O pagamento [1]

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A cada passo sob o Sol escaldante, o casal questionava-se internamente se o que faziam valia mesmo a pena ou se se arrependeriam e só lhes restaria as bolhas nos pés. Haviam deixado a casa de Senhorita Paterson ao nascer do dia e continuaram suas jornadas.

— Tem certeza de que pegamos a rodovia certa? –Lucy questionou diminuindo a velocidade de seus passos. Marcus tinha convicção de que estavam no caminho certo, mas bastou que ela o questionasse para atiçar sua dúvida.

— Pegue o mapa. Deixe-me olhar mais uma vez.

Lucille retirou o mapa mais uma vez da mochila. A cada vez que o abriam, dobravam-no de uma maneira diferente, deixando-o tão marcado que as linhas formadas no papel confundiam-se com as riscas que indicavam possíveis trilhas. Marcus abriu o mapa e o levantou para que pudesse enxergar contra a luz do Sol. Cerrou os olhos como um míope sem suas lentes e examinou as marcações, primeiramente tentando identificar onde estavam.

— É... –Marcus disse com uma expressão vazia no rosto.

— Vamos fazer uma pausa. Ainda temos bastante água. –Lucy sugeriu, já percebendo que algo estava errado. Marcus dobrou o mapa ao meio e caminharam até o canteiro da rodovia.

Uma única árvore solitária se refugiava no canteiro e foi debaixo desta que o casal aproveitou para descansar. Marcus retirou a mochila das costas, abriu o mapa no chão de terra e se ajoelhou sobre. Lucy sentou e recostou-se no tronco da árvore, imediatamente abriu a garrafa de alumínio e refrescou-se com longos goles da água que permanecia fresca.

— Estamos bem aqui. –Marcus apontou para o ponto exato em que estavam no mapa. Lucy se perguntou como ele podia saber identificar a localização em um mapa, enquanto ela mal entendia a legenda no rodapé. – O problema é que o único lugar mais próximo onde teremos a chance de encontrar pessoas é daqui a cinco quilômetros.

— Cinco quilômetros? –Lucy perguntou com certa irritação.

— E tem um detalhe...

— O quê?

— O mapa é de 2000. –Marcus disse e Lucy arregalou os olhos levemente, fazendo-o rir.

— Você quer dizer que estamos nos guiando por um mapa feito há mais de quinze anos?

— Dezessete anos para ser mais exato. –Lucy o encarou por alguns instantes. Ainda descrente, apanhou o mapa e procurou pela data. Realmente era do ano de 2000. Os dois se fitaram e em um sincronismo bizarro, gargalharam.

— Você é louco, sabia?

— Sabia, mas parece que você percebeu isso tarde demais. –Marcus disse e a encarou franzindo a testa, como se reproduzisse a cena de um filme fajuto. Ela destampou a garrafa de alumínio e estendeu o braço, entregando a ele. Marcus a apanhou e sentou-se ao seu lado, também se recostando ao tronco.

Lucy abriu dois pacotes com biscoitos e passaram a comer. O asfalto parecia vibrar e derreter pouco a pouco pela ilusão do sol, apenas ressaltando o quão calor estava. Estavam apenas recarregando as energias para seguir, e, secretamente ambos rezavam para que o mapa não estivesse tão desatualizado assim. Precisavam encontrar o bar a cinco quilômetros ou estariam realmente perdidos.

— No que está pensando? –Marcus perguntou interrompendo o silêncio.

— Ah... –Lucy fez uma pausa, como se refletisse sobre uma resposta para uma pergunta difícil. – Senhorita Paterson.

— Agora entendi o motivo de estar com essa cara de pavor. –Marcus disse e Lucy o fitou rindo. Ela socou seu ombro e apoiou a cabeça nele logo em seguida. Ele ficou em silêncio e envolveu um dos braços ao redor de sua cintura, esperando que continuasse.

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