Pés na estrada

75 5 1
                                    

Setembro, 2017

Com duas batidas firmes contra a lataria do caminhão, alertou ao motorista que já haviam descido da traseira. O caminhoneiro apertou a buzina e após acenar, seguiu seu caminho pela longa estrada. Os dois sorriram e acenaram, agradecendo-o enquanto acompanhavam com os olhos o caminhão diminuir com o aumento da distância.

— E você ainda questiona nossa sorte? Quem é que consegue uma carona nos dias de hoje? –Lucille disse rindo e ajudando-o a carregar uma das mochilas. Ela pendeu-se um pouco para a esquerda, mas logo se acostumou com o peso da bagagem e se endireitou.

— Mais sorte teríamos se ele tivesse nos oferecido uma mordida daquele sanduíche. Droga! Parecia delicioso... –Marcus disse fechando os olhos como se pudesse sentir o sabor do sanduíche em sua boca.

— Diabos! Por que foi me lembrar? –Lucille bufou franzindo o cenho e irritando-se ao pensar no sanduíche que vira o caminhoneiro comer ao parar para lhes oferecer carona. Era tão grande e recheado que podiam ver o queijo derreter e sujar os cantos de sua boca a cada mordida.

Atravessaram a estrada e caminharam por mais alguns metros até um posto de combustível. Ouviu-se o barulho dos cascalhos que cobriam o chão e logo um carro parou ao lado de uma das bombas para abastecer.

— Está quebrada! Use a da frente! –gritou um homem de dentro da loja de conveniência.

O rapaz que dirigia voltou a segurar o volante e avançou com o carro até a próxima bomba, mas a cara que fez não era das melhores. Lucille pensou brevemente no quanto as pessoas se irritam por pequenas coisas, coisas que não lhes fazem a mínima diferença, como avançar cinco metros até a próxima bomba de combustível.

— Quanto ainda temos? –Marcus perguntou trazendo-a de volta de seu pensamento.

— Temos... –ela retirou do bolso da calça um pequeno saquinho de camurça e desamarrou o barbante que prendia sua abertura. – Isso.

Marcus apanhou o saquinho e enfiou a mão na esperança de encontrar mais do que apenas o que havia visto, mas não. Ele retirou de dentro as moedas que restavam. Não era suficiente nem para comprar um único cigarro avulso.

— Vamos ter que vender alguma coisa, ou então... –Ele disse sem concluir. Lucy o fitou confusa, como se tentasse ler seus pensamentos. Ela levou as mãos às alças da mochila que estavam presas aos seus ombros e tentou aliviar o peso, segurando-as.

— Ou então?

— Ainda tem aqueles charutos do seu pai? –Ele perguntou curvando os cantos dos lábios em um sorriso perverso. Lucy tirou-os de um dos bolsos da mochila rapidamente e estendeu a mão para que Marcus o apanhasse, mas não o soltou.

— O que vai fazer? –Ela disse abaixando o tom de sua voz e olhando ao redor, como se temesse que alguém estivesse a observá-los.

— Não se preocupe, apenas pegue tudo o que conseguir. Tudo o que conseguir, entendeu? –Marcus perguntou aproximando-se e segurando seu rosto. Lucy apenas balançou a cabeça e sorriu se dando conta do que estavam prestes a fazer. Ele depositou em seus lábios um leve beijo e puxou-a pelo pulso em direção à loja.

Ambos entraram de mãos dadas e fingiam sussurrar no ouvido um do outro, apenas para deixar claro que eram um casal e que estavam juntos. Logo, Lucy caminhou para as prateleiras ao fundo da loja e Marcus foi direto ao balcão onde estava o proprietário. O homem atrás da caixa registradora era robusto, tinha um tom de pele que se assemelhava a uma espécie de dourado, usava um bigode mal aparado e era clara sua ascendência latina.

IsoladosOnde histórias criam vida. Descubra agora