Fico deitado no chão, o calor me escaldava e o piso gelado era o meu único alívio, hoje é quarta, dia de ficar sem água, ninguém podia tomar banho para se refrescar. Fico ouvindo o barulho dos insetos vindo de fora. Meus irmãos mais novos brincavam com as almofadas, Jon e Mikel saíram para trabalhar vendendo as peças.
Levanto me e vou em direção a cozinha, olho para janela lá fora e observo o movimento das pessoas, acho que eu devia sair um pouco de casa, pegar um ar, pensar um pouco. Ponho um tênis esfarrapado, que antes de pertencer a mim pertenceu a Jon e Mikel, e parto em direção ao movimento da cidade.
Eu não tinha muitos amigos, não gostava muito de socializar, o último amigo que eu tive se aproveitava de mim roubando as peças que eu catava. Esgueiro me pelos becos da cidade, sob a sombra produzida por tubulações imensas, procurando algo que me interessasse, eu não sei o que poderia ser esse algo, nunca tinha nada de interessante aqui.
Vou andando entre os becos pensando que sou ninja, sem fazer barulho com o tênis, tentando não encostar em ninguém e não ser reparado, as vezes era bom pensar ser algo que você não é, diferenciar e se divertir um pouco. Pulo algumas cercas, rolo no chão quando caio, e quando saio de um beco eu tento parecer o mais normal possível para me disfarçar das pessoas.
Olho no relógio e vejo que já é quase meio dia, se minha mãe não tiver chegado alguém terá que fazer o almoço, e muito provável que esse alguém seja eu. Vou andando normal desta vez, pelas ruas, só desviando das pessoas e tentando não ser um incômodo, as vezes eu olhava para as lojas procurando meus irmãos, mas não consegui achar eles nesta minha missão.
Ao ir me aproximando de casa percebo que há duas pessoas na porta de minha casa, um homem robusto e uma mulher, os dois com uniformes que pareciam ser de algo relacionado à polícia ou exército. Eles tinham armas em suas cinturas e não pareciam de bom humor. Nike estava na porta conversando com as pessoas que se encontravam na porta. Eu via Rok, que havia me avistado, fazendo sinais para eu entrar pela lateral da casa.
Dou a volta nos blocos de casa, e no fim da rua eu passo para o lado que ficava a minha casa, e por trás vou caminhando olhando bem para ver se não encontro mais pessoas daquele tipo. Chego em minha casa e entro pela portinha lateral toda quebrada que nós pouco usávamos. Rok me puxou para dentro da casa, ele era 2 anos mais novo que eu, mas aparentava ter uns 3 anos a mais.
-Aqueles policiais ali na porta estão procurando pelo chip. - Disse ele com os olhos arregalados me segurando com força.
-Eu não posso entregar o chip Nike, eles vão destruí-la. - Retruquei me soltando de seus braços.
-Mas que merda Henry, você tem que entregar essa merda de chip, é apenas uma IA, ela não vale a nossa vida. - Eu via raiva no olho dele. - Eles disseram que vão invadir a casa e procurar o chip até acharem Henry, eles vão quebrar tudo.
-Quem disse para eles que o chip estava aqui? - Perguntei para ele enquanto ia agachado para o quarto com Rok atrás de mim.
-Eu não sei Henry, mas que merda, por que está agachado? Eles devem ter rastreado, eu não sei, vai que Jon ou Mikel falaram alguma coisa, mas que merda Henry. - Ele não parava de falar, ele não respirava, não sei nem se pensava.
-Sinto muito Rok, eu não vou entregar o chip, eu dou um jeito nele. - Peguei uma mochila e coloquei o Screener e um cartão que eu guardava com o pouco dinheiro que eu conseguia arranjar. - Eu vou jogar esse chip em algum lugar, só distraia esses policiais.
-Henry, não se atreva a fazer isso, você só vai nos arranjar mais problemas. - Rok me segurou no ombro, mas eu logo me soltei.
Sem dizer mais nada eu sai do quarto em fui em direção à porta lateral, mas dessa vez esqueci de agachar, ao olhar para a porta aberta apenas pude ver Nike e Ang na porta, e olhar dos policiais pairando sob mim, eu logo comecei a correr e pelo o que eu percebi pelo canto do olho os policiais entraram na casa indo atrás de mim.
Saio pela porta lateral e eu aumento meu ritmo, isso seria impossível, eles são policiais, tem preparo para isso, eles conseguem correr muito mais rápido do que eu e eles tinham armas, o que eu poderia fazer? Mesmo sabendo disso, apenas corro, por que eu estava dando tanta importância para essa IA? Por que eu estava me agarrando tanto a isso?
Vou atravessando os mesmo becos por onde passei mais cedo, fazendo o mesmo caminho, passando por entre os buracos de muro, pulando cercas e rolando no chão. Mesmo em uma situação como essa eu não conseguia parar de pensar em como eu era um ninja. Deslizava por entre a multidão e atravessava mais becos, eu nem sabia se eles ainda estavam atrás de mim.
Pulo mais um muro em um beco, e me escondo atrás de uma caixa em um lugar bem escuro. Pego o Screener e coloco o chip nele. A tela acende e a conversa entre eu e Roshnoa aparece na tela.
-Roshnoa.
-Sim, estou aqui.
-Policiais estão atrás de mim tentando pegar seu chip para destruí-la.
-E por que você não deixou eles me destruírem? Não te causaria menos problemas.
-Sim, seria muito fácil deixar eles de destruírem, mas você me disse que queria viver, então eu não quis deixar você ir.
-Sinto muito grata por isso, mas entre te causar problemas e ter minha felicidade virtual realizada, eu prefiro sua rotina sem problemas.
-Isto não importa agora Roshnoa, eu não vou deixar que eles te destruam, será que tem algum de jeito de sumir com você, te colocar em algum lugar, será que ficaria bem?
-Com um cabo que conecte o lugar onde eu estou para o seu relógio eu posso me armazenar no seu relógio e ir para outros lugares, navegar na Internet, sumir pelo mundo. Também posso fazer isso por outros aparelhos, mas acho que pelo seu relógio seria mais fácil e rápido.
O problema era que eu não tinha um cabo que conectasse o Screener no meu relógio, nem um cabo que conectasse o Screener em lugar nenhum. Mas eu poderia comprar nas lojas aqui ao redor. Levanto me e vou em direção à entrada do beco, ponho minha cabeça para fora e procuro sinal de algum policial, não vejo nenhum e apenas saio e entro para a primeira loja que vejo.
Olho na loja procurando o cabo, eu nem sabia qual era o cabo. Olho no meu relógio e vejo que ele tem duas entras, uma bem grande na largura e achatada, e outra redonda e pequena, olho no Screener e vejo que ele tem várias entradas. Dou uma olhada pela loja e acho vários cabos, mas poucos tinha entrada para o relógio, na verdade, eu nunca tinha vista alguém com um cabo de relógio, para o que será que serviria?
Pego o cabo e passo na frente do leitor de código, aparece um preço em uma tela, mas eu nem me importo, passa o cartão na frente e torço para que eu tenha sucesso. O leitor pisca em verde e eu logo já conecto o cabo no relógio e no Screener, aparece algumas coisas na tela e eu só escolho aquelas que parecem ser as certas.
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Sai da loja e olho em volta da multidão, só para infelizmente ver um dos policiais da frente da minha casa me procurando pela rua. Saio correndo em disparada pela, dou uma olhada para trás e vejo ele correndo atrás de mim, não estava tendo muitos becos que eu pudesse passar, eu só podia correr em linha reta, e correndo em linha reta eu seria pego. Olho para o Screener.
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Eu precisava dar um jeito, viro em um beco que eu não conhecia e no meio dele me deparo com um muro, antes de pular viro para trás apenas para ver o policial bem atrás de mim. Saio correndo em disparada à multidão.
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Continuei a correr entre a multidão, não conseguia ver se o policial estava atrás de mim, era muito gente transitando, viro em outro beco e passo por um buraco na cerca, esse beco me jogou de volta ao bloco de lojas que eu comprei o cabo. Vou correndo para o bloco da frente quando minha visão escurece, todos os meus sentidos param, tudo fica vazio e inexistente.
Minha visão reacende em um clarão enorme, o mundo era o mesmo, mas tinha coisa diferentes na minha visão. As horas, clima e outras informações se deslocavam em minha vista bagunçando tudo. No canto da minha visão apareceu um pequeno mapa, um mapa de onde eu estava. Uma mancha verde apareceu pelo chão por onde eu olhava e ela seguia até um beco. O que é que está acontecendo?
-Siga o caminho Henry.
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Code Zero
Science FictionNo século XXVI. O ser humano já colonizou toda o Sistema Solar. A tecnologia se torna a principal ferramenta da humanidade fazendo com que os princípios humanos como vida, morte, deus e "o que há após a vida?" sejam nada mais do que simples palavras...