CAPÍTULO 4

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Lisa encontrou dificuldades, a princípio, para fazer algumas perguntas simples a funcionários de escolas de samba. Tentava entrar em áreas muito restritas para curiosos.

    Jornalistas não seriam bem-vindos, de jeito nenhum.

    Imaginava que tivesse liberdade plena para diálogos amisto­sos sobre o dia-a-dia nos barracões de composição de fantasias e carros alegóricos para desfiles no carnaval.  

    “Lisa, eu cobri alguns carnavais. Sei que esse povo é muito sério pra evitar o vazamento de informações preciosas”

    “De que tipo de informação você está querendo dizer, Lima?”

    “Segredos de carnaval guardados a sete chaves, Lisa. A dis­puta pelo campeonato carnavalesco é muito acirrada. Os carna­valescos não gostariam de saber que suas obras de arte caíram em mãos alheias”, explicava Jairo Lima, repórter da editoria cultura, especialista em carnaval.

    “Como eu posso chegar até esse pessoal? Mas evitando cons­trangimentos para eles?”

    “Qual a pauta, Lisa?”

    “Assassinatos no cais do porto”

    “Assassinatos nos barracões das escolas de samba?”

    “Mais ou menos, Lima”

    Jairo sabia que Lisa não descansaria enquanto ele a despre­zasse. Essa mulher vai ficar mordendo o meu calcanhar se eu não dar todas as coordenadas do samba pra ela de uma vez.

    “Lisa, pega leve com o pessoal do samba. Eles são muito le­gais. Escândalos atrapalhariam o desenvolvimento das escolas de samba”

    “Lima, você está falando com uma repórter investigativa de primeira linha. Tomarei muito cuidado para evitar constrangi­mentos para inocentes. Ou não somos bons jornalistas para con­fiar um no outro?”

    Jairo, às vezes, hesitava concordar com Lisa ou qualquer ou­tro colega de trabalho sobre a profissão. Ele havia abraçado o jornalismo para estar mais próximo da produção de cultura e, no entanto, acabara frustrado ao ter que escrever de acordo com a Indústria Cultural. Tornara-se um fabricante de produtos (enlata­dos culturais) para consumidores atentos a novidades apenas para o consumo em massa. Raras vezes emplacava textos que o seduziam pela estética literária. Agora, Lisa pedia uma força para invadir o espaço dos produtores de carnaval, um bem cultu­ral que mantinha suas raízes culturais nos morros e comunidades pobres do Rio de Janeiro. Ele temia que alguma reportagem sensa­cionalista desestruturasse os amantes do carnaval.

    “Lisa, fale com o carnavalesco Lilico. O Lilico vai lhe dar abertura lá na escola de samba que ele colabora”

    Naquela tarde de muito trabalho para o pessoal das editorias de polícia e cidade, Lisa e Jairo conversavam na área do café, onde muitos funcionários aproveitavam para descansar mãos e olhos fatigados de computadores.

    Às vezes, fofocas esquenta­vam as conversas.

    Apesar de Lisa escrever para a editoria Polícia, possuía mais liberdade de tempo, para que pudesse dedicar-se às investiga­ções, que podiam surtir ótimas séries policiais e prêmios de jor­nalismo.

    Próximo da redação de O Estado, Julieta seguia de táxi para um tour pelo centro da cidade. A primeira saída como se fosse uma turista conhecendo os principais pontos turísticos. Estraté­gia ditada por Antônio, que enviava tais relatórios via e-mail para os superiores no Vaticano.

    Lisa procurou, naquele mesmo dia de conversa com Jairo, aproximar-se do carnavalesco Lilico, carnavalesco muito res­peitado na Cidade do Samba. Restringiu-se à maquiagem de turista (muito banal em filmes norte-americanos, reconhecia isso, até gostava do espírito de Hollywood), para despistar quaisquer indícios de ser enxergada como ‘urubu’, apelido rele­gado a jornalistas mal vistos como comedores de carniça (ou aproveitadores da desgraça alheia).

Santuários do Vampiro - volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora