O pagamento [2]

27 2 0
                                    


— Bom, nisso tenho que concordar, mas nós não temos dinheiro suficiente. Para ser sincero, entramos em seu estabelecimento em busca de informações. –Marcus disse calmamente e os dois homens se entreolharam. Marcus poderia matar para saber o que significou aquele olhar.

— O caminho da praia. –Disse o homem detrás do balcão.

— Exato! Como... Como... –Marcus disse surpreso com a provável coincidência de o homem ter acertado seu destino.

— Como sei? –O homem perguntou e ele balançou a cabeça. – Isso você jamais saberá.

Lucy olhou para o homem e ele riu. Logo, o gordo, o caubói e também Marcus caíram na gargalha, transformando a frase misteriosa em algo engraçado. Neste intervalo, Margareth abriu a porta da cozinha afastando-a com o traseiro e segurando dois pratos, um em cada mão. Ela colocou-os sobre o balcão em frente à Lucille e Marcus.

Comida. Comida que há muito não viam. Suculenta, fumegando e cheirosa. O prato estava tão apetitoso, — ou talvez a fome fosse tanta – que nem pensaram no modo grotesco que aquilo fora feito. Margareth se deleitou ao ver o modo como olharam para sua comida. Ela colocou o saleiro sobre o balcão e logo retornou à cozinha.

— O que estão esperando, forasteiros? –O homem perguntou.

— De verdade, Senhor, não temos dinheiro para pagar pela comida. –Lucy disse empurrando levemente o prato sobre o balcão. Seus dedos pareciam lutar contra, mas mesmo assim ela recusou.

— Não se preocupe com o dinheiro, querida. – O homem disse fitando-a fixamente, como se pudesse controla-la com o poder de seus olhos invasivos. –Os pratos já estão prontos, seria um pecado desperdiçá-los, não é mesmo, forasteiro?

— Tenho que concordar, Senhor! –Marcus disse rindo e pondo-se a degustar a primeira garfada.

Em pouco, ambos se renderam à tentação e passaram a comer de maneira descontrolada. Enquanto se ocupavam em focar em seus pratos, os dois homens se ocupavam em focar em Lucy. Ben e Clint, - o velho detrás do balcão - a observavam como se ela fosse o prato principal.

Há décadas não viam uma mulher como ela. Observavam-na comer utilizando o garfo e a faca de maneira tão natural, sem nem mesmo imaginar o quão elegante aquilo lhes parecia. Enquanto Marcus devorava a coxa do frango engordurando as mãos, a jovem cortava-a com a faca cuidadosamente e levava um pedaço de cada vez à boca. Os velhos se deleitavam com cada detalhe. Era tão jovem e bonita. Seus cabelos caídos sobre os ombros em ondas desconcertadas emolduravam seu rosto angelical que lhe fazia tão inocente. A pele era macia, embora um pouco oleosa pelo calor. Suas mãos pequenas e com as unhas curtas, – nada como as das mulheres que costumavam levar para cama, compridas e mal pintadas por uma coloração vermelha. O corpo esguio e miúdo, como se nunca houvesse sido tocado. A cada vez que levava o garfo à boca, os velhos miravam seus pequenos seios cobertos pelo tecido fino da blusa que vestia.

— Está gostoso, querida? –Clint perguntou-lhe e subitamente Lucy sentiu-o tocar em uma das mechas de seu cabelo e afastá-la de seu rosto, dispondo-a atrás de sua orelha. Ela encolheu-se e fitou-o rapidamente sem conseguir esconder o medo que seus olhos explicitavam.

— Está... – Ela titubeou mantendo os olhos fixos no prato. – Está ótimo.

— E o seu, forasteiro? Como está?

— Está perfeito, Senhor! – Marcus disse entusiasmado tapando a boca cheia com uma das mãos.

—É bom saber que gostaram. Agora, resta-me pensar em como irão pagar pela refeição... – Ele disse de maneira estranhamente calma, cruzando os braços sobre o peito.

IsoladosOnde histórias criam vida. Descubra agora