Banho de sangue

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Três dias se passaram desde que as irmãs tiveram contato com os estranhos. O clima havia sido tomado por um calor infernal e consigo trouxera a maldição dos mosquitos. A floresta era o criadouro perfeito para os insetos e sem poder contar com inseticidas, sofriam com as picadas dolorosas.

Marcus dormia com a cabeça caída sobre o ombro e a boca levemente aberta, liberando suspiros calmos. Lucy conseguira dormir cerca de uma hora nos últimos dias. Além do trauma se repetir em sua cabeça a cada vez que fechava os olhos, milhares de outros fatores pareciam contribuir para perturbá-la ainda mais. As amarras em seus pulsos estavam tão apertadas que feriram sua pele e nas vezes que tentou afrouxá-las, cortou-se no ato. Ainda sentia dores, mas distraía-se com pensamentos sobre o que seria dela e de Marcus. O calor era muito e eles soavam, fazendo-a sentir-se ainda mais suja.

A porta do quarto se abriu vagarosamente e as duas irmãs entraram. Elas traziam leite e pequenos bolinhos que rescendiam um perfume de banana. O leite era ordenhado da única vaca que tinham por Ron e as bananas eram sempre abundantes, por ser uma fruta muito encontrada na floresta.

Lucy fitou as irmãs brevemente e elas sorriram timidamente agachando-se ao lado das cadeiras. Marcus acordou assustado e arregalou os olhos, reconhecendo o ambiente ao redor. Ao ver Lucille e apenas as duas irmãs, sentiu-se aliviado.

— Desculpem-nos, mas é a única comida que temos. –Raquel disse apanhando um dos bolinhos. Ela pôs-se a frente de Lucille e levou à sua boca.

— Muito obrigado. –Marcus disse e Helena sorriu, admirando-o. Ela pôs-se em meio as pernas do rapaz e levava o alimento à sua boca.

Marcus estranhou o tratamento que recebia de Helena. Ela despedaçava o bolo em pequenas migalhas e levava uma a uma a sua boca. Ao servir o leite em um copo e também aproximá-lo de sua boca, ela tocou-lhe o joelho e impulsivamente ele comprimiu os músculos da perna, como num espasmo. A garota percebeu sua reação e sorriu. Ele olhou para Lucille e em seguida para Raquel, mas nenhuma delas parecia se atentar a eles.

Ouviram o ranger das cercas e se entreolharam. Marcus pensou que talvez pudesse ser alguém que os ajudaria, porém Lucy estava certa de que seria alguém que ajudaria Ronald a pôr um fim em ambos. As irmãs recolheram os copos e se aproximaram da janela para ouvir melhor.

— Francis. –Ronald cumprimentou-o.

— Ron! Como vão as coisas? – O velho disse carregando um caixote pesado.

— Entre. Precisamos conversar.

Ronald ajudou-o a levar o caixote para o interior da casa e se acomodaram na cozinha. Dentro do caixote havia farinha, arroz, óleo, alguns itens de higiene pessoal e três revistas. O velho retirou do bolso algumas notas de dinheiro.

— Aqui, tome. Comprei tudo o que estava na lista e ainda sobrou isto da venda dos vegetais. –O velho Francis disse estendo a mão com o dinheiro.

— Você sabe que não preciso de dinheiro. –Ron disse e Francis guardou-o de volta no bolso.

— Eu sei, Ron. Só quis deixá-lo ciente de seus lucros.

Ronald sentou-se à mesa e Francis fez o mesmo. O velho fitou a casa e tudo parecia normal, exceto a ausência das garotas.

— Onde estão as meninas?

— Elas já virão vê-lo.

— Certo, Ronald... –Francis disse com estranheza e continuou: — Sobre o que precisamos conversar?

— Tenho dois estranhos presos no quarto da Raquel.

— O quê? –Francis questionou assustado. Havia ouvido muito bem, porém, a surpresa o fizera pensar que talvez houvesse ouvido errado.

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