Um suspiro pode significar muitas coisas, boas ou ruins, o meu suspiro era na verdade uma mistura de alívio com ansiedade. Eu era um pobre garoto que tinha dentro de si o desejo de contar a verdade mas não podia porquê ninguém iria acreditar. Eu estava a deriva, perdi aquele que me fez outra pessoa, simplesmente porque eu menti, mas eu o fiz para me proteger de terceiros, e nessa aventura de usar Shelton como escudo a meu favor, acabei me entendendo com o coadjuvante da história.
Era uma tarde ensolarada, tudo o que eu queria era me reconciliar com Shelton mas acho que essa seria uma missão bem difícil de ser completada. Eu sabia onde ele estaria neste dia, o nosso ponto de encontro de depois da escola, a lanchonete do Marshall. Ele provavelmente estava muito triste então a única coisa que provavelmente iria fazer era afogar sua tristeza em uma banana split ou alguma outra guloseima.
Se eu não voltasse a me entender com Shelton eu não ia saber o que seria de mim, depois de uma longa adolescência chata ele era o meu único propósito na vida porque foi ele que me fez olhar para o mundo com outros olhos, eu não ia perder a oportunidade de ter uma verdadeira amizade mesmo vivendo uma "mentira" supostamente, isso tudo para mim foi bem real.
Então ali estava eu, caminhando em direção a lanchonete tentando imaginar como ia ser quando eu chegasse. Avistei a lanchonete depois de dar algumas pernadas, abri a porta, logo deu para se ouvir o barulho do sininho de quando alguém entra no lugar, um lugar singelo sem muitos enfeites e etc, mas era isso que fazia o lugar ser tão aconchegante, e é por isso que eu gostava desse lugar. Olhei para a esquerda depois para a direita e não conseguia encontra-lo lá, mas depois de adentrar um pouco mais eu o vi, lá estava ele tomando um sorvete como eu já suspeitava. Não hesitei, cheguei perto dele e falei como quem não soubesse de nada:
- Parece que este sorvete está bom... Baunilha ? - De primeira eu achei que ele iria olhar para trás para ver quem era mas não... Shelton já sabia que era eu pela voz, e então nem virou seu rosto. Ele continuou comendo o sorvete enquanto me respondia:
- Você não cansa ? - Disse ele aborrecido, e ainda completou:
- 5 meses... Então quer dizer que por cinco meses um idiota chamado Shelton foi usado como um escudo porque um outro idiota estava com medo de ser pego pela policia. - Enquanto ele falava eu me sentia um lixo, não tinha o que retrucar com ele eu apenas fiquei quieto enquanto ele continuava me atacando:
- Você estava lá naquela noite me vendo ser espancado quase até morte e você teve a cara de pau de vir falar comigo no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. - Ele estava com a cabeça quente demais para me ouvir mas eu tentei falar com ele mesmo assim:
- Shelton, essa não é a verdade... Você só ouviu metade da historia , você não sabe. - Ele me cortou antes de eu terminar a frase:
- A verdade é que você mentiu pra mim por todo esse tempo Marvo, criamos um laço forte de amizade éramos como irmãos, mas no fundo era tudo um conto de fadas para você. Eu to saindo fora, a gente acaba aqui valeu? - Ele falou tudo o que eu não queria ouvir, não queria acreditar nisso... Eu tinha certeza que Shelton ainda sentia algo por nossa amizade se não ele teria me culpado no xadrez, eu sei que tem um motivo que faz ele ainda ser meu amigo, e eu vou descobrir qual é.
Depois de toda a discussão, ele saiu as pressas da lanchonete para não ver mais a minha cara, não adiantava correr atrás dele isso só iria causar mais problemas. Mesmo triste sobre o assunto, minha vida ainda estava correndo e eu não podia ficar lá parado só olhando pro céu, eu tinha assuntos pendentes para resolver com Sophie, eu não dei mas nenhuma noticia depois que fui levado para o xadrez. Então mandei uma mensagem de texto para ela me encontrar na frente da minha casa.
A noite foi chegando mais uma vez. Eu andava pela calçada sozinho olhando para as estrelas e pensava comigo mesmo ''Quando isso vai ter um fim?'', acabei perdendo o único amigo que eu tive por causa de mim mesmo, eu até que queria culpar o moicano vermelho mas... Não, eu comecei isso, e eu também devo terminar. Agora eu tinha que me explicar para Sophie, falar o que aconteceu e tudo mais, dessa vez eu vi a verdade, se eu quisesse colocar um fim em tudo isso, eu não podia mais contar com a mentira.
Quando cheguei em casa, ela não estava lá me esperando como sempre fazia, eu me perguntava por quê que dessa vez ela não estava lá. Suspirei bem alto, olhei pra frente e entrei em casa já que não valeria a pena ficar ali do lado de fora esperando ela vir.
Entrei em casa, as luzes estavam apagadas algo que não era comum porque minha mãe sempre ficava a essa hora no térreo dá casa seja na cozinha ou na sala ela sempre estava por ali, achei estranho então logo subi as escadas para ver se ela estava no quarto talvez estivesse passando mal e resolveu ir dormir um pouco. Nessa hora em que tudo estava deslanchando para mim e eu pensei que não poderia ficar pior, na verdade ficou. Eu me lembro detalhadamente desta cena, minha mãe já estava triste a um bom tempo por causa da morte de meu pai e por causa que a vida estava difícil já que era apenas nós dois. Ela tentou se suicidar com remédios e eu a encontrei estirada no chão junto com uma caixinha de pilulas e um copo. Minha reação foi de desespero, ela era única, eu sabia que não dava muita atenção, mas não queria que ela partisse assim como meu pai partiu.
Eu a balancei, tentei acorda-lá de qualquer forma, ficava gritando ''mãe'' sem parar mas ela não acordava e o jeito foi chamar os paramédicos, disseram que iriam chegar entre 10 a 20 min e nesse tempo eu deitei no chão ao lado dela e aí comecei a pensar sobre a minha vida e as coisas que fiz. Shelton, Sophie, J.B e todos as outras pessoas que passaram na minha vida eram apenas passagens na minha história, as pessoas que sempre estiveram comigo e me criaram desde o começo, eu deixei morrer.
Ficava me mexendo pra um lado e para o outro, estava quase dormindo quando eu ouvi o barulho da ambulância, finalmente iriam tomar conta da minha mãe. não podia deixa-lá sozinha e então fui junto para quando acordasse eu estivesse lá segurando sua mão.
Depois de tudo, os médicos disseram que ela estava bem e que não corria risco de morte e que só ficou apagada porque era um efeito natural desmaiar quando se toma muitos comprimidos. Ela estava deitada na cama e eu sempre ao lado olhando para ver quando ela ia acordar. Mas parecia que a vida colocava um peso enorme nas minhas costas porque sempre acontecia algo ruim que me destruía quando eu estava feliz, e naquele momento eu estava feliz porque sabia que minha mãe iria ficar bem. Até que, surge uma sombra no vão da porta, era uma pessoa, ela bateu na porta do quarto do hospital em que eu estava com minha mãe, não tínhamos parentes então estranhei, fui em direção a porta e quando abri para minha surpresa era Sophie com uma cara estranha e algumas flores nas mãos. Minha reação era de alegria porquê eu não tinha visto ela desde a história da delegacia, mas ela não demonstrava a mesma reação em seu rosto.
Depois que a vi disse:
- Sophie! - e parti para dar um abraço apertado nela, mas ela foi estranha:
- Marvo, Desculpe mas não estou aqui para isso, precisava falar com você pessoalmente mas não sabia que sua mãe teve um derrame ou o que quer que tenha acontecido com ela. Aliás, Estás flores são para ela. - Ela estava mesmo chateada com alguma coisa, tinha rejeitado meu abraço e sequer conseguia olhar em meu rosto. Depois que ela deixou as flores ao lado da minha mãe ela finalmente olhou para mim como se fosse dar uma declaração, e então disse:
- Marvo, sei que você está num momento difícil por causa de sua mãe mas eu não posso esperar mais para falar isso. Acabou entre eu e você, não é por mal, eu consegui um bolsa numa universidade da Austrália e eu vou morar por um tempo com a minha família lá, sinto muito. - Senti um vazio tão grande dentro de mim que me senti um completo lixo, primeiro Shelton, depois minha mãe e agora Sophie. Todos ao meu redor iam me abandonando aos poucos e eu só fui perceber no final da história. Não consegui responde-lá de tão surpreso que fiquei, sentei na cadeira com os olhos esbugalhados quase chorando enquanto a minha esquerda eu via minha mãe deitada numa cama de hospital porque tentou se matar e a minha direita eu via a garota que tanto amava indo embora para sempre.
''Essas feridas que tentam se regenerar não conseguem mais, porque em meu corpo só encontro feridas abertas que não param de crescer.''
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A Verdadeira Amizade
Novela JuvenilSeu nome é Marvo, um garoto ruivo da Inglaterra de 16 anos que está de mal com a vida, quando ele entra no ensino médio acaba sendo procurado pelos greasers, os valentões da escola Saint Davis, mas quando ele precisa tomar uma decisão difícil o rumo...