Fase três: Capítulo 1

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Minha irmã e eu éramos muito próximas. Brincávamos o tempo todo juntas na nossa infância, mesmo eu sendo mais velha que ela. O problema aconteceu quando nossos pais identificaram que a minha irmã nasceu com a maldição da família, se tornaria uma vampira e seguiria com a nossa linhagem, e eu, eu era diferente, uma feiticeira. Não escolhi isso para mim, simplesmente nasci assim, e eu gostava dos poderes, das coisas maravilhosas que eu poderia fazer. Entretanto minha família me rejeitava cada vez mais, talvez porque a Sarah fosse a preferida, ou porque ninguém ligasse para uma poção ou um veneno que eu poderia fazer.

Eu era uma aberração.

— Eu e seu pai não aguentamos mais essas suas bruxarias, Dayana! Pegue suas coisas e vá embora agora mesmo! — grita minha mãe em minha direção. Dessa vez eu havia feito uma poção da beleza, e havia testado em Sarah que concordara plenamente. Ela sempre gostava de ser a minha cobaia, se interessa pelos meus poderes.

— Eu vou! Mas não espere que eu volte! — grito de volta. Pego minhas roupas e as jogo dentro de uma mala. Antes de ir embora eu me despedi de Sarah e com outra poção fiz ela esquecer desses momentos maus, esquecer que eu tinha poderes, seria melhor para ela.

Abracei a minha irmã e a beijei uma última vez, até sair porta a fora.

Eu não sabia para onde ir, era jovem, tinha por volta de dezoito anos. Então acabei indo para um bar não muito distante da minha casa, para lá pensar no que fazer. Entrei no bar e pedi uma água, sentando no balcão. Era uma bagunça, homens bebendo e rindo alto, mulheres servindo e sendo apalpadas e eu ali naquele meio sem saber exatamente o que estava fazendo ali. Em alguns segundos o homem me entregou a água e um homem que parecia ter uns vinte anos sentou ao meu lado.

— O que uma jovem como você faz aqui? — pergunta o homem de olhos hipnotizantes. Ele tinha uma pele bronzeada, diferente das pessoas que moram nessas região, pois aqui era frio na maior parte do tempo, além de ter lindos cabelos morenos.

— Fui expulsa de casa por fazer poções — digo e percebo a besteira que falei.

— Você faz poções? — pergunta ele interessado.

Ai meus céus.

Eu só faço besteira, literalmente.

— Sim, para ajudar na saúde — disfarço tentando voltar atrás.

— Não precisa mentir, Dayana, eu sou Jack, o feiticeiro — ele estende a mão em minha direção. Titubeio mas aperto a sua mão.

— Como sabe quem eu sou?

— Eu sei de que tudo. Quer sair daqui? — ele pergunta convidativo. Bom, eu não confiava em estranhos, mas algo nele me era familiar.

— Tudo bem — confirmo pegando minha mala. Jackie me leva para o lado do bar e logo vejo uma carruagem bonita e enfeitada.

— Você por um acaso está me sequestrando? — pergunto com humor.

— Sei que você está sem lugar para ficar, pode passar o dia lá em casa enquanto não acha um lugar — ele explica calmamente. Algo nele me fazia confiar nele cegamente, até porque ele sabia de tudo que eu estava passando.

— Eu aceito, mas só por hoje — digo confiante. Ele confirma risonho e eu entro na carruagem. Depois de um tempo ela para e eu avisto um grande castelo.

Não era possível que ele morasse aqui.

Nesse castelo de contos de fadas.

— Sim, eu moro aqui, na verdade isso é uma herança, meus pais também eram feiticeiros — comenta orgulhoso.

— E onde eles estão?

— Mortos. Foram acusados de bruxaria e queimados vivos — responde enquanto andamos em uma estradinha pequena,  com Jack levando as minhas malas e no final consigo avistar um grande jardim com uma diversidade de flores. Logo atrás do jardim eu consigo ver melhor o castelo.

Um castelo de verdade. Ele tinha três torres e era de cor acinzentada, lembrando um pouco da arte gótica. 

— Ah, sinto muito — respondo depois de um tempo, envergonhada. Eu sabia muito bem ser intrometida e deixar as pessoas sem graça.

— Tudo bem, mais um motivo para eu te acolher aqui. — responde calmamente.

Jack anda na frente e abre os dois grandes portões de madeira do castelo e eu consigo ver a imensa construção, com extensos corredores. Ele me guia por um dos corredores que sai em muitas portas de madeira, com um longo tapete vertical no chão de cor aveludada, nas paredes ficam muitos retratos, alguns dele e outros do que parece ser sua família. Há também um ou dois criados mudos na parede a direita e a esquerda em cima de cada um há um vaso de planta. Percebo que tudo aqui é bem detalhado, as paredes são de um azul quase marinho, só que mais neutro. Na parede também há fios de cor de ouro que fazem desenhos em toda a parede a direita e também a esquerda. Ele me guia a uma das portas e estende a mão, abrindo-a. No cômodo que é um quarto, eu vejo o quarto que eu sempre quis ter se não fosse pelas condições de meus pais; há uma cama no centro lilás, as paredes são violeta, em um canto há um guarda-roupa rosa claro, ao lado da cama um criado-mudo e em frente a cama uma escrivaninha com um banquinho. Arregalo os olhos e abro a boca olhando para ele sem acreditar.

— Esse será o seu quarto por enquanto. — diz confiante e risonho por conta da minha reação. Um quarto só meu, sem nenhuma irmã pirralha para bagunçar tudo, e ainda do jeito que eu sempre quis. Eu olho para ele maravilhada e sento em cima da cama, sendo observada por Jack.

— Ainda acho que tudo isso é um sonho e que em breve você irá me despachar daqui — digo risonha. Ele se aproxima e toca o meu rosto com carinho, um carinho sincero que eu não tinha havia muito tempo. Seu polegar acaricia a minha bochecha e ele sussurra:

— Eu nunca vou te despachar e nunca vou cansar de você. Você entrou aqui por sua vontade, e só vai sair pela sua própria vontade. — responde calmamente depositando um beijo em minha testa.

Minha vontade?

Eu nem sabia mais o que era isso, já que com a minha mãe nós só fazíamos o que ela queria.

Ele me dá uma boa noite fechando a porta me deixando a vontade. Sento na escrivaninha onde há alguns livros, um caderno de anotações e alguns lápis. Pego um e começo a escrever em uma das folhas do caderno.

Tudo isso era muito estranho. Mas quem sabe eu precisasse disso? Sair da rotina da minha casa com pessoas que já conheço.

Abro a porta e ando pelo corredor, dando de cara com Jack. Se era para cair de cabeça nisso tudo, eu faria isso. Coloco minhas mãos em seu pescoço e o beijo. Jack retribui o beijo me encostando na parede. Andamos até o seu quarto e lá eu me aprofundo nessa loucura.

Uma loucura boa.

Lua Cheia (Série Vampira e Presas) - Livro ExtraOnde histórias criam vida. Descubra agora