Capítulo 2

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Segurei na manga da blusa de Elliot com força o puxando como uma criança nervosa para pedir algo ou um brinquedo:

— Por favor, me leve para qualquer lugar, só não deixe com que ela me ache, por enquanto! — peço e em alguns segundos ele continua parado, e mais gritos da minha mãe se aproximam de nós.

Ele parece que acorda para a realidade e me puxa, nos guiando pela floresta até chegarmos a um cavalo que estava amarrado com a guia em uma árvore, Elliot monta e puxa-me ao seu lado. Não dizemos nada, sabemos que não é a hora. Então me agarro ao seu corpo enquanto o vento frio da noite sobra a sua brisa em meus cabelos que se movimentam em sintonia. Vejo que atrás de nós só há a escuridão da noite, talvez seja um bom sinal.

Só temo de quando eu tiver de enfrentar a minha mãe, e sei que não vai ser tão agradável.

Chegamos a uma cabana um pouco grande para a sua denominação, e ao lado há um pequeno estábulo, com espaço para dois cavalos, no qual Elliot coloca o cavalo cor de marfim. Enquanto ele o arruma em seu cantinho, eu entro na casa, reparando o silêncio que demonstrava que não havia mais ninguém ali.

Só eu e Elliot.

Engulo em seco. Entro mais na casa e vejo ao lado da porta um criado-mudo e ao lado direito um cabideiro, no qual Elliot pendura o seu grande sobretudo preto, e após me oferecer a sua ajuda, eu penduro a minha manta marrom.

— Só tem você aqui? — pergunto adentrando a casa.

Havia ao lado direito a pequena sala de estar, no seu canto superior esquerdo havia uma escada que ia de encontro a parede, girando como um caracol e com certeza levava a mais cômodos. Ao lado esquerdo havia uma porta que deveria ser do banheiro, e seguindo ao lado esquerdo uma cozinha mediana. A casa parecia agradável, contudo pequena para um homem só.

— Sim, eu não quis mais ficar com os meus pais, parece que a viajem me tornou independente e eu não aguentava mais ouvir as suas ordens, então com o dinheiro das aulas comprei essa casa. — ele responde normalmente indo até a cozinha, e eu logo após.

— Você encontrou alguém interessante... na viajem? — pergunto sentando-me na bancada que ficava no meio da cozinha.

É, minha mãe estava certa ao dizer que eu não tinha modos.

— Sim. — responde normalmente colocando uma chaleira de aguá no fogão. — Quer qual tipo de chá? — pergunta distraído.

— Não gosto de chá. E quem você conheceu lá? — indago direta.

— Um professor renomado de história. — responde com humor.

Solto o pescoço para trás fazendo uma careta de desgosto, esse era o Elliot que eu conhecia, sempre piadista e brincando comigo e com os meus sentimentos.

— Não fique chateada, você que pediu. — comenta ainda risonho.

Reviro os olhos batucando os dedos na bancada de madeira, o clima estava ficando um pouco estranho. Nunca tivemos o costume de ficar sozinhos — até porque não é certo —, e eu sabia que Elliot havia mudado desde a viajem, havia amadurecido.

— Tome. — ele estende uma xícara de chá em minha direção.

— Sabe que eu não gosto de chá. — respondo cruzando os braços.

— É um chá francês, eu comprei na viajem. — explica, e eu dou um gole, saboreando o chá com gosto de framboesa.

— Ele é muito bom. — respondo segurando a xícara.

Sinto seu olhar sobre mim, o que me causa mais nervosismo. Olho para baixo, e logo vejo a barra suja de lama do meu vestido azul-claro.

Mamãe me mataria ao ver isso.

Elliot se aproxima e segura em minha cintura, antes que eu proteste ele me desce da bancada, ainda com as mãos em minha cintura. Sinto a aproximação de nossos corpos, e lembro dos sentimentos que eu nutria por ele na nossa infância mesmo que minha mãe não gostasse dele e o chamasse de "vagabundo". Na verdade eu nunca dei muita importância para nada que saía da boca da mamãe, ela mesmo tendo tudo, sempre foi amargurada e ranzinza. E agora que ele estava mais velho, por volta dos seus vinte anos, seus cabelos estavam em um corte diferente — com certeza ele cortou quando viajou — mas ainda tinham a cor de mel vibrante, seus olhos também cor de mel continuavam com o mesmo brilho, e ele havia aumentado de estatura e de largura também, tendo agora braços fortes e um abdômen do mesmo modo.

Ele havia crescido e se tornado um homem.

E eu, ainda com os meus dezoito anos, continuava a mesma menina.

— Você não é a mesma menina, não se engane. — ele comenta passando o indicador por minha bochecha boa.

A outra ainda lateja um pouco, mas bem pouco.

— Você é mais que isso. — ele diz aproximando o seu rosto do meu.

Talvez não fosse certo essa aproximação, mas eu sabia que amava Elliot, e que ele me amava, então o que nos impedia de ficarmos juntos?

Sinto seus lábios tocando os meus, e é uma sensação estranha, pelo simples fato de ser o meu primeiro beijo, e eu sei que ele sabe disso. Em alguns segundos sua língua invade minha boca, intensificando o beijo, e logo suas mãos me prendem na bancada, colando os nossos corpos.

— Isso é errado. — digo sem fôlego.

— Não, não é. Nos amamos, e essa é a mais pura verdade. — afirma passando as mãos em meus cabelos.

Nesse momento, um dos mais felizes da minha vida, eu não podia perder a oportunidade de ser amada, amada mais do que nunca. Ele cruzou minhas pernas em sua cintura enquanto subíamos na escada em forma de caracol. Em cima só havia uma porta que levava a um único quarto, no qual nós entramos. Não tive de tempo de observar o cômodo por culpa dos seus beijos.

— Eu me guardei, Elliot, me guardei para você. — comentei baixinho, e isso só o fez prosseguir, com brilho nos olhos e um sorriso imenso no rosto.

Eu também sorri, sabendo que seria a primeira vez de nós dois.

E em uma noite, eu soube que tudo que sofri da minha mãe, a falta do meu pai, nada tinha importância ao lado de quem eu amava, Elliot.






Acordei com o sol jogando seus raios luminosos pela janela aberta do quarto de Elliot. Levantei me cobrindo com o lençol e pude ver mais claramente o quarto, no qual havia um armário de madeira, uma cama de casal, uma mesa como de escritório com luminária e um criado-mudo.

Olhei para os lados, porém eu estava sozinha, então vesti meu vestido de ontem e desci as escadas, vendo Elliot atendendo a porta, só com uma calça, sem camisa, e dois homens do lado de fora. Ele virou o olhar em minha direção indicando que eu ficasse em silêncio. Confirmei enquanto subia a escada quase até o topo, e em alguns segundos ele fechou a porta.

— Estavam te procurando. — comenta me abraçando — Um tal de Heitor os mandou, eles disseram que revistaram a floresta toda, já que uma testemunha a viu entrar nela.

— Não posso mais fugir, vou voltar para casa. — repondo recolhendo minha manta.

— Eu te levo. — ele diz pegando o seu sobretudo e fechando a porta atrás de nós.

Montamos no cavalo e depois de alguns minutos já consigo ver a minha casa, e na porta da mesma a minha mãe, sentada em uma cadeira de balanço, distraída. Eu dou um rápido beijo em Elliot e desço do cavalo, e depois dele partir minha mãe me vê:

— Onde você esteve, menina? — e nesse momento eu sabia que daqui por diante, tudo mudaria.

Lua Cheia (Série Vampira e Presas) - Livro ExtraOnde histórias criam vida. Descubra agora