz na tentativa de me tranquilizar.

Minha irmã se retira a pedido dele e o mesmo pede para que eu me deitei na cama. Ouço o som de outra porta e Elliot entra apressado no aposento.

— Eu soube do que... — ele diz não conseguindo se expressar. As lágrimas caem por meu rosto e ele me envolve em um abraço, não antes de assim como eu, perceber o sangue em minha perna.

— Eu posso ajudá-los, mas isso terá um preço. — comenta o homem. — Como você está passando de humana para vampira, isso afeta o desenvolvimento da criança, eu posso fazer com que ela nasça e posso até te dar a capacidade que vampiros não tem; de ter quantos filhos você quiser. — ele comenta e meus olhos brilham de esperança. — Com uma condição, que me dêem a criança assim que ela nascer. — diz naturalmente.

Elliot quase caí com a notícia e eu mesma também. Não iríamos entregar o nosso primeiro filho dessa forma, contudo sem a ajuda dele não teríamos esse filho e nem mais nenhum.

— Claro que não... — comenta Elliot e eu o interrompo.

— Eu sou a mãe e eu aceito — digo confiante. Elliot me encara incrédulo e o outro homem confirma orgulhoso.

Eu sabia que seria uma criança em troca de outra, e que isso não era certo, mas sei que na hora do desespero nada é pensado com clareza. Ele coloca as mãos em minha barriga e vejo o sangue voltando para o seu lugar de origem, e em alguns minutos o mal estar passa. Meu filho estava vivo, novamente. Mas algo de estranho também acontecera, senti algumas mudanças em meu corpo, não por causa da gravidez. Ele estava me transformando de vez em vampira.

— Você está... linda — comenta Elliot embasbacado. O outro homem me estende um espelho e vejo a beleza que eu tinha, só que muito mais melhorada.

Pelo menos um lado bom de ser vampira.

Passo a mão na barriga com cuidado e percebo que tem algo dentro de mim, eu sinto uma vida, mesmo que minúscula.

— Cuidem bem dessa criança, em breve eu os verei para concluir o nosso tratado — diz o homem. As mãos de Elliot envolvem a minha cintura, contudo eu rio, pois como minha transformação se completou eu estou mais forte que ele. Corro até a porta e mando um sorriso a ele.

— Você vem ou não? — pergunto com ironia. Ele ri e me segue.

Ainda antes de irmos embora ouço a voz de minha irmã quase que estridente brigando com o homem — que deveria ser o seu namorado — por ele ter proposto esse tratado. Ouço o som de um tapa e até penso em voltar, mas eu não iria me envolver na briga deles. Agora entendo porque minha mãe o chamava de feiticeiro, porque ele era literalmente isso.

Tantos mistérios envoltos na minha família e eu só vim descobrir a essa altura.

— Tchau, Elliot — comento após o colcheiro me deixar na porta de minha casa, o abraço e ando até a entrada de minha casa. Entro e vejo minha mãe costurando no sofá.

— Como foram as compras? — pergunta minha mãe distraída.

— Foram boas, as compras estão com a minha irmã — respondo antes que ela pergunte.

— Ah, — diz largando o tecido de lado. — Heitor lhe convidou para um passeio a cavalo e eu e seu pai permitimos, acho bom você ir se trocar. — ela comenta orgulhosa.

Eu havia esquecido desse pequeno detalhe: Heitor. Por enquanto eu teria de fingir que realmente ficaria com ele, se não meus pais desconfiariam e com certeza saberiam do meu envolvimento com Elliot e pior, do meu bebê.

E eu teria de protegê-lo.

De qualquer um.

Inclusive o feiticeiro, meu bebê não seria dele. Por isso não deixei que Elliot se envolvesse na nossa troca, pois em nenhum momento eu pensei em entregar o meu filho, o meu primogênito, fruto do meu amor.

Pego um dos melhores vestidos que tenho e o visto, também arrumo meus cabelos e coloco um dos melhores perfumes que tenho, e em alguns minutos ouço uma voz na porta do meu quarto.

— Olá, Sarah, está pronta? — pergunta Heitor com a sua voz melodiosa. Sim eu estava pronta não só para ele, mas para tudo que viria pela frente.

Lua Cheia (Série Vampira e Presas) - Livro ExtraOnde histórias criam vida. Descubra agora