Depois daquela madrugada de mais um voo pelo centro da cidade, Julieta adquiriu competência para seguir alto, além dos pontos de observação na zona portuária. Voos longos seriam propostas para Antônio, cujos argumentos eclesiásticos seguiam à risca os rituais naquele momento, no Vaticano: eliminar os demônios que se alastravam na cidade, que num passado recente servira de inspiração para os livros de Machado de Assis.
Na mesma madrugada, os observadores da imponente igreja tiveram um encontro, no subterrâneo, com o Mestre que desaprovara uma pessoa sobrevoando todo o cais do porto em horário impróprio para ronco de motores.
“Mantenham-me informado sobre algum novo episódio do gênero. Nossa missão deve continuar”, alertava o Mestre. Os seguidores aprovavam as ordens sem nenhuma objeção. Havia mais de cinquenta seguidores, reunidos numa área do tamanho de um campo de futebol para jogos profissionais, como do Maracanã. Um lugar imperceptível à luz de curiosos e, principalmente, de jornalistas.
Lisa perseguia algum indício de novos ataques de serial-killers. Entretanto, o editor-chefe apostava numa onda de crimes motivados pela junção de religião e banditismo, com máfias de pastores em igrejas de fachada para lavagem de dinheiro e muito mais.
A repórter investigativa, muito sábia quanto aos exageros do editor, apurava bastante o que, realmente, definia algum indício de crime motivado por falsas promessas espirituais. Apostava que a pauta do chefe não passava de uma pitada de sensacionalismo para vender jornal, apesar de o jornal O Estado desprezar receitas sensacionalistas e afins. Posso estar errada disso. Que preconceito achar que o jornal O Estado é sensacionalista. As vendas fazem parte do dia-a-dia. Sem vendas, o jornal não sobrevive.
Na ponta de um iceberg de notícias-bomba, a delegacia (na chefia de Américo Fonseca) podia entrar a qualquer momento para a lista de aparições bombásticas na imprensa. Américo fazia questão de evitar tais aparições, para que não ficasse vinculado ao estrelato pela prisão bem-sucedida de algum famoso bandido.
Mas havia um setor, naquela delegacia, responsável pela segurança no centro da cidade, viciado em distribuir informações sigilosas a jornalistas com fome de escândalos. Américo sabia disso, e adotava o estilo engole sapo: o indivíduo que prefere fingir que não existe nada de errado com a vida alheia, desde que o errado não prejudique a corporação policial.
Américo gritava, repreendendo os liderados, quando algum detetive ultrapassava o bom-senso em até dar entrevistas a programas de baixo nível na televisão. Até que, nos últimos tempos, nenhum policial tivera a coragem ou chance de ser requisitado para alguma entrevista.
Lisa dava muitos plantões em delegacias por causa da condição de repórter investigativa. O relacionamento com as fontes (informantes) nem sempre era amigável. O jogo de interesse, para a fonte que às vezes quer manipular a informação, existe em muitos casos. Portanto, mantinha-se distante de qualquer aproximação mais íntima com as fontes, para evitar constrangimentos futuros na execução de reportagens. Dava créditos às fontes que apresentavam provas concretas (documentos) para comprovação de denúncias. Tinha muitos exemplos, para relatar algum dia num livro, sobre colegas de trabalho que foram processados por falta de provas em reportagens que incriminaram personalidades políticas. A delegacia, no comando de Américo, possibilitava ótimos documentos para boas reportagens. A jornalista contava com a excelência do detetive Júlio Messias, um amor de pessoa quando se tratava em ajudar jornalistas éticos.
Júlio pertencia ao grupo de introvertidos, que alimentavam jornais sérios. Desprezava o sensacionalismo na imprensa que vive das misérias humanas. Confiava no jornal O Estado por causa da bela Lisa, uma paixão platônica. Faltava coragem para declarar o amor pela repórter. Um dia teria coragem. Enquanto a coragem não chegasse, Lisa precisava saber de mais informações importantes.
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Santuários do Vampiro - volume I
VampireOs assassinatos em série crescem, atingindo mais e mais mulheres indefesas, mendigos e prostitutas no Rio de Janeiro. Até a polícia não escapa dos ataques. Policiais desaparecem sem deixar rastros. Embora vampiros atuem nesse cenário, outro demônio...