Outra luz acendeu-se no interior da casa e logo a porta se abriu. Primeiramente a figura de um pequeno revólver foi revelada e logo, segurando-o, uma mulher. Ela era alta, mais alta que Marcus. Mais alta que se colocássemos o gato na cabeça de Marcus. Sua pele era negra e seus cabelos estavam bem presos. Se não estivessem tão apavorados com o revólver, teriam tido tempo para notar que ela parecia madura o bastante para ter cabelos brancos, mas não havia nenhum. Nem um cabelo branco sequer.
— Calma, senhora! Não estamos aqui para machuca-la! Só precisamos de ajuda. –Marcus disse embaraçando-se em suas próprias palavras. Talvez não tivesse a habilidade requerida para raciocinar e falar ao mesmo tempo devido ao desespero que o tomava ao ter aquele pequeno objeto apontado em sua direção.
— Senhora, não. Senhorita. –Ela disse balançando o revólver na direção de Lucy. – Solte o gato.
— Desculpe. –Lucy murmurou soltando o gato. Ela levantou as mãos, deixando claro que era inofensiva. O gato saltou de seu colo correndo diretamente para entrelaçar-se entre as pernas da velha mulher.
A velha abaixou a arma colocando-a dentro de um dos bolsos do roupão que vestia. Ela examinou o casal semicerrando os olhos. Marcus virou-se para trás apenas pare checar se Lucy estava bem. Ela fitou-o com o mesmo semblante desesperado, até que a mulher falou, fazendo-os mirá-la com os olhos prestes a saltar de suas órbitas.
— O que querem em minha propriedade? Por acaso ali está escrito "albergue"? Porque eu só consigo ler "bor-ra-cha-ri-a". –Ela disse ecoando sua voz ríspida e apontou na direção da placa.
— Senhora, nós não queríamos incomoda-la. Pensamos em fazer uma pausa para descansar. Se preferir, vamos embora e te deixamos em paz. –Lucy disse de forma serena e a expressão da mulher pareceu se aliviar. Ela abriu a porta e deixou que o gato fosse o primeiro a entrar.
— Senhorita, droga! –Ela a corrigiu apontando-lhe o dedo. – Senhorita Paterson.
A mulher adentrou o casebre deixando a porta aberta, subentendendo-se para que o casal a seguisse. Marcus se aproximou rapidamente de Lucy, envolvendo-a em um abraço. Ele acariciou seus cabelos úmidos de suor e sussurrou para que se acalmasse, pois estava tudo bem. Havia sido apenas um susto. Ambos olharam para a porta e assim que Marcus apanhou as mochilas, adentraram a casa.
O primeiro cômodo do casebre unia a sala com a cozinha, onde uma mesa de madeira separava os ambientes. Não havia muita iluminação, apenas uma lâmpada pendurada acima do fogão que era o bastante para enxergar que pisavam sobre um carpete, mas não o bastante para distinguir qual era sua cor. Enquanto reparavam nos detalhes da simplicidade das coisas, ouviram a porta do cômodo ao lado se bater e em seguida a mulher apareceu com o que aparentavam ser roupas nas mãos.
— Aqui. –ela disse entregando-as à Lucille. –Tome um banho e se troque, pois você está uma merda.
— Obrigada, Senhorita Paterson. Onde fica... –Lucy dizia, mas a mulher a interrompeu.
— Primeira porta à esquerda. –Paterson disse apontando para o corredor. Lucy balançou a cabeça em um gesto de confirmação e se apressou.
Marcus dividia-se entre olhar o gato que estava deitado no sofá e Senhorita Paterson que parecia o analisar. Ele sorriu brevemente e aproximou sua mão da cabeça do bichano. O gatinho fechou os olhos e aproveitou o carinho que recebia do estranho. Paterson fez uma careta ao vê-lo tentando conquistar o bichano. Ela fitou-o intensamente como se estivesse o medindo. Suas vestimentas surradas, a pele suja. O rosto coberto por uma barba desgrenhada e os cabelos oleosos fez com que ela o desprezasse, considerando-o como apenas mais um jovem que vivia a ilusão burguesa de que viajar pelo mundo é conhecer a liberdade.
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Isolados
HorrorA ânsia pela aventura levou um jovem casal a ingressar numa viagem sem destino. Lucille e Marcus descobrirão o sabor da liberdade e questionarão se sua fantasia em busca do desconhecido realmente valerá as memórias que a viagem lhes trará...