Capítulo 7 - Novas companhias

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Se passou 1 mês depois que Sophie me largou, algumas coisas mudaram outras não, como por exemplo o velho chinês que ficava tocando música em frente ao Marshall's ainda continuava lá, mas eu diria que na verdade as coisas mudaram mais para o meu lado ou posso dizer, o jeito de como eu estava e como estava me comportando. Umas duas semanas depois de minha mãe fazer aquela loucura e ter ido para o hospital, ela recebeu sua alta para ir para casa, mas não foi tão gratificante como nós esperávamos, os médicos entenderam que ela poderia voltar a tentar se suicidar novamente então depois que ela saiu do hospital ela foi internada em uma clínica de reabilitação, e ela iria ficar ali até eles entenderem que ela estivesse boa novamente. Isso foi algo ruim para mim também já que não tinha mais onde morar, como ainda era menor de idade eu não podia morar na minha casa sozinho, merda de leis escrotas, como se algum adolescente fosse fazer festa todo dia, se bem que... Ah deixa pra lá. Queriam me levar para um "abrigo" ou sei lá o que eles chamavam, para mim aquilo lá estava mais para um hospício. Logo na primeira oportunidade, fugi, com minha velha mochila nas costas contendo algumas latinhas de refrigerante e alguns salgadinhos também. Andei, andei e andei até que cheguei no fim da linha, literalmente. Eu fui até as linhas férreas abandonadas de Hills Town e depois eu parei porque sabia que não ia chegar em lugar algum. Tinha ficado de noite, não tinha onde dormir então fui para as linhas de trem da maldita zona industrial, mesmo que eu não quisesse ir para lá, o destino sempre me puxava para o mesmo. O lugar que aliás era bem famoso por ter vários moradores de rua, foi ficando pior a cada instante. Tinha alguns punks lá da área que ia de vez em quando para ficar fumando e ouvindo um som com os amigos, e claro, o lugar também era conhecido por ser um ponto de trafico de drogas um lugar ''perfeito'' se é que me entende.

Nesse 1 um mês inteiro que havia passado eu fui perdendo aquele medo de perder algo ou me envolver com algo que eu achava ''perigoso'' e etc. Digamos que eu piorei drasticamente, virei da rua, me contentava com o lixo e simplesmente não estava nem aí para mais nada.

Abandonei a escola, não tinha mais um porque para eu ir, tirando o fato de que eu teria que ver a cara do Shelton todo santo dia e passar direto por ele. Não o vejo desde o Marshall's e tenho certeza que não me preocupo mais com ele e vice versa, meu nível de amor que tinha por ele caiu para zero, ele era agora, só... Um cara qualquer.

Por outro lado, o que dizer da garota que amei com todas as minhas forças e que depois terminaria comigo no mesmo lugar onde minha mãe estava de repouso. Sophie... Não a via por um tempo também, nem me lembro mais como ela era. Mas pouco importa agora, o que importava é que agora eu estava lá, dormindo todos os dias em um vagão velho esperando minha mãe sair da clínica de reabilitação.

Depois desse tempo eu acabei me deparando com alguns caras que iam lá de vez em quando, não eram aqueles greasers idiotas da escola que iam lá pra tentar transar com as vagabundas e nem os punks da industrial, na verdade os caras eram mais sérios, bem da pesada mesmo, já dava para perceber que eles eram adultos e nem era pela as coisas que faziam. 

Eu nem me lembro como aconteceu mas de uma hora pra outra eu já estava andando com aqueles caras, de dia eu saia com eles para alguns eventos sem medo nenhum e de noite voltava para os vagões abandonados, esse pessoal tinha uma puta gangue, mas os que eu conhecia eram apenas 3 deles que eram os que iam de vez em quando lá nas linhas de trem. O primeiro era o Kurt, um cara alto, ele era tão que eu tinha que levantar minha cabeça para olhar pro rosto dele, e também era tão magrelo que dava pra ver até a espinha nas costas dele, ele tinha um cabelo marrom curto e arrepiado pra cima e tinha uma personalidade de uma pessoa que já matou alguém, sei lá, é só um pensamento, mas nada que eu não temesse. Por mais que os três estivessem usando umas jaquetas de couro iradas eles não eram como aqueles greasers babacas, era como se eles fossem algo mais sério. O segundo se chamava Chester, tinha um jeito meio gótico o cabelo dele mesmo era pintado de roxo e também usava um alargador gigante na orelha, ele me olhava estranho de vez em quando, mas ele até que era um cara bacana. Por ultimo tinha o Dustin, ele para mim era o mais importante até porque foi ele que me encontrou no meio daqueles mendigos enquanto eu já estava pensando em me matar, ele que me introduziu ao bando dele e me ajudou quando eu estava com fome e frio. Ele também tinha um cabelo padrão de greasers sabe?​ aquele cabelo marrom liso jogado pro lado, não era tão alto, na verdade era da minha altura mas ele era um cara bem importante dentre os caras da gangue. Todos eles tinham mais de 20 anos com certeza, eles não me disseram mas estava na cara.

Em um dia de chuva em que eu estava deitado no vagão pensando na minha vida e principalmente na minha mãe, eu já estava com saudade de casa. Eu me lembro até hoje, foi quando fumei meu primeiro cigarro, eu não me encontrava mais, e achei que isso era algo que podia me deixar um pouco mais calmo. Dustin andava se preocupando comigo, não sei porque, já que ele não me conhecia a tanto tempo, mas do mesmo jeito ele ia quase todos os dias lá nos trilhos para me chamar para ir a algum lugar. A chuva não estava tão forte, na verdade era uma garoa fina e salgada, lembro que estávamos sentados em cima do vagão olhando pro céu nublado e deixando a garoa molhar nossos rostos até que ele pegou um cigarro do maço e o acendeu com um fósforo, ele sentia prazer em tragar a fumaça. Eu ficava o observando até que ele olhou para mim e perguntou:

- Ei... quer um ? - Eu fiquei indeciso, não sabia se aquilo era algo ruim ou bom mas a vontade era tanta que tive que aceitar.


- Ahn... Certo, me passa um. - eu peguei e coloquei entre meus lábios com um pouco de receio, Dustin o acendeu para mim e assim que o tabaco começou a queimar já comecei a tossir, aquilo foi horrível de início mas eu fui me acostumando, no mesmo dia eu já não conseguia parar mais.

Algum tempo depois de conhece-los melhor, eles me chamaram para ficar um tempo dentro do porão de uma velha casa que eles usavam para fazer festas ou relaxar um pouco. Logo de cara aceitei, era muito melhor ficar lá do que com os velhos sujos dos trilhos. O porão por sua vez também não era lá essas coisas, mas era relativamente melhor, era só um lugar temporário até eu poder voltar para casa. 

Eu já via aqueles três caras como alguém que podia contar e não mais como apenas conhecidos. Um certo dia eles me chamaram para uma festa, uma igual aquela que fui quando estava com o J.B, e pra ficar mais igual ainda, iria acontecer na zona industrial de novo. Eu já previa que essa festa ia ser louca e ao mesmo tempo perigosa, mas agora eu estava com um pessoal novo e afinal de contas eu já tinha me esquecido quem era aquele Marvo de tempos atrás. A festa se aproximava e eu fui me encontrar com os três perto do local marcado, uma noite um tanto quando agradável e com uma leve cara de chuva foi assim que sai para ir para a festa. 

Chegando lá, o lugar já estava com a vibe que eu achei que ia ter, só grandalhões com mais 25 anos, jaqueta de couro e tudo o que um cara precisa para ser descolado, tinha até uns velhos barbudos de clube de motoqueiros, a barra estava pesada. Cumprimentei os três, eu estava um pouco travado mas o Chester me deu um tapinha nas costas, me deu um cigarro e falou para eu relaxar. Assim feito, se fosse eu a alguns meses atrás iria querer correr para casa mas dessa vez eu estava bem diferente, acendi o cigarro e fiquei curtindo o som que estava tocando enquanto os três se embebedavam. 

Estava tudo tranquilo até que em um momento, uns outros punks babacas metidos a valentões passaram perto da mesa onde eu estava sentado, e eles me reconheceram por alguma coisa, começaram a cochichar enquanto me encaravam até que eu vi um deles usando uma faixa vermelha no braço com a cruz suástica do nazismo e na mesma hora eu percebi que eles eram conhecidos do J.B, fiquei sem saber o que fazer, tentei levantar da mesa e sair de fininho mas eles já estavam ligados e no mesmo momento me cercaram, um deles disse: 

- Ai, você é aquele ruivinho que se meteu com o J.B, tu tá ferrado. - No mesmo instante outro cara disse:

- O J.B sai da cadeia daqui a três dias e a primeira coisa que ele vai fazer é ir atras de você ruivinho. - Eu lembrei novamente do moicano vermelho e o que ele causou na minha vida e isso me impactou. Eu estava jurado de morte pelo moicano vermelho e não tinha nada para tomar providencia. O pior de tudo, é que os três que estavam comigo também ouviram os punks, já que eles falaram praticamente gritando. Dustin logo olhou para mim e disse: 

- Marvo ? Como assim você se meteu com o porra do J.B ? o cara é um dos mais importantes da zona industrial, como você faz uma coisa dessas e ainda mete a gente no meio ? podia ter pelo menos contado essa historia  - Eu não achei que era pra tanto o nervosismo dele até porque o que se passava na minha cabeça é que eu nunca mais iria ver aquele cara de novo então o fato de o moicano vermelho me encontrar era praticamente impossível no meu pensamento.

Eu estava pronto pra levar uma surra ali mesmo dos caras mas o dono do estabelecimento era estritamente rígido quanto a brigas então eu conseguir sair impune. Dustin, Chester e Kurt começaram a me xingar já que eles não queriam mexer com o J.B e de certa forma eu ''os arrastei'', com certeza eu não ia ser bem-vindo no porão que eu estava dormindo de novo então depois da festa eu acabei adormecendo em baixo da ponte da cidade. Meu passado me condenava mais uma vez e eu comecei a sacar que a coisa iria ficar realmente séria daqui alguns dias. 





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